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LEONI RAMOS SOUZA NASCIMENTO
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ATORES SOCIAIS POLITIZADOS DA COMUNIDADE SURDA BRASILEIRA: análise de discursos polarizados de cárater político-ideológico sob o viés da abordagem sociológica e comunicacional do discurso
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Orientador : CLEIDE EMILIA FAYE PEDROSA
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Data: 22/05/2024
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Tese
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Este estudo tem por objetivo geral analisar as múltiplas representações dos atores sociais, membros politizados, nos discursos oposicionistas que testificam a cisão político-ideológica entre os membros da comunidade surda em direita e esquerda, entre os anos de 2021 ao primeiro bimestre de 2023, durante o governo de direita, concretizadas no espaço midiático. Para tanto, apresenta-se uma discussão em torno do contexto da polarização político-ideológica impulsionando a mudança sociodiscursiva de atores sociais, que denominamos membros politizados da comunidade surda, a arena discursiva, os epítetos, os desprestígios e a visível influência ideológica, maximizando um distanciamento do que imaginamos como uma luta igualitária de uma minoria linguística numa sociedade majoritariamente de pessoas não surdas. Esta investigação está alinhada a um aprofundamento teórico da Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2003; Wodak, 2004), sob o viés da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, a partir de uma retextualização de Bajoit (2006), que, por sua vez, auxilia na identificação de questões concernentes às Lutas por Reconhecimento, à Comunicação para a Mudança Social e aos Tipos de Poder presentes nos discursos oposicionistas, a fim de refletir sobre as relações assimétricas, tais como abuso de poder, exclusão social, manipulação social, intolerância religiosa e outros tipos de preconceito. Quanto à proposta de análise sociodiscursiva, respalda-se na Gramática Sistêmico-Funcional para legitimar linguisticamente as análises. Essa área dos Estudos Linguísticos está fundamentada nos estudos funcionalistas de Halliday (1985, 1994), que facilita compreender os recursos do uso da língua, elegendo algumas categorias de análise, entre elas as do sistema Avaliatividade. A pesquisa está situada em um paradigma qualitativo-interpretativista, inserido no procedimento metodológico da Análise Discursiva Textualmente Orientada (Magalhães; Martins; Resende, 2017). A pesquisa em ACD tem caráter transdisciplinar e permite diálogos epistêmicos com as teorias sociais críticas para a construção de um campo de estudo profícuo que abarque estudos como este, que envolve Estudos Surdos e Estudos Decoloniais. A referida pesquisa busca revelar os mecanismos de construção simbólica naturalizados por meio dos modos de operação da ideologia (Thompson, 2009, 2011) e como o conceito atores sociais é representado categoricamente a partir dos eventos discursivos destacados nas plataformas digitais. Os resultados demonstram que, no marco temporal da polarização político-ideológica analisada, em virtude dos discursos oposicionistas, a tese aponta a contradição da visão patológica, preconceituosa, sobre a surdez, enfatizando que os discursos oposicionistas protagonizam as múltiplas representações epistemológicas, que se configuraram como verdadeiras arenas discursivas, polemizadas, evidenciando claramente as tensões discursivas entre membros politizados de uma mesma minoria linguística nacional.
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KLEYSE GALDINO FRANCISCO
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UM GESTO ARQUEOGENEALÓGICO E ÉTICO NO ENSINO DE ESCRITA: A AUTOFORMAÇÃO DO PROFESSOR
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Orientador : MARIA LEONIA GARCIA COSTA CARVALHO
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Data: 25/04/2024
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Tese
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Este texto é fruto de pesquisa de doutoramento em Linguística, mas é também consequência de uma inquietação docente: “como ser professor que ensina escrita?” Na prática de ensino de língua materna, observo o controle e a resistência em relação ao ensino de escrita, ao passo que me identifico como professora desse ensino. Eu me vejo restrita pelas forças de regimentos, de editais e de formalidades que a academia e a cientificidade impõem para escrever e para ensinar, como também, enquanto formadora de discentes que desejam e se obrigam a escrever para si, para a escola ou para participar de um exame. Contudo, também, entendo-me resistente a esses controles quando os discuto e analiso as relações de poder a eles pertinentes. Problematizar as relações de poder, a sociedade disciplinar, a sociedade do controle, os regimes de verdade, as linhas de força e de subjetivação através do ensino de escrita é o que me move nesse momento para promover uma autorreflexão e potencializar a memória dos professores, seu fazer pedagógico, como uma prática de autoformação ética. Com Foucault (2010), apresento uma história descontínua, “uma ontologia do presente”, aproveitando o ensino de escrita como dispositivo, observo o sujeito que se constitui professor nesse processo. Por isso, o objetivo principal desta tese é caracterizar as subjetivações que envolvem o professor de Língua Portuguesa em sua prática de ensino de escrita, especialmente nos anos finais do ensino básico. Nesse sentido, reconheço “ensino de escrita” como dispositivo sobre o qual são apresentados diversos discursos (FOUCAULT, 2010). São objetivos específicos desta tese: a) apresentar aspectos históricos e teóricos do processo de ensino de escrita; b) identificar regimes de verdade, linhas de força, linhas de subjetivação e práticas de si que envolvem o ensino de escrita; e c) problematizar a autoformação do professor de língua materna. Para atingir esses objetivos, desenvolvi uma pesquisa bibliográfica e de campo, na qual o objeto principal de análise são os enunciados de professores que ensinam Língua Portuguesa e minha própria narrativa, que são descritos e analisados sob aspectos teóricos da História do Ensino de Línguas, sob a ótica da Linguística e da Análise do Discurso. É uma escrita de mim; um trabalho arqueogenealógico e ético que pode ser reconhecido como um trabalho de Linguística Aplicada, por seu conteúdo indisciplinar (MOITA LOPES, 2006). É preciso pensar, para além da formação contínua do professor, um cuidado de si, que pode se dar pela escrita de sua própria história.
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FABIANA LISBÔA RAMOS MENEZES
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A TRAJETÓRIA DAS PAIXÕES EM RELATOS DE PROFESSORES SOBRE VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR SOFRIDA POR DISCENTES
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Orientador : MARCIA REGINA CURADO PEREIRA MARIANO
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Data: 25/03/2024
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Tese
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A violência intrafamiliar é um fator que torna crianças e adolescentes ainda mais vulneráveis. É nesse sentido que este trabalho tem como base relatos docentes que expõem uma das muitas situações de violência que são percebidas na escola. Diante da importância da família e da escola no desenvolvimento e na proteção desses sujeitos em formação, este estudo pretende analisar como professoras e professores, na condição de auditório, são afetados emocionalmente por confidências de seus discentes sobre casos de violência intrafamiliar. O objetivo é analisar as paixões identificadas em relatos de docentes sobre casos de violência intrafamiliar sofrida por discentes, consoante as etapas da Trajetória das paixões: disponibilidade, identificação, despertar da paixão, mudança de julgamento e ação. Esse procedimento tem como referencial teórico os estudos desenvolvidos por Figueiredo (2018, 2019, 2020) a partir da obra Retórica, de Aristóteles (2015), dos estudos na Nova Retórica, de Perelman e Olbrecht-Tyteca (2014) e Meyer (2000, 2007), no que se refere à afetividade no âmbito da família e da educação, com Spinoza (2009) e as relações de poder que geram vulnerabilidade, sob a ótica de Butler (2017), Foucault (1995) e Feito (2007), outras produções que se apresentam. Os relatos, enquanto corpus de análise, foram solicitados através de questionários, em reunião de professores, que escreveram sobre suas experiências na interação com os discentes. O procedimento para obtenção do corpus deu-se através da aplicação de questionário semi-estruturado, com questões dicotômicas e a solicitação do relato de experiência. Os resultados sinalizaram que a paixão da confiança é a primeira a ser despertada, pois desta depende a interação entre discente e docente sobre o caso de violência que, na medida em que é revelada, desperta a indignação. Indignação e medo são as paixões mais recorrentes nos relatos. Essa conclusão possibilitou propor a noção de paixões impeditivas, que vem a ser as paixões que impedem a ação pretendida e levam a deliberações baseadas na piedade, no temor e na impotência. Observamos que foi possível identificar as paixões vivenciadas pelos docentes e compreendê-las no percurso persuasivo, no âmbito da Trajetória das paixões e em um contexto social que vai além da educação, que é a proteção da vida.
