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Ciências da Religião: 10 anos de experiência acadêmica na UFS

Por Cicero Cunha Bezerra*

Em agosto de 2013 a Universidade Federal de Sergipe recebeu, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o parecer favorável à criação de um Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião na UFS. Era a consolidação dos esforços realizados em oito anos de debates, cursos (lato sensu) e eventos promovidos pelo Grupo de Pesquisa em Ciências da Religião (GPCR/UFS). Tratava-se do quarto Programa em Universidade pública no Brasil. Na ocasião, reinava uma completa ignorância que permanece, em grande medida, até os dias atuais sobre uma área que, na Europa, teve seus inícios nos finais do século XVIII associados, precisamente, à modernidade.

 

Foi a partir do pensamento crítico moderno que a religião deixou de ser apenas um assunto de filiação a uma determinada fé e passou a ser tomada como objeto de investigação e construção social até ganhar, no final do século XIX, na Alemanha, estatuto de área acadêmica com, em um primeiro momento, o aparecimento dos estudos comparados de religião tendo, entre outros, Max Müller (1823-1900) como um dos seus pioneiros.

 

No Brasil, os primeiros cursos em Ciências da Religião foram instituídos na região Sudeste nos anos setenta. Em 2016, uma Portaria da Capes substituiu a área Filosofia/Teologia, com então 47 anos de existência, por Ciências da Religião/Teologia. Essa alteração possibilitou, além da autonomia entre Ciências da Religião e as áreas da Filosofia e da Teologia, um novo horizonte acadêmico envolvendo quatro subáreas temáticas que são: Epistemologia das ciências da religião, Ciências empíricas da religião, Ciência da religião aplicada e Ciências da linguagem religiosa.

 

Em todos esses campos, ao contrário de uma visão superficial que busca reduzir a área a um exercício de “teologia disfarçada”, o fenômeno religioso é tratado em seus aspectos epistêmicos, simbólicos, éticos, ritualísticos, artísticos, ou seja, mantendo, portanto, as diretrizes originárias dos estudos modernos que consolidaram as Ciências da Religião como uma abordagem oriunda dos esforços críticos em torno do exercício exegético bíblico e das reflexões comparadas das religiões, bem como, análises focadas na distinção entre o que pode ser objeto de pesquisa acadêmica e o que extrapola as possibilidades de conhecimento.

 

Priorizando uma metodologia interdisciplinar, qualitativa e quantitativa, os trabalhos dissertativos, produzidos ao longo desses dez anos de atividades em Sergipe, servem de amostra do valor acadêmico do PPGCR como espaço de reflexão e produção de conhecimento. Contando com um corpo docente qualificado, com formações nas áreas de Filosofia, Sociologia, Antropologia, Teologia, Ciências da Religião, Psicologia e Educação, o Programa produziu, até o presente momento, além de diversas atividades locais e regionais, 52 dissertações de mestrado focadas em várias tradições como o cristianismo, budismo, candomblé, cripto-judaísmo, pentecostalismo, espiritismo, Islamismo, entre outras. É importante destacar que algumas das dissertações foram publicadas sob formatos de capítulos ou livros autorais.

 

Enfrentando dificuldades, próprias de novos cursos, como o ainda reduzido número de professores participantes, o PPGCR vem crescendo, sempre dialogando com o Núcleo de Graduação em Ciências da Religião da UFS, em suas metas de inserção na região Nordeste, em particular, no campo do chamado Ensino religioso. Disciplina que, em si mesma, não tem relações legais com a área das Ciências da Religião, mas que, dada a importância e necessidade de reflexão sobre a sua implementação no Ensino fundamental e conteúdos, muitas vezes reduzidos ao proselitismo de uma só visão religiosa, algo que fere o espírito da Lei (LDB 1997), essa disciplina tem despertado o interesse e o debate sobre em que medida licenciados(as) em Ciências da Religião poderiam ser profissionais capacitados(as) para ministrar aulas de forma coerente com o que expressa a Lei.

 

Nesse sentido, ações de professores junto à Assembleia Legislativa de Sergipe (ALESE) e à Secretaria de Educação do Município buscam articular uma maior possibilidade de integração entre licenciados em Ciências da Religião, comprometidos com a diversidade religiosas e o ensino das religiões de forma respeitosa e plural, e ensino em rede pública.

 

Atualmente, o PPGCR mantém dois Grupos de Pesquisa que são: Correlativos- Estudos de cultura e religião (GPCOR) e OBSERVARE – Expressão religiosa, imagem e som. Mediante atividades de pesquisa e extensão, os grupos realizam o trabalho de complementação da formação normal, assim como, de preparação para o ingresso na Pós-Graduação. É importante ressaltar que o PPGCR mantém Edital anual para alunos especiais e regulares, assim como, para professores(as) que desejam pesquisar e produzir atividades em Ciências da Religião.

 

Em 2024, ano em que se comemorará a entrada da primeira turma de mestrandos(as), março de 2014, o PPGCR iniciará uma Agenda de atividades que englobará eventos de pesquisa e extensão visando divulgar as produções acadêmicas dos docentes e discente. Se para determinadas pessoas religião é assunto somente de família, para os que compõem o campo das Ciências da Religião é muito mais. Assim como a arte, a política, a ciência, a religião é parte constitutiva da sociedade e, enquanto tal, não pode ficar de fora dos interesses acadêmicos. Religião se discute sim! O que não se discute é a fé de cada fiel, nem os pressupostos últimos que fundamentam as verdades que nutrem cada expressão religiosa.

 

Os esforços por uma abordagem ampla e, portanto, não circunscrita a uma área apenas, como poderiam ser as análises da Teologia, Filosofia da Religião, Psicologia, Sociologia, Antropologia etc., mais que uma opção metodológica, é um exercício sempre presente de não reduzir o fenômeno religioso, nem o conhecimento acadêmico, a um olhar limitado que desconsidera as contribuições que os diversos campos de saberes, inclusive não institucionais, podem aportar para uma visão mais criativa e produtiva na compreensão das práticas religiosas.

 

Diante de um contexto brasileiro em que algumas religiões assumiram protagonismos em diversos âmbitos sociais, nada melhor que um convite a que estudemos com seriedade suas estruturas e discursos sempre movidos pelos princípios da laicidade, liberdade e rigor acadêmico. Parabéns à UFS que abraçou, desde o primeiro momento, a criação dessa área em solo sergipano. Ainda há muito o que fazer, mas como bem afirmou o poeta espanhol Antonio Machado: “caminhante não há caminho, o caminho se faz ao caminhar”.

 

Para maiores informações sobre o Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião basta acessar o site dos Programas de Pós-graduação da UFS pelo site www.sigaa.ufs.br . Algumas atividades já realizadas podem ser vistas no Canal Youtube pelo link: https://www.youtube.com/@PPGCRUFS .

 

* Professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia e do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Religião (UFS).

Notícia cadastrada em: 24/08/2023 16:32
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