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FÁBIO LEANDRO ANDRADE RIBEIRO
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POLÍTICAS LINGUÍSTICAS E DIREITOS LINGUÍSTICOS NA COOFICIALIZAÇÃO DE LINGUAS INDÍGENAS: UMA ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS ARGUMENTATIVAS NO PROJETO DE LEI Nº 3.074/2019
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Orientador : RICARDO NASCIMENTO ABREU
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Data: 28/02/2024
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Dissertação
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Desde o ano de 2002, com a promulgação da lei municipal nº 145/2002, no município de São Gabriel da Cachoeira/AM, o Brasil presencia um crescente movimento político-linguístico de norte a sul do seu território, a respeito da política de cooficialização de línguas. A chamada lei gatilho tornou-se modelo replicável em diversos municípios brasileiros e o movimento tem produzido efeitos glotopolíticos tanto para línguas indígenas, como também para línguas de imigração. Atualmente temos 22 línguas cooficializadas em âmbito municipal, 13 autóctones e 9 alóctones. Nessa mesma perspectiva, em 2019 é apresentado na Câmara dos Deputados o projeto de lei 3.074/2019 que dispõe sobre a política linguística de cooficialização de línguas indígenas nos municípios brasileiros que possuem comunidades indígenas, o primeiro que visa à cooficialização em âmbito federal. O projeto, que segue em tramitação, constitui-se objeto de interesse para esta pesquisa por duas razões: por tratar-se da gênese de uma política de cooficialização – ainda não é uma política, mas um projeto para que venha a ser instituída – e por pretender-se uma política em nível federal – as que foram promulgadas até o momento são municipais e apenas uma no âmbito estadual. Nesse prisma, propomo-nos a analisar estratégias argumentativas no processo de cooficialização de línguas indígenas nos municípios brasileiros a partir do PL 3.074/2019, buscando identificar quais as estratégias argumentativas que são desenvolvidas na materialidade linguística do PL e com que finalidade essas estratégias foram postas na propositura legislativa. Dado o caráter multidisciplinar do campo de estudo da Políticas Linguísticas, que dialoga com a Linguística e com a Política, com a Sociologia e com a Sociolinguística, e sobretudo com o Direito Linguístico, recorremos a variadas fontes bibliográficas, no intuito de embasar nosso estudo com os distintos conceitos pertinentes ao tema, bem como no ensejo de alcançar os objetivos traçados. Assim, nossas reflexões sobre políticas linguísticas estão ancoradas em Calvet (2007), Spolsky (2016), Johnson e Ricento, (2013), Ribeiro da Silva (2013), Severo (2013), Silva e Severo, (2019); as discussões específicas sobre a política de cooficialização são corroboradas por Morello (2015), Oliveira (2015) e Abreu (2016, 2018, 2020, 2022) que, além de refletir sobre a cooficialização, é nossa principal fonte acerca do campo do Direito Linguístico. No cerne do nosso trabalho, as estratégias argumentativas fundamentam-se, principalmente, em Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014), mas encontramos suporte também em Reboul (2004) e Mateus (2018). Para além desse estudo bibliográfico, a pesquisa é conduzida sob um método de abordagem interpretativa de natureza qualitativa a partir de informações advindas de documentos públicos em tramitação no Congresso Nacional. Portanto, o corpus da pesquisa constitui-se da materialidade discursiva em torno do projeto de lei, a saber, o texto da lei em si e sua justificação, como também os pareceres das três comissões que analisaram o projeto até o presente momento. Por fim, cremos que a pesquisa traz contribuições tanto para um ativismo político-linguístico que se volte para a promoção da justiça social, como também para com o campo de estudo das Políticas e Direitos Linguísticos que ainda carece de estudos que fundamentem e orientem a gestão linguística.
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LUCIANA NOVAIS MACIEL
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AS TRILHAS SOCIAIS DA ESCRITA DE SI NA FICÇÃO DE ALINA PAIM
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Orientador : CARLOS MAGNO SANTOS GOMES
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Data: 28/02/2024
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Tese
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Esta tese defende a hipótese de que a “escrita de si” é uma das características de resistência de Alina Paim diante das exigências do PCB de uma literatura socialista. Constatamos essa premissa a partir dos romances Estrada da Liberdade (1944), Simão Dias (1949) e Sol do meio-dia (1961) de Alina Paim, verificando a construção dos enredos e das personagens, procuramos esclarecer a relação existente entre as memórias da autora, os desafios enfrentados pelas personagens e a trajetória da escritora no processo de elaboração das narrativas. Defendemos, portanto, a tese de que os romances selecionados para o corpus desta pesquisa transitam das marcações autobiográfica ao realismo social intimista, partindo da perspectiva que suas obras traduzem tanto aspectos da "escrita de si", quanto ao realismo socialista da década de 1950. Verificamos como essa escrita intimista foi sendo trabalhada no texto de Paim, iniciando com Estrada da Liberdade e sendo retomada e reelaborada em Sol do meio- dia, se desdobrando a partir da protagonista escritora. Buscamos, através desta pesquisa, contribuir para trazer Alina Paim à luz da historiografia, uma vez que houve reconhecimento dos seus escritos através de premiações nacionais, tradução de dois romances para o búlgaro, russo, alemão e chinê a constante atuação da escritora nos espaços literários, sempre presente nos semanários de cadernos de literatura desde a sua estreia. Entremeando os escritos, verificamos a forte influência da militância política também representada através das personagens, dos discursos, das leituras comentadas nos romances, no percurso crítico acerca das relações entre opressores e oprimidos. Refletimos sobre o engajamento da intelectual, que enquanto artista busca a escrita de si autenticada nos romances. Para a elaboração desta tese, buscamos nos ancorar nos seguintes pesquisadores e nas respectivas conceituações. Sobre os estudos da mulher tomamos como aporte teórico Constância Lima Duarte (2003), Elódia Xavier (2012), Mary Del Priori (2004), Ana Leal Cardoso (2009, 2019) e Iracélli Alves (2015), entre outros. Sobre a discussão acerca do engajamento da autoria da intelectual, para tanto tomamos como fundamento teórico os estudos de Edward Said (2005), Michel Foucault (2004) e Jean-Paul Sartre (1948). Remetendo-nos ao estudo da autoficção e da escrita de si a partir dos estudos de Philippe Lejeune (2008), Eurídice Figueiredo (2007), Margareth Rago (2000). A tese está organizada em três capítulos, sendo que no primeiro discutimos sobre o realismo social com um levantamento da fortuna crítica de Alina Paim, traçando um itinerário do feminismo à escrita de si elencados nas narrativas analisadas. No segundo capítulo nos debruçamos sobre a condição da escritora e o engajamento da intelectual na literatura, como também as possibilidades de se colocar no texto, a fim de compreendermos o imaginário da autora em uma “escrita de si” como uma resistência. No terceiro, desenvolvemos o caminho da autoficção, observando o lugar da escrita engajada e do trabalho da intelectual. Nesse sentido, referenciamos a análise e a inserção dos romances de Alina Paim na perspectiva da historiografia da literatura brasileira.
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SAMUEL DE SOUZA MATOS
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A NOÇÃO DE SUJEITO EM LINGUÍSTICA TEXTUAL: PRÁTICAS (CON)TEXTUAIS E IDENTITÁRIAS DAS DISSIDÊNCIAS SEXUAIS E DE GÊNERO
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Data: 28/02/2024
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Tese
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Na sociedade contemporânea, as práticas textual-discursivas digitais expandem disputas sociopolíticas e ideológicas (Van Dijk, 2015, 2018) dos ativismos de dissidências sexuais e de gênero (Colling, 2016; Borba, 2020a). Enquanto arenas discursivas de autorrepresentação online (Barton; Lee, 2015), os ambientes digitais têm perpetuado múltiplas estratégias de estabilização e/ou instabilização identitárias desses sujeitos sociais minoritarizados. Nesse sentido, o estudo do “sujeito”, aliado às questões de “contexto” e de “identidade”, em Linguística Textual (LT), reclama análises textuais que extrapolem a dimensão cotextual e local das atividades enunciativas (Benveniste, 1989, 1995). No âmbito da LT, de vocação inter/multidisciplinar (Koch, 2018), esta tese de doutoramento procurou responder a duas questões de pesquisa: i) que diálogo pode ser estabelecido entre o sociocognitivismo, o paradigma pós-identitário e a noção de “sujeito”, em LT, com vistas ao estudo de (con)textos de dissidências sexuais e de gênero?; ii) que práticas identitárias de gênero e de sexualidade são (re)elaboradas por esses sujeitos minoritarizados perante à cis-heteronormatividade? Por meio de uma abordagem qualitativa (Prodanov; Freitas, 2013), de viés descritivo-interpretativista (Cavalcante et al., 2016), o objetivo da tese foi compreender, à luz do diálogo entre as abordagens textual, sociocognitiva e queer, práticas identitárias de sujeitos de gênero e de sexualidade dissidentes, com vistas à ampliação dos procedimentos analítico-descritivos, em LT. Para tanto, mobilizaram-se noções de sujeito (Cavalcante et al., 2019; Mondada; Dubois, 2003; Butler, 2015), de modelos de contexto (Van Dijk, 2020; Bentes; Morato, 2021) e de prática identitária (Butler, 2002; Van Dijk, 2013), em uma visada processual e integracionista. Por sua vez, o universo da pesquisa abrangeu uma amostra de 64 entrevistas autobiográficas, disponíveis na comunidade epistêmica do Pheeno TV, da plataforma YouTube, entre junho de 2022 e maio de 2023. Assim sendo, foi elaborado um mapa epistemológico-metodológico, a fim de se analisar o corpus constituído (doze entrevistas) com base em dois procedimentos: i) descrição de estratégias linguístico-discursivas; ii) interpretação de processos sociocognitivos, interacionais, culturais, políticos e históricos. Em uma inflexão crítica e ético-política (Rajagopalan, 2003; Ferreira; Rajagopalan, 2016) dos construtos teórico-analíticos e dos fenômenos investigados, os resultados apontaram, em primeiro lugar, para um diálogo multidisciplinar em torno dos conceitos e das perspectivas sociodiscursivas acionadas via processos de assimilação e mestiçagem epistemológicas. Em segundo lugar, as práticas contextuais e identitárias, construídas pelos sujeitos da pesquisa, em seus eventos comunicativos, revelaram, de um lado, o reforço de processos de normalização macrossociais, e, de outro, a fricção com estratégias de desestabilização da matriz de inteligibilidade sexo/corpo/gênero/desejo sexual, mediante uma rede complexa de inter-relações entre corpo, gênero e violência transfóbica, sexualidade e violência bi/homofóbica, raça e racismo, profissão e etarismo, ligados a domínios discursivos familiares, religiosos, educacionais e artístico-midiáticos. Com efeito, predominaram-se significados sociais de estabilidade identitária e reiteração de práticas discriminatórias, em atividades discursivas situadas. Portanto, foi possível contribuir, a partir da abordagem multidisciplinar, para: i) a ampliação do método teórico-analítico de (con)textos e identidades produzidos por dissidências sexuais e de gênero; ii) a expansão da percepção das (re)construções identitárias desse grupo social, em práticas de ciberativismo, enquanto uma das possibilidades de reengajamento das ações sociopolíticas.
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ALEXANDRE SILVA DA PAIXÃO
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Álvares de Azevedo, o mais byroniano dos byronianos brasileiros
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 27/02/2024
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Dissertação
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O inglês George Gordon Byron (1788-1824), popularmente chamado de Lord Byron, emergiu como um dos moldes mais significativos no panorama global do movimento romântico. Durante o século XIX, instigado pelo poeta supracitado, o Brasil testemunhou a ascensão do byronismo, uma moda literária, uma tendência comportamental e um estado de espírito que deixou uma marca indelével na personalidade de uma considerável parte da geração da época. A obra byroniana, imbuída de ironia, sarcasmo, melancolia e orgia, atraiu irresistivelmente os leitores brasileiros oitocentistas. Por conseguinte, esse público se apropriou de fragmentos byronianos, incorporando-os diretamente em suas próprias produções por meio de epígrafes ou de forma mais sutil, a partir da transposição das temáticas aludidas. Dentre esses apreciadores, Álvares de Azevedo (1831-1852), o poeta mais destacado da segunda geração romântica brasileira, foi um leitor voraz das obras do autor inglês, cujo contato resultou em diálogos com várias obras de Byron como Cain: a mistery (2019), Childe Harold’s Pilgrimage (2019), Don Juan, Manfred: a dramatic poem (2019), Mazeppa (2019), Sardanapalus: a tragedy (2019) e The Corsair (2019), mencionando-as em toda sua produção. É válido citar que foram identificadas dezoito epígrafes na obra azevediana oriundas desses trabalhos. Diante disso, o escritor brasileiro é considerado o mais byroniano dos byronianos da literatura nacional. Com isso em mente, esta pesquisa tem o propósito de desvelar as motivações que levaram o poeta brasileiro a citar abundantemente o autor inglês e como essas referências se entrelaçam com os textos azevedianos. Com o anseio de atingir esse objetivo, a pesquisa se fundamenta na literatura comparada, uma abordagem que envolve a confrontação de literaturas de diferentes origens com o intuito de elucidar questões literárias, valendo-se dos vieses dedutivo-indutivo e analítico-interpretativo. À vista disso, este projeto encontra suporte principalmente em críticos literários como Alves (1998), Grieco (2000), Candido (2000), Cavalcante (2009), Freire (2010) e Oliveira (2011), que tratam da presença byroniana no poeta romântico. Além disso, fundamenta-se nos estudos de Lima (1979), Carvalhal (1994), Coutinho (1994), Sant’anna (2008), Brunel (2012) e Nitrini (2021), que abordam as concepções de Literatura comparada e Estética da recepção.
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JONAS JANDSON ALVES OLIVEIRA
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ESTUDANDO O BREGAFUNK: a vanguarda pós-mangue é o beat
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Orientador : VANDERLEI JOSE ZACCHI
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Data: 27/02/2024
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Tese
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O Bregafunk surge em Pernambuco como um gênero musical que resulta da hibridização das outras duas vertentes que compõem sua nomenclatura. Atualmente é considerado pela lei n° 16.044 uma expressão cultural do estado em que surgiu e, em 2021, um Projeto de Lei proposto e aprovado pela câmara municipal de Recife reivindicou a sua elevação ao status de patrimônio imaterial cultural da cidade de Recife. No entanto, apesar desse reconhecimento por parte do aparato estatal, o gênero em questão ainda está envolto em discussões controversas atreladas ao meio acadêmico, à intelectualidade vinculada à tradição inventada da pernambucanidade e a sociedade em geral, principalmente, porque seus membros frequentemente recorrem a letras que objetificam o público feminino e disseminam discursos com conotações sexuais. As experiências vivenciadas pelo autor da tese enquanto professor de Língua Inglesa no Ensino Médio de uma instituição pública federal, por outro lado, trouxeram à tona algumas questões em torno da temática ao ponto de despertar o interesse por uma investigação mais profunda sobre o tema. Nesse ínterim, alguns questionamentos surgiram: não estaria o Bregafunk entre as inovações que surgem no terreno das relações sociais, mais especificamente nas manifestações artísticas por meio da música, e ganham tamanha dimensão que passam a assumir o status de movimento social? Seriam as letras de suas canções o único objeto de estudo do campo linguístico a ser levado em consideração ao tentar traçar um perfil desse fenômeno? A negação da corporeidade potencializada pela sua dança não seria apenas mais uma forma velada de negar as epistemologias que emergem do sul em detrimento do saber positivista? As indagações dispostas anteriormente encaminharam este trabalho para a defesa da tese de que o Bregafunk é uma vanguarda que surge como consequência do esgotamento das possibilidades de ineditismo e ruptura com a tradição no contexto do Manguebeat ao passo que passa a ser interessante ao Estado abraçá-lo como forma de suplantar as vozes do movimento que o precede. Uma vez que as suas letras são ainda um ponto crítico e controverso, o Beat (a produção sonora do Bregafunk em si), assim como o seu estilo próprio de dançar, chamado de “passinho dos malocas”, passam a ser os principais elementos de difusão do gênero como produto de exportação de uma “nova” pernambucanidade.
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JOSE VICTOR SOARES ROCHA DOS SANTOS
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LEITURA MÍTICO-SIMBÓLICA DO HERÓI NA OBRA O LADRÃO DE RAIOS
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Orientador : ANA MARIA LEAL CARDOSO
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Data: 27/02/2024
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Dissertação
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O mito é uma narrativa que visa explicar e ressignificar a realidade por meio de símbolos, servindo como uma linguagem que busca transmitir ideias complexas e particulares do inconsciente coletivo. No processo ,ainda que a realidade não aparente estar retratada de modo fiel, de forma alguma é possível reduzir a sua importância, pois através dele é possível elucidar determinados fatos históricos e ações humanas. Neste contexto apontado, esta pesquisa investigou como o protagonista Percy Jackson, da obra O ladrão de Raios, escrita por Rick Riordan (2014), vivencia a trajetória heróica proposta por Joseph Campbell na oba O herói de mil faces, sob a hipotese de que o personagem central parece experienciarpercalços e intempéries próprios desse mito. Isso porque Campbell propôs a existência de um mito comum a toda a humanidade, ou seja, a ideia de um monomito, caracterizado por uma jornada heroica e de transformação, que em muito se assemelha à trajetória relativa ao processo de individuação apresentadado por JUNG, nas obras Psicologia do inconsciente ( 1980) e Os arquétipos do inconsciente coletivo (2000). Portanto, a pesquisa buscou responder questões sobre como o corpus apresenta o mito e qual a representação do herói apontada por Percey Jackson, baseando-se principalmente na teoria de Campbell, e, quando necessário, nos teóricos Carl Jung, Mircea Eliade, Gilbert Durand, entre outros. Para a metodologia utilizou-se de pesquisa qualitativa com fonte documental e, ao fim da análise, verificou-se que a estrutura da da jornada de Percy segue, em grande parte, os moldes propostos por Campbell, deixando em aberto apenas três passoos (etapas) do montante sugeridos pelo referido teórico, em particular, quanto ao seu retorno.
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NEEMIAS GOMES SANTANA
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ENSINO DE LIBRAS E POLARIZAÇÃO DOCENTE: Um estudo sobre os posicionamentos dos professores na perspectiva da Análise Crítica do Discurso.
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Orientador : CLEIDE EMILIA FAYE PEDROSA
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Data: 27/02/2024
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Dissertação
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Essa pesquisa vincula-se ao contexto histórico, social e político da Comunidade Surda, uma vez que a identidade linguística do indivíduo é constituída a partir da identidade social (QUADROS; KARNOPP,2004). Sob essa perspectiva, esta pesquisa se relaciona com à área da Linguística, através dos postulados da Análise Crítica do Discurso (ACD), principalmente, devido a seu compromisso com os grupos vulneráveis e atenderá ao objetivo geral de analisar os posicionamentos polarizados das vozes presentes nos discursos de professores de Libras (Surdos e não-surdos) que atuam como docentes de Libras em instituições de ensino públicas e/ou privadas. O trabalho dará destaque às vozes dos professores Surdos, que defendem a visibilidade e o protagonismo das pessoas Surdas, o direito à educação e ao ensino de Libras como um dos artefatos culturais dessa comunidade. Atendendo ao caráter transdisciplinar da Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2012), dialogamos com os Estudos Surdos (PERLIN, 2016, STUMPF, 2005, PETIT 2008, SILVA 2008, GESSER 2012, STROBELL, 2008). O corpus desse estudo é formado a partir de comentários de professores de Libras sobre a temática “Ensino de Libras por pessoas ouvintes”, extraídos da rede social Instagram. Examinamos o corpus com base na abordagem metodológica qualitativo-interpretativa (MAGALHÃES; MARTINS; RESENDE, 2017; NUNES, 2021), seguindo o procedimento metodológico sugerido na ASCD (CUNHA, 2021; PEDROSA, 2016, 2018). Para uma Análise Textualmente Orientada, utilizamos a Gramática Sistêmico-Funcional (FUZER; CABRAL, 2014), que se concentra na perspectiva do contexto social de uso da língua. Dos sistemas estudados por esta Gramática, escolhemos as categorias da Avaliatividade proposta por Martin (2004), Martin e White (2005) e Martin e Rose (2003; 2007), concentrando-se, especificamente, no subsistema de Engajamento, que permite compreender a presença de monoglossia e heteroglossia nesses discursos. Com base nos resultados das análises, almejamos apresentar conclusões favoráveis em relação ao ensino de Libras no Brasil e à compreensão do processo histórico-discursivo da educação intercultural e bilíngue para pessoas Surdas no país. Dessa forma, buscamos destacar a importância de uma abordagem que contribua para a construção de uma práxis que promova diálogos reflexivos entre Surdos e ouvintes, reconhecendo a necessidade desse pensamento para a promoção da inclusão e da comunicação efetiva entre esses grupos nas interações sociais, políticas, identitárias e culturais.
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LIGIANNE BARBOSA ROSA DE OLIVEIRA
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O que o QUE sinaliza? Estudo das Relações Retóricas envolvendo a partícula "que" em textos jornalísticos
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Orientador : ROANA RODRIGUES
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Data: 27/02/2024
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Dissertação
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O QUE é uma das palavras da língua portuguesa que possui diferentes classificações e variadas funções gramaticais e, por isso, estabelece variadas relações semânticas e de coerência, também nomeadas retóricas. Sendo assim, nosso objetivo nesta pesquisa é analisar o comportamento do elemento linguístico QUE nas relações retóricas assinaladas no corpus CSTNews, composto por 50 clusters de textos de notícias em português brasileiro. A nossa análise se baseia na Rhetorical Structure Theory (RST) - Teoria da Estrutura Retórica, uma teoria descritiva que estuda a organização dos textos, caracterizando as relações que se estabelecem entre as partes do discurso (Mann; Thompson, 1987). Nesta pesquisa, identificamos e anotamos os elementos sinalizadores que, junto com o QUE, contribuem para a construção dessas relações. Foram anotados cinquenta textos do corpus, o maior de cada cluster. Encontramos um total de 2.514 relações anotadas. Dessas, 289 relações retóricas são estabelecidas com o auxílio do QUE, distribuídas nas relações de Attribution, Comparison, Condition, Contrast, Elaboration, Explanation, Interpretation, List, Non-volitional-result, Same-unit, Parenthetical, Purpose, Volitional cause, com predominância das relações Elaboration e Attribution. Em exemplos de algumas relações, como a elaboration, o QUE aparece sozinho; mas, em sua maioria, há mais algum elemento que o acompanha, construindo a relação retórica, a exemplo de pontuações e verbos. Esta pesquisa traz diversas contribuições para o estudo linguístico, como a colaboração no desenvolvimento do manual de anotação de sinalizadores em RST, além do projeto POeTiSA e o estudo da automatização do texto.
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JAMESON THIAGO FARIAS SILVA
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Da fala egocêntrica como fenômeno argumentativo e problematológico
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Orientador : ISABEL CRISTINA MICHELAN DE AZEVEDO
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Data: 27/02/2024
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Tese
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A pesquisa apresentada nesta tese de doutoramento visa a avaliar as condições de possibilidade de uma leitura do fenômeno da fala egocêntrica - tal como descrito por Lev Vigotski - como um fenômeno argumentativo e problematológico, embora mobilizado por um único locutor empírico. A investigação partiu do pressuposto de que não apenas a enunciação é polifônica, mas o é também a própria atividade psicológica implicada no ato de fala. A linguagem, nesta esteira, seria um instrumento de pensamento e o problema da relação pensamento-linguagem é o problema de considerar certas modalidades do discurso concreto, nomeadas de egocêntricas, como ferramentas para colocar problemas e encaminhá-los. Assim, partindo de uma articulação dos conceitos vigotskianos com o campo da pragmática e da concepção da clínica psicológica como um setting de fala egocêntrica, realizou-se a análise de fragmentos específicos de três sessões terapêuticas, considerando a função egocêntrica das locuções dos analisandos - isto é, a conversação argumentativa analisada não se deu entre analista e analisando, mas entre os diversos enunciadores presentes no discurso egocêntrico do analisando. O estudo foi baseado, fundamentalmente, em pressupostos teóricos e metodológicos da Problematologia de Michel Meyer, em especial nas distintas relações dos enunciados com a interrogatividade formuladas pelo autor, e em seu tríptico argumentativo: enunciados dialéticos, pragmáticos e comunicativos. Os resultados fornecem subsídios tanto para a melhor compreensão do fenômeno linguístico, monologal, da fala egocêntrica, quanto nas funções egocêntricas, problematizantes, do discurso. A fala egocêntrica, a partir dos casos analisados, apresenta-se como um enunciado monologal, porém dialógico, visto que argumentativo e pragmático – isto é, a argumentatividade presente na fala egocêntrica não visa estabelecer um acordo entre diferentes pontos de vista, mas a caracterização concreta, estética, do que está fora-de-questão.
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CAROLINE LIMA DOS SANTOS
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Conflitos linguísticos no jornalismo brasileiro: análise à luz das políticas linguísticas
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Orientador : RICARDO NASCIMENTO ABREU
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Data: 26/02/2024
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Dissertação
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O contato humano, desde a origem da humanidade, é relatado a partir da ocorrência de conflitos que se estendem ao contato linguístico entre duas ou mais línguas no mesmo território. Inicialmente, a diversidade linguística foi considerada pelo campo das políticas linguísticas como um problema das novas nações que precisava ser resolvido, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Diante dos cenários políticos, línguas e falantes foram minorizados, tal como, determinadas línguas alcançaram a ponta da pirâmide hierárquica das línguas, sendo denominadas como línguas oficiais, símbolo de um estado e um só povo. Nessa perspectiva, é intensificado a emergência de conflitos e repressões linguísticas, sendo esse fenômeno a base do trabalho em questão. Dessa forma, o objetivo principal desse estudo comprovar por meio de publicações públicas do jornalismo brasileiro a existência de conflitos linguísticos fomentadas pelas relações assimétricas as quais as línguas se encontram no Brasil, partindo das hipóteses que o país não possui um desenvolvimento ideal sobre política e direito linguístico, bem como, que as divergências linguísticas indicam a negação do caráter multilíngue e plurilíngue do território brasileiro. A base teórica é disposta em dois eixos principais, sendo que o primeiro intenciona desenvolver a discussão sobre a Política e o Direito Linguístico, enquanto campo do saber, mediante as concepções de Abreu (2016, 2018, 2020), Calvet (2021), Jonhson e Ricento (2013), Lagares (2018), Mariani (2004), Severo (2013, 2022), Sigales-Gonçalves (2020, 2022), Spolsky (2009, 2012) e Rodrigues (2022). Seguindo pelo debate sobre conflitos de forma macro e micro, através de contribuições da sociologia, antropologia e linguística, com auxílio de Cardoso de Oliveira (2008), Giddes e Sutton (2016), Jacquemet (2000), Lemos (2021) e Montanari (2013), Darquennes (2015) e Watts (2015), no estado da arte do conflito linguístico e relação com a linguística de contato e de Dubinsky e Davies (2018), McRae (1983), Nelde (1996) e Ninyoles (1989) na categorização dos conflitos. Os procedimentos metodológicos da investigação, apoiados em Godoy (1995), sobre a pesquisa qualitativa-documental, delimita os passos da pesquisa em três fases, que correspondem: a busca de mídias jornalísticas em sites de notícias que expõem situações de conflitos linguísticos, seguida da análise de conteúdo e categorização do conflito observado, através da verificação de quais ações políticas provocaram o confronto, tal como o tratamento dos dados analisados a partir das categorias: participantes, domínio, relação entre o indivíduo e o grupo, a finalidade e objeto do conflito e as tipologias de conflitos linguísticos. Os resultados apontam a confirmação das hipóteses iniciais e que as ocorrências dos conflitos estão diretamente relacionadas à negação de direitos linguísticos.
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CARLOS ANDRE ARAÚJO MENEZES
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EXPRESSÕES DE UMA VINGANÇA ADIADA: O KIT GAY E A MAMADEIRA DE PIROCA COMO MOVIMENTOS PERFORMATIVOS NA LINGUAGEM
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Orientador : VANDERLEI JOSE ZACCHI
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Data: 26/02/2024
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Tese
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A eleição presidencial de 2018 foi profundamente marcada por guerras narrativas em torno de marcadores sociais, como gênero, raça e classe. O Brasil passou a viver sua disputa política compartilhando fake news (Dunker, 2019; Fuks, 2019; Tezza, 2019; Mello, 2020; Santaella, 2020). Em sua grande maioria, as fake news de campanha mencionavam um suposto “kit gay” e uma “mamadeira de piroca”, provocando, dessa maneira, em grande parte da população brasileira um pânico moral e de gênero (Miskolci, 2009) que impulsionou a adesão de muitos brasileiros ao projeto político conservador de Jair Messias Bolsonaro, que, à época, em cumprimento a uma agenda intercontinental, prometia restaurar velhos valores morais da “família tradicional”, bem como barrar os avanços recentes nas políticas públicas que garantiam direitos históricos à população LGBTQIPAN+ (Pesavento, 1995; Petó, 2015; Kuhar; Paternotte, 2017; Leite, 2019). A principal hipótese desta pesquisa é a de que o afeto do ressentimento (Kehl, 2020; Nietzsche, 2020a, 2020b; Giacoia, 2021) mobilizou grande parte da população brasileira a aderir ao citado projeto político conservador. Esta tese teve como objetivo principal investigar de quais formas o ressentimento foi mobilizado em algumas fake news que mencionaram os termos “kit gay” e “mamadeira de piroca”. Por sua vez, como objetivos específicos: 1. Identifiquei as estratégias persuasivas presentes no vídeo “A mamadeira que mudou o Brasil”, situando valores e conceitos morais e ressentimento entre grupos sociais; 2. Comparei os discursos voltados às práticas educativas presentes em algumas notícias jornalísticas que mencionaram o termo kit gay, situando intertextos que compuseram sua rede de significados, e, por último: 3. Investiguei, no clipe musical “Kit gay”, dos Detonautas, quais formas de resistência foram mobilizadas após a campanha eleitoral brasileira de 2018. Para alcance de seus objetivos, o corpus desta pesquisa foi problematizado com Austin (1990), Butler (2015, 2021), Foucault (1994, 2005, 2014a, 2014b, 2017) e Derrida (1991), que, respectivamente, pensaram a linguagem como princípio anti-idealista e desconstruída, como ação dizer-fazer, também como performance. Esses marcos teóricos ajudaram a pensar as práticas discursivas e as ações performativas da/na linguagem, marcando-a como uma instância social viva, situada em práticas sociocomunicativas. Metodologicamente, o percurso escolhido para produção dos dados se ancorou na Linguística Aplicada (LA) mais recente (Pennycoock, 2006; Moita Lopes, 2021, 2023) e no método genealógico (Nietzsche e Foucault). O uso da LA possibilitou diversas intersecções entre os estudos da linguagem e outros campos de estudo e buscou, a partir dessas intersecções, pensar questões que tiveram impactos na vida social. Os resultados encontrados, apontaram para um profundo agenciamento da população brasileira, por grupos religiosos conservadores e pelo forte ressentimento, que culminou na vitória de Jair Messias Bolsonaro em 2018 e cujos efeitos puseram e ainda põem em risco a recente democracia brasileira.
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JÂNIO VIEIRA DOS SANTOS
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MEMÓRIA NA POESIA SENTIMENTAL DE MANOEL CARDOSO
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 26/02/2024
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Dissertação
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Sergipano de Nossa Senhora das Dores, Manoel Cardoso é pouco conhecido da crítica brasileira, embora tenha publicado uma vasta obra entre poesia, romance e contos, além de trabalhos na área da música, do folclore e da educação. Sua literatura, em geral, dialoga com a temática da memória, sendo este o elemento quase que primordial para a construção de uma escrita que dialogue com temas inerentes ao humano. Em grande parte de suas obras, a memória assume papel fundante na relação entre ser e primordialidade, pois em sua poética o eu lírico retorna aos anos dourados da infância do eu para manter-se perto daquilo que o tempo afastou de seu convívio. O mundo contemporâneo é tomado pela poesia cardosiana como ponto de fuga em direção ao tempo da infância. O sentimento de vazio e perda existencial leva o eu lírico a buscar, por meio da memória, o ponto de conexão com sua completude. A relação entre o poeta e o espaço geográfico do Taborda, onde viveu sua infância, elevado ao nível transcendental, mitológico, surge em sua literatura como meio divino, tido como um solo sagrado. Essa relação acerca da consciência do poeta com o que está distante do objeto idealizado possibilita a discussão acerca da poesia sentimental, uma vez que a razão é a marca do poeta sentimental schilleriano, e isso se apresenta no modo como a memória é trabalhada por Cardoso, em sua literatura. Nossa pesquisa busca aproximar a relação entre memória, presente nos versos do poeta brasileiro, com o que Schiller define a respeito de poesia sentimental. Para isso utilizamos a obra Poesia ingênua e sentimental (1991), do filósofo alemão, fazendo uma relação entre a poesia sentimental e a memória, presentes em Subterrâneos do ser (2019), de Manoel Cardoso e assim aprofundar nossa discussão acerca do tema sugerido para investigação. Serviram-nos, ainda, como aportes teóricos e críticos os trabalhos de Paz (1990), (2017); Heidegger (2003); Faustino (1977); Bachelard (2006); Bosi (1990); Staiger (1975), Eliade, (2016), Cassirer, (2013), entre outros, que contribuíram para a compreensão da lírica moderna e a relação entre a linguagem, o mito e a poesia. Por fim, nossa discussão pautou-se no cotejamento entre aspectos presentes na obra de Cardoso e a relação estabelecida entre memória, consciência reflexiva e poesia sentimental.
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MARCIO CARVALHO DA SILVA
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UMA LEITURA DO SIMBOLOGISMO DA CASA NA LITERATURA DE AUTORIA FEMINA: ONDINA FERREIRA E ALINA PAIM
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Orientador : ANA MARIA LEAL CARDOSO
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Data: 26/02/2024
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Tese
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Esta tese trata da representação da categoria espaço nas obras Casa de pedra (1952) e A correnteza (1979), escritas pelas romancistas Ondina Ferreira (1909-2000) e Alina Paim (1919-2011), respectivamente. Concentrando-se na casa como entidade – simbólica e dinâmica – e símbolo – identidade e memória –, analisa-se a passagem da sua pragmática função arquitetônica para a conversão em um elemento vital na construção da trama e na caracterização das personagens Leda e Isabel, protagonistas das obras Casa de pedra e A correnteza, nesta ordem. A hipótese defendida é que, nos romances de Ondina Ferreira e Alina Paim, o espaço não é apenas um cenário para a ação narrativa, mas sim uma interseção significativa entre o ser e o espaço. Dessa maneira, ao longo desta pesquisa, buscamos compreender a natureza da relação simbiótica entre as protagonistas e suas casas. De um lado,por ser o espaço doméstico o lócus das experiências das personagens, evidencia-se as dinâmicas relações entre o lugar físico da casa e a intimidade das personagens. Deoutro,sendo a casao microcosmo que espelha e influencia a personalidade das protagonistas, mostra-se a correlaçãoda organização espacial dos cômodos e os objetos decorativos no interior das casase seu entrelaçamento com a disposição emocional, conflitos e experiências de Leda e Isabel. Esta argumentação é possível mediante a proposta analítica interdisciplinar, a qual vincula-se à topoanálise, com Gaston Bachelard (1988), Ozíris Borges Filho (2007) e Yu-Fu Tuan (2012). Entre os textos consultados para a elaboração desta pesquisa, destacam-se aqueles que tratam da crítica literária defendida por Luis Alberto Brandão (2013), Osman Lins (1976), Antônio Dimas (1985) e Denílson Lopes (2007). Sobre a literatura a crítica feminista contamos com Elódia Xavier (2012), Nelly Novaes Coelho (2002), Lucia OsanaZolin (2003), Ana Leal Cardoso (2010) e Carlos Magno Gomes (2014). E para melhor sustentar a abordagem interdisciplinar, consultamos os teóricos do imaginário a exemplo de Maria Zaira Turchi (2003), Erich Neumann (2021), Mircea Eliade (1992), Jean Chevalier e Alain Cheerbrant (2015), entre outros. A nossa leitura da casa também é reforçada pela antropologia de Gilberto Freyre (2003), Roberto DaMatta (1985) e Marc Augé (1994). Ao considerar os romances destas escritoras, a casa, enquanto entidade e símbolo, atua como horizonte na criação de significados e intersecção entre as personagens e o espaço. Para tanto, Leda e Isabel, o espaço doméstico e seus constituintes são a indicação da expansão desse elemento da narrativa e da inserção de uma abordagem analítica interdisciplinar, traços sobre os quais a literatura de autoria feminina e esta tese mantêm a atenção.
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GENILMA DANTAS ANDRADE
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DENÚNCIA E RESISTÊNCIA NO DISCURSO DE CAROLINA DE JESUS NA OBRA QUARTO DE DESPEJO
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Orientador : MARIA LEONIA GARCIA COSTA CARVALHO
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Data: 23/02/2024
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Tese
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A partir dos fundamentos da Análise de Discurso francesa, esta pesquisa pretendeu examinar, enquanto trabalho em interface - que abriga estudos teóricos provenientes de vários campos do saber - do processo de subjetivação e da discursividade literária acanônica em Carolina Maria de Jesus. Teve como objetivo precípuo realizar uma análise discursiva da obra Quarto de Despejo: diário de uma favelada (2001), que apresentou grande repercussão e êxito no mercado editorial, na década de 1960. Buscou-se analisar, especificamente, o discurso da referida autora como fruto de denúncia e resistência à sua condição de favelada. Os nossos objetivos específicos, por sua vez, são desdobramentos da questão norteadora. São eles: a) situar historicamente o discurso investigado, considerando suas condições de produção; b) identificar, nos discursos em análise, a construção da subjetividade da autora; c) observar, nas práticas discursivas, traços de ativismo político e resistência. Para a realização dos objetivos deste trabalho, o corpus se constituiu, sobretudo, de sequências discursivas retiradas da obra Quarto de despejo: diário de uma favelada, escrita no período entre 1955 a 1960. Os efeitos de sentido de resistência possibilitam que essa produção literária possa ser reconhecida como literatura de enfrentamento social e contribuem, por fim, para a reflexão sobre a ausência de autoras negras em instituições, apontando, portanto, alguns questionamentos acerca desse silenciamento. Esse estudo fundamenta-se em autores da Análise do Discurso francesa, tais como Foucault (1979, 1995, 2009, 2010, 2014) e Pêcheux (1979, 1990, 1995, 1996, 1997, 2014), Orlandi (1998, 1996, 2005, 2012), embora haja também contribuições de diversos autores, a exemplo de Baumann (1998, 2001, 2003) sobre identidade, de Mussalin (2003), Carvalho (2012), dentre outros. As análises apontam que a escrita de Carolina Maria de Jesus é um ato de denúncia e resistência porque, além de revelar a situação caótica pela qual ela e outros moradores da favela passam, rompe com uma formação imaginária de autor branco, classe média, com alto grau de escolaridade, intelectual. O sujeito-autor ao discorrer sobre a “fome da escrita e a escrita da fome”, pela tessitura do poético, atenta para a formação de uma literatura de denúncia e enfrentamento social. Além do mais, ao materializar sentidos, esse sujeito-autor trabalha o interdiscurso no intradiscurso a fim de construir o seu projeto de escritura, trazendo outros espaços para nossa literatura a partir do seu não-lugar na historiografia da literatura brasileira. Portanto, essa abordagem nos permitiu compreender um pouco mais sobre a condição da mulher negra e como se insere no discurso literário em determinado momento histórico.
Palavras-chave: Análise do Discurso, Carolina Maria de Jesus, Quarto de Despejo, Denúncia e Resistência, Gênero autobiográfico.
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DEISE SANTOS DO NASCIMENTO
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UMA LEITURA DA INSUBMISSA ESCREVIVÊNCIA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
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Orientador : CARLOS MAGNO SANTOS GOMES
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Data: 23/02/2024
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Tese
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A literatura afro-brasileira é produzida por escritores/as empenhados/as em resgatar valores identitários e temas próprios do povo negro, como a revisão das heranças racistas do processo de colonização, a exemplo de Lima Barreto, Solano Trindade, Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo, entre tantos/as outros/as. Tais autores/as produzem uma literatura afro-brasileira, pois articulam a memória da diáspora negra na luta pelos direitos humanos básicos e contra a segregação social. Partindo dessa temática, a presente tese faz um recorte acerca das particularidades de obras afro-brasileiras, dando ênfase ao livro de contos Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), de Conceição Evaristo, a fim de propormos uma abordagem de recepção antirracista. Essa obra é composta por treze contos narrados por diferentes mulheres negras que são ouvidas pela narradora principal que recodifica essas escrevivências em experiências de empoderamento do seu povo na luta contra o racismo. Para debatermos as perspectivas teóricas que dão sustentação às análises, dividimos esta tese em três capítulos. No primeiro, Leitura Literária: da recepção à recodificação - revisitaremos as discussões sobre o lugar do leitor na recepção literária com as abordagens sobre a importância das pistas do texto no processo de interpretação literária conforme W. Iser e U. Eco. Comentaremos as reflexões em torno do letramento literário e de concepções culturais e subjetivas de leitura literária a partir das contribuições de R. Cosson, de C. Gomes, A. Rouxel, entre outros/as. No segundo capítulo, As estratégias da literatura afro-brasileira - vamos identificar as marcas estéticas e ideológicas da literatura afro-brasileira, dando destaque para as particularidades da (de)codificação do racismo na obra de Conceição Evaristo conforme os debates propostos por S. Hall e E. Duarte e as concepções antirracistas propostas por N. Gomes, J. Berth, D. Ribeiro, entre outros/as. No terceiro capítulo - Uma abordagem antirracista das escrevivências - exploraremos estratégias de recepção pela perspectiva social-identitária para propor uma leitura antirracista da obra Insubmissas lágrimas de mulheres, dando destaque ao empoderamento das mulheres negras após sofrerem diferentes formas de racismo. A estrutura dos contos, narrados por diferentes vozes femininas e costurados por uma colecionadora de memórias, fortalece a premissa de que essa coletânea traz as marcas da literatura afro-brasileira engajada com a história do seu povo. Além desses capítulos, a pesquisa está acompanhada de um material didático que propõe a mediação da leitura literária, para contribuir com a promoção de uma educação antirracista seguindo as diretrizes da Lei 10.639/03.
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SANMIRES SANTOS SOUZA
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O PROFESSOR DE INGLÊS EM FORMAÇÃO NA REDE ANDIFES IDIOMAS SEM FRONTEIRAS: um estudo sobre a contribuição da Rede IsF na formação de professores de Inglês
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Orientador : ELAINE MARIA SANTOS
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Data: 23/02/2024
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Dissertação
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O desenvolvimento de um profissional da educação é composto de elementos que vão além do que é trabalhado nas salas de aula da graduação, assim como é proposto pela Constituição Federal (BRASIL, 1988) no modelo de formação que afirma ser indissociável a tríade Ensino + Pesquisa + Extensão. Nesse contexto, programas de formação comempletar desempenham um papel importante na construção de futuros profissionais. A Rede Andifes Idiomas sem Fronteiras (Rede IsF), instituída em novembro de 2019, por meio da Resolução do Conselho Pleno nº 01/2019 (ANDIFES, 2019), após o Programa Idiomas sem Fronteiras ter se desvinculado do Ministério de Educação (MEC), é um desses programas que desenvolvem atividades de formação complementar para professores de línguas nas Instituições de Ensino Superior (IES) Federais e Estaduais no Brasil, destacando o seu foco nos contextos que trabalham com a internacionalização do ensino superior. Diante do exposto, essa pesquisa tem o objetivo de investigar o processo de formação de professores, com foco na internacionalização, conduzido pela Rede IsF, tanto nacionalmente, quanto localmente, a partir das análises das práticas desenvolvidas no Núcleo de Línguas (NucLi) da Universidade Federal de Sergipe (UFS), e sua contribuição para a formação dos alunos de graduação dos cursos Letras – Inglês e Letras – Português/Inglês da UFS. Para tal, analisamos os documentos oficiais que regulamentam o funcionamento da Rede IsF e a proposta pedagógica do curso Especialização em Línguas Estrangeiras para Internacionalização (Rede IsF, 2021); avaliamos como esses documentos influenciam as atividades desenvolvidas no Núcleo de Inglês da Rede IsF na UFS, situadas no contexto da internacionalização; e comparamos o projeto de formação promovido nacionalmente com as práticas conduzidas no NucLi da UFS. Para a realização dessa pesquisa, foi adotada a metodologia qualitativa, do tipo Interpretativista e documental, sendo também aplicadas técnicas de pesquisa do Estudo de Caso, por ser “um tipo de pesquisa que investiga um caso particular constituído de um indivíduo ou de um grupo de indivíduos em um contexto específico (PAIVA, 2019, pg. 65). Como resultados preliminares, é possível perceber as especificidades do modelo de formação de professores centrado na internacionalização, o que justifica aprofundar esse campo de pesquisa, de modo que a base teórica de sustentação para os projetos de formação de professores desenvolvidos pelo IsF tragam as menções às características que o contexto da internacionalização exige, de modo a impactar nas práticas pedagógicas do Professor Bolsista e no desenvolvimento da comunidade acadêmica.
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ELANE DA SILVA PLACIDO
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A REVISÃO DA VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER NO ROMANCE HISTÓRICO
DE ANA MIRANDA E MARIA JOSÉ SILVEIRA
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Orientador : CARLOS MAGNO SANTOS GOMES
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Data: 22/02/2024
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Tese
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Esta tese analisa as obras Desmundo (1996), de Ana Miranda, e A mãe da mãe da sua mãe e suas filhas (2002), de Maria José Silveira, ressaltando as estratégias narrativas do romance histórico exploradas para a revisão da violência contra a mulher no período colonial. Defendemos o ponto de vista de que essa revisão se desdobra como um exercício de reescrita do passado, proporcionado uma versão de empoderamento da mulher, presente nas ações das personagens femininas que transgridem a violência naturalizada pelos colonizadores. Na análise dos romances, daremos destaques para as estratégias narrativas de incorporação do discurso histórico e do posicionamento feminista das narradoras, que problematizam a construção desse gênero ao explorar técnicas pós-modernas de ficcionalização da história a partir da visibilidade do lugar de fala da mulher e do reconhecimento da importância da força do trabalho feminino para colonização do Brasil. Metodologicamente, propomos um debate acerca da relação entre literatura e a história, levando em conta os aportes Peter Burke (2005), Hayden White (1994), Linda Hutcheon (1991), Marilene Weinhardt (2011), Mary Del Priore (2016), entre outros/as; Quanto à análise das diferentes estratégias de controle do corpo da mulher, seguiremos as abordagens da crítica feminista de Simone Pereira Schmidt (2007), María Lugones (2019) e Heloísa Buarque de Hollanda (2018). Além disso, articulamos as reflexões sobre a decolonialidade e a necropolítica para identificar as ações de aniquilamento dos/as colonizados/as seguindo as proposições interpretativas de Aníbal Quijano (2005), Walter Mignolo (2017) e Achille Mbembe (2017), entre outros/as. Este trabalho está dividido em três seções. Na primeira, nossa meta é compreender as peculiaridades estruturais do romance histórico e como ele tem sido explorado pelas escritoras contemporâneas. Na segunda, analisamos o processo de criação a partir das intertextualidades de documentos oficiais e de textos literários do período colonial no entrelaçamento entre história e literatura. Na terceira, identificaremos as marcas feministas do processo de criação das duas narradoras, investigando como elas exploram a necropolítica para denunciar os diferentes tipos de silenciamentos impostos à mulher pelo colonizador como assédios moral e psicológico, cárcere privado, espancamentos, estupro e feminicídios a fim de controlar a família e o povoamento do país. Como resultado, esperamos identificar as particularidades do processo de criação de Ana Miranda e Maria José Silveira, contestando a naturalização da violência contra a mulher na história do Brasil para reforçar o espaço literário como um local de revisão histórica.
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RENATO DOS SANTOS SANTANA
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LETRAMENTOS DIGITAIS E DECOLONIALIDADE NO LIVRO DIDÁTICO DE INGLÊS: UMA ANÁLISE NA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SERGIPE
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Orientador : ANA KARINA DE OLIVEIRA NASCIMENTO
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Data: 22/02/2024
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Dissertação
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As mudanças sociais ocasionadas, principalmente, pela popularização das tecnologias digitais têmcontribuído para o desenvolvimento de novos letramentos, com destaque aos letramentos digitais.Isto ocorre, dentre outros motivos, em razão de que nas interações online, a comunicação se dá dediferentes modos, fazendo surgirem novas maneiras de (re/des)construir sentidos.Inevitavelmente, colonialidades que se perpetuam na sociedade são refletidas nos ambientesdigitais. Nesse contexto, é relevante que a educação formal seja capaz de ressignificar essarealidade de maneira crítica, por meio da ação docente e dos livros didáticos. Esta dissertação demestrado foca em mapear, com base nas coleções de livros didáticos de língua inglesa aprovadasno edital do PNLD (Brasil, 2018), publicadas no Guia do Programa Nacional do Livro Didático(Brasil, 2019), a coleção de livros didáticos de inglês voltados ao ensino fundamental anos finaismais utilizada na rede pública estadual de Sergipe, com o objetivo geral de analisar de que formaesses livros apresentam atividades que se relacionam aos letramentos digitais e às questõesdecoloniais na educação linguística em inglês. Para atender a este objetivo, esta pesquisaqualitativa (Paiva, 2019; Nunes, 2021) e interpretativista (Moita Lopes, 1994) ampara-se nasteorias dos letramentos digitais (Lankshear; Knobel, 2011, 2015; Nascimento; Knobel, 2017); nasdiscussões referentes aos livros didáticos (Leffa, 2008, 2016; Rojo, 2013, 2017; Façanha, 2018);bem como nas teorias decoloniais (Sousa Santos, 2018; Castro-Gomez, 2007; Silva Júnior; Matos,2019). Além da análise da coleção mais utilizada nas escolas públicas estaduais de Sergipe, sãorealizados levantamentos bibliográficos e análise documental, considerando a Base NacionalComum Curricular – BNCC (Brasil, 2018) e o edital do Programa Nacional do Livro Didático -PNLD (Brasil, 2018), compondo uma pesquisa de cunho bibliográfico e documental. Pararealização das análises, os dados são codificados com base em Saldaña (2009, 2013) e, por meiodeles, é possível observar como os letramentos digitais são apresentados no decorrer das unidadesque compõem os livros didáticos da coleção selecionada, além de refletir acerca de que forma omaterial didático abre brechas para o trabalho com a língua inglesa a partir de uma perspectivadecolonial, averiguando quais vozes são contempladas, bem como quais são silenciadas e/ouexcluídas. Os resultados principais apontam que, embora as atividades apresentem possibilidadesque se relacionam com os letramentos digitais e a decolonialidade, a problematização fica sob aresponsabilidade do professor, visto que há poucas propostas de aprofundamento dos temastratados neste estudo, letramentos digitais e decolonialidade, nos livros didáticos analisados.
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MAELLE GOMES DE OLIVEIRA
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Soy Latinoamérica: um estudo sobre identidades e representação docente frente à implementação de políticas linguísticas em Sergipe
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Orientador : ELAINE MARIA SANTOS
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Data: 22/02/2024
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Dissertação
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No contexto brasileiro, o ensino de Língua Espanhola é caracterizado por constantes oscilações políticas que impactam diretamente as identidades e representações dos profissionais dessa área (LABELLA-SÁNCHEZ; BEVILACQUA, 2019). Em 2005, a promulgação da Lei 11.161 estabeleceu a obrigatoriedade do ensino de espanhol na educação básica, conferindo ao idioma maior relevância e destaque no cenário nacional. Contudo, mais uma vez, o ensino e aprendizagem do espanhol decai em 2016, com o estabelecimento de uma Medida Provisória (MP- nº 746/2016) e posterior publicação da Lei 13.415/2017 (Reforma Do Ensino Médio); que tornaram a oferta do espanhol, facultativo por parte das instituições de ensino. Posteriormente ao estabelecimento dessas políticas linguísticas e, em resistência a tais ações, surge o denominado “Movimento Fica Espanhol”, uma mobilização que conta com a participação de discentes, docentes e interessados no restabelecimento do plurilinguismo no país. Tal cenário passa a desempenhar um papel de grande relevância para a construção das identidades e representações dos professores/as atuantes nessa área. Logo, inserida no campo da Linguística Aplicada, esta pesquisa apresenta como principal objetivo, analisar os impactos provenientes da inserção de tais políticas linguística para a transformação identitária e, consequentemente, a representação social de docentes que lutam em prol do reconhecimento do espanhol no contexto brasileiro. Para tanto, a pesquisa foi conduzida sob o viés do estudo de caso, a partir da análise de documentos, depoimentos em redes sociais e relatos publicados no livro “A Língua Espanhola na Rede Pública Estadual de Sergipe: Projetos e Saberes Compartilhados” organizado e produzido por membros do movimento Fica Espanhol em Sergipe. Além disso, serão realizadas análises documentais e bibliográficas que fundamentam as ações desenvolvidas ao longo dessa pesquisa. Por fim, tendo em vista o desenvolvimento de reflexões sobre política linguística, baseamo-nos em Calvet (2002, 2007); Correa (2017); Hidalgo e Vinhas (2021); Santos (2022), Souza e Pereira (2016); para debater acerca de identidades e representações serão referenciados Chartier (1991); Hall (2006); Rajagopalan (2003); Santome (2013); e, no que diz respeito ao ensino de espanhol em esfera nacional, nos baseamos em Camargos (2004); Hidalgo e Vinhas (2021); Leffa (1999); Paraquett (2006); Rodrigues (2010); Werner e Sturza (2021). Logo, as reflexões aqui propostas contribuem para os estudos sobre identidades e representações de professoras/es de espanhol no Brasil frente à implementação de políticas linguísticas que resultaram para o apagamento do plurilinguismo, evidenciando como essas políticas moldaram o imaginário social e pessoal do "ser docente de espanhol" na atual conjuntura educacional.
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GABRIELA ANDRADE CONCEIÇÃO
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PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO EM PERFIS DE INFLUENCIADORAS DIGITAIS: UMA ANÁLISE DISCURSIVA SOBRE PROCEDIMENTOS ESTÉTICOS NO INSTAGRAM
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Orientador : JOCENILSON RIBEIRO DOS SANTOS
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Data: 22/02/2024
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Dissertação
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CONCEIÇÃO, Gabriela Andrade. Processos de subjetivação em perfis de influenciadoras digitais: uma análise discursiva sobre procedimentos estéticos no Instagram. 138 f. 2024. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras-PPGL, Universidade Federal de Sergipe. São Cristóvão-SE, 2024.
Esta dissertação apresenta um estudo acerca dos processos de subjetivação de seguidores de influenciadoras digitais, a partir de publicações sobre procedimentos estéticos na rede social Instagram. Este trabalho circunscreve-se na área de estudos linguísticos, particularmente no campo teórico dos estudos do discurso. A pergunta central da pesquisa foi: como ocorrem os processos de subjetivação de seguidores de perfis de influenciadoras digitais no Instagram diante dos efeitos de sentidos produzidos pelas postagens sobre a realização de procedimentos estéticos? Partindo deste questionamento, tem-se como objetivo geral da pesquisa compreender como se dão os processos de subjetivação dos seguidores de perfis de influenciadoras digitais, através de postagens, enquanto discursos, feitas por elas acerca da realização de procedimentos estéticos. Para alcançar tal objetivo, são utilizados como aporte teórico os postulados de Foucault (1995, 2008, 2014, 2023), Pêcheux (2006, 2014, 2019), Gregolin (2001, 2004, 2006, 2011, 2018, 2020), Courtine (1988, 2005, 2008, 2011, 2016, 2023), Sargentini (2012, 2022), Milanez (2007, 2011, 2015, 2021), Karhawi (2016, 2022), Paveau (2021) dentre outros autores, cujas leituras de suas obras são fundamentais para o entendimento e a elaboração da dissertação, sobretudo no que se refere aos estudos do discurso, da mídia e do corpo. Quanto à metodologia, a pesquisa possui abordagem qualitativa, baseando-se no método arqueogenealógico proposto por Michel Foucault, bem como os trabalhos em Análise do Discurso que seguem tais proposições, ao considerar o discurso em sua materialidade semiológica e em seu acontecimento histórico. Desse modo, são analisados discursivamente as imagens, as legendas e os comentários das publicações que compõem os enunciados selecionados para a constituição do corpus, pois os enunciados são compostos por esses três elementos e devem ser concebidos de forma conjunta. No decorrer da pesquisa, nota-se que os processos de subjetivação dos seguidores ocorrem à medida que as influenciadoras digitais edificam, por meio do discurso digital e atravessado pelos discursos médico, estéticos e midiáticos, uma relação de proximidade e intimidade com seus seguidores, de modo a ocupar uma posição-sujeito de autoridade, credibilidade e referência a ser seguida. Percebe-se também a presença de regularidades discursivas nas imagens, nas legendas e no modo como as influenciadoras se dirigem aos seguidores, bem como há regularidades em toda o recorte de comentários dos seguidores ao discutirem acerca dos procedimentos divulgados pelas influencers, características que permitem que esses enunciados ganhem destaque na dispersão dos acontecimentos.
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JULIANA CARDOSO DOS SANTOS
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Construções com verbos de comunicação do português brasileiro e do espanhol chileno: um estudo comparado
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Orientador : ROANA RODRIGUES
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Data: 22/02/2024
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Dissertação
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As Construções com Verbos de Comunicação apresentam um sujeito/ator que emite um discurso/mensagem para um interlocutor/receptor da mensagem. Os verbos que compõem essas construções, Verbos de Comunicação, referenciam ou indicam uma fala/discurso. Existem semelhanças sintático-semânticas entre esses verbos no português e no espanhol, no entanto, nem sempre apresentam o mesmo comportamento, como ocorre com os verbos falar/dizer e hablar/decir. Neste trabalho, fazemos uma análise (e comparação) do comportamento sintático-semântico das construções com os seguintes pares de verbos de comunicação, segundo a tipologia proposta por Pereira (2016): contestarESP/contestarPB, hablarESP/falarPB; responderPB/responderESP e sussurrarPB/susurrarESP; conjugados na terceira pessoa do singular no pretérito indefinido do indicativo, do espanhol chileno e do português brasileiro. Pereira (2016) propõe possíveis contextos em que esses verbos aparecem, como por exemplo: quando o verbo encerra o período todo ou quando o verbo encerra o período todo seguido do nome do ator. A partir disso, verificamos a possibilidade de encontrar essas construções tanto no estilo direto quanto no indireto e identificamos alguns padrões comuns nas duas línguas. Os pares de verbos foram eleitos para esta pesquisa devido às suas características e formas de usos, como já mencionadas por estudos no PB, como em Neves (2011) e em Garcia (2006), no entanto, nem tão exploradas em estudos comparados com o espanhol. Estas construções foram analisadas em corpora comparados disponíveis on-line: Corpus del Español (Davies, 2016a) e Corpus do Português (Davies, 2016b). A partir dos resultados do nosso recorte, encontramos e descrevemos novos tipos de contextos.
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IASMIM SANTOS FERREIRA
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Aos parasitas as batatas
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 21/02/2024
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Tese
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Desde as primeiras letras na imprensa até os romances, Machado de Assis demonstra um interesse pelo parasitismo. Certamente pela leitura de Luciano de Samósata e de seu diálogo O Parasita. Não só se interessa pelo tema, mas também pelos recursos literários da tradição luciânica. Dessa soma de interesses surgem as “Aquarelas” (1859), conjunto de crônicas que apresenta os principais tipos parasitários no país. De Ressurreição (1872) a Memorial de Aires (1908), Machado não perde de vista os parasitas, os que se aproveitam das batatas ou benesses alheias. Por isso, nossa tese tem por objetivo apresentar panoramicamente os ecos do tema, os parasitas do corpo e os do espírito e da consciência nos romances; bem como analisar esse tipo social em Quincas Borba (1891). Para isso, valemo-nos de estudos acerca da personagem, da tradição luciânica e da crítica machadiana. Respectivamente, os principais são: Bakhtin (2002; 2010; 2011), Bergson (2007), Braith (2017), Candido (1970; 2014), Rosenfeld (2014), Segolin (1978), Brandão (2001), Frye (2013), Merquior (1972), Sá Rego (1989), Bosi (2002; 2006), Brayner (1979), Barboza (2022), Dixon (2020), Faoro (2001), Gledson (1991; 2003; 2006), Santiago (2006; 2015), Schwarz (1991, 2012). Em suma, as “Aquarelas” funcionam como uma bússola para a construção das personagens parasitas nos romances e estes são a mostra da expansão desse tipo social, sobre o qual o Bruxo do Cosme Velho não perdeu o interesse ao longo dos anos.
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RAQUEL FERREIRA DA SILVEIRA
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AS ADAPTAÇÕES DA CINDERELA SURDA E O VISUOLEITOR
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Orientador : CARLOS MAGNO SANTOS GOMES
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Data: 21/02/2024
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Dissertação
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A presente pesquisa tem como objetivo propor reflexões acerca das adaptações do conto de fadas Cinderela e Cinderela Surda a partir do debate sobre intermedialidade e visuoleitor, a fim de atualizar os sentidos dessas transcrições. A Cinderela Surda significa uma representação de empoderamento da identidade surda e reforça a visibilidade da Língua Brasileira de Sinais – Libras e a sua cultura surda. Nas versões clássicas, as cinderelas são ouvintes e perdem um dos seus sapatinhos. Mas, na versão surda, ela esquece uma das luvas, que é encontrada pelo príncipe surdo, construindo um novo referencial identitário para os leitores surdos. Usou-se como embasamento teórico abordagens relacionadas à literatura surda desenvolvida por surdos e ouvintes. Entre eles, destaca-se a proposta de Claudio Mourão sobre o poder das mãos na construção da literatura surda e a especificidade do visuoleitor; as discussões metodológicas de Rachel Sutton-Spencer sobre a importância da intermidialidade na produção da literatura surda atual; as sugestões pedagógicas de Lodenir Karnopp sobre os processos de adaptações para o ensino de literatura surda. Quanto à questão da adaptação e da transcriação, serão retomados os debates propostos por Linda Hutcheon e Haroldo de Campos, respectivamente. Cada versão é sempre um diálogo entre autores, leitores e visuoleitores, uma vez que em todos eles ficam vestígios concretos na própria criação e adaptação. Por fim, pretende-se transcriar uma nova Cinderela Surda Contemporânea a partir da intermidialidade para privilegiar o imaginário do visuoleitor nesta nova versão.
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JAKELLINY ALMEIDA SANTOS
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TRAÇOS DE COLONIALIDADES NAS IDENTIDADES SOCIAIS DA GUINÉ EQUATORIAL: UMA ANÁLISE POTENCIALMENTE DECOLONIAL DA OBRA LITERÁRIA YO NO QUERÍA SER MADRE, DE TRIFONIA MELIBEA OBONO
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Orientador : DORIS CRISTINA VICENTE DA SILVA MATOS
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Data: 20/02/2024
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Dissertação
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Neste trabalho, que está inserido no campo da Linguística Aplicada, proponho analisar como as identidades sociais guinéu-equatorianas são representadas na literatura contemporânea e testemunhal banto-hispânica. Para isso, conduzi uma pesquisa documental e qualitativa, utilizei como corpus fragmentos da obra literária “Yo no quería ser madre: vidas forzadas de mujeres fuera de la norma”, escrita por Trifonia Melibea Obono (2019), da República da Guiné Equatorial. O livro é composto por 30 testemunhos de mulheres integrantes da comunidade LGBTQIAPN+, que compartilharam suas vivências fóbicas em seu país. Diante disso, desenvolvi categorias de análise para construção de uma investigação congruente: I) Culpabilização do/a outro/a; II) Enfermidade contagiosa; III) Associação com o pecado; IV) Pessoas indignas de educar; V) Alternativas de cura. A partir dessa delimitação, dialoguei com epistemologias que possibilitaram compreensões heterogêneas sobre esse contexto hispânico do continente africano. Assim, acerca dos Estudos Identitários, recorri ao pensamento de Hall (2014; 2019), Butler (2003) e outros/as. Pensando em contemplar, especificamente, as identidades nacionais da Guiné Equatorial, apoiei-me nos estudos de Kessé e Romaric (2017), bem como nas pesquisas do campo político, literário e identitário desenvolvidas por Salvo (2003), Queiroz (2007), Ndongo-Bidyogo (1977), Mbaré Ngom (2008) e outros/as. Na área dos Estudos Decoloniais, dialoguei com Aníbal Quijano (2005), acerca da colonialidade do poder, Maldonado-Torres (2007), sobre a colonialidade do ser, e María Lugones (2008), com a colonialidade do gênero. No campo do Suleamento, trabalhei com Moita Lopes (2013), Silva Junior; Matos (2019) e outros/as. Além desses, com a intenção de ampliar os saberes identitários, recorri à Interseccionalidade e Performatividade Linguística com as intelectuais Hill Collins (2022), Akotirene (2019), Austin (1990 [1962]), Melo (2022) e outros/as. Por meio desses referenciais teóricos, coadunados ao corpus, observei que a orientação sexual dessas mulheres é associada a naturezas fóbicas, tais como enfermidades, ação demoníaca, satânica ou bruxaria. Notei que mecanismos são utilizados como alternativa de reversão da homoafetiva/homossexual dessas mulheres, a saber: a) ter relação sexual ou manter um relacionamento com um homem cis; b) gestar uma criança ou tornar-se mãe; c) condução ao curandeirismo ou igreja protestante; d) uso da violência psicológica, física e/ou sexual (também conhecido como estupro corretivo). Além disso, a sociedade movimenta-se, desde os setores governamentais aos privados, para limitar o acesso dessas pessoas aos direitos civis básicos, como educação e trabalho. Em detrimento dessas situações, diante da ocupação de um não espaço na sociedade, essas mulheres têm apenas duas alternativas além de constituir uma família heteronormativa: prostituição ou serviço militar. De certo, as identidades sociais que estão em trânsito nessa iterabilidade estão em fragmentação e as diferenças que elas performam em seus atos de linguagem são motivo de rejeição. Assim, com base nas análises, compreendi que as identidades das mulheres guinéu-equatorianas LBT+, segundo a obra literária que apresenta um microcosmo da sociedade, estão em conflito com a identidade nacional – cuja identidade representa a cultura de referência e que contempla em sua essência as colonialidades. Assim, performar heteronormatividades, segundo a norma regulatória do sexo, é um mecanismo de sobrevivência.
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BEATRIZ DE OLIVEIRA MATOS
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OS NOMES DA TERRA SERIGY: DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO GLOSSÁRIO ETIMOLÓGICO DOS NOMES DA LÍNGUA TUPI NA GEOGRAFIA DO ESTADO DE SERGIPE
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Data: 20/02/2024
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Dissertação
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Esta pesquisa analisa aspectos morfossemânticos e extralinguísticos referentes aos 341 topônimos presentes no Glossário Etimológico dos Nomes da Língua Tupi na Geografia de Sergipe, elaborado por Armindo Guaraná (1916), considerando a Toponímia, disciplina que estuda os nomes de lugares, um importante elemento na compreensão e preservação da sócio-história e do patrimônio linguístico-cultural de uma comunidade. A descrição desse corpus, datado não raro de um período pré-colonial, remete à multietnicidade e ao multilinguismo do território de Sergipe, cujo grau de manutenção total e/ou parcial desse léxico toponímico na geografia atual do estado é considerável, em especial da nomenclatura de municípios, rios e de praia. Para um estudo extensivo dessa importante fonte lexicográfica, toma-se como fundamentação teórico-metodológica a Toponímia, a Lexicografia, a História do Português brasileiro e a Geografia e a História de Sergipe, de modo a catalogar e classificar esses nomes de lugares. A classificação do corpus toponímico confirma a interseção língua, cultura e ambiente nesses signos semanticamente opacos, cujas características físico-naturais configuram a hidrografia, o relevo, a flora e a fauna locais, tal qual atesta a literatura (Dick, 1990, 1992; Santos, 2012; 2019; dentre outros).
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JOSÉ RAIMUNDO DOS SANTOS SANTANA
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EXPLORANDO NARRATIVAS MULTIMODAIS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO LINGUÍSTICA EM INGLÊS: uma análise autoetnográfica da prática docente
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Orientador : ANA KARINA DE OLIVEIRA NASCIMENTO
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Data: 19/02/2024
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Dissertação
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O presente estudo é uma pesquisa autoetnográfica que visa analisar as potencialidades e/ou limitações de um trabalho docente ancorado em práticas que envolvem narrativas multimodais digitais na educação linguística em inglês. Para a realização deste estudo, baseio-me, dentre outros, nos pressupostos teóricos que orientam a teoria dos letramentos – mais especificamente dos letramentos digitais (LANKSHEAR; KNOBEL, 2006, 2012,2016; LANKSHEAR; KNOBEL; CURRAN, 2013; NASCIMENTO; KNOBEL, 2017;ZACCHI, 2018; NASCIMENTO; SANTOS, 2020); dos estudos sobre decolonialidade (SOUSA SANTOS, 2018; WALSH, 2013; MATOS, 2019; REZENDE et al., 2020; MENEZES DE SOUZA; HASHIGUTI, 2022), multimodalidade (KRESS, 2010;DIONÍSIO, 2014; ZACCHI, 2016; FAÇANHA, 2018), educação linguística (MATTOS,2018; SIQUEIRA, 2018; ZACCHI, 2018; FERRAZ, 2018) e abordagem ecológica (REYES; IDDINGS; FELLER 2016; IDDINGS, 2018). Partindo do objetivo geral que é analisar as potencialidades e/ou limitações mencionadas, este trabalho tem por objetivos específicos: a) explorar os significados construídos pelo EU professor diante das oportunidades proporcionadas pela proposta de uma educação linguística em inglês; b)estabelecer conexões entre as histórias de vida do professor/pesquisador, a adoção de tecnologias digitais e o desenvolvimento de letramentos digitais no ensino de língua inglesa; c) discutir sobre os sentidos (des/re)construídos pelo EU professor diante da adoção de uma perspectiva decolonial, multimodal e de educação linguística em inglês no processo de elaboração de uma sequência didática; d) refletir sobre como minhas experiências pedagógicas e pessoais anteriores refletem em minhas escolhas e afetam a construção da sequência didática e e) identificar as contribuições do uso da abordagem ecológica na construção do trabalho proposto. O percurso metodológico da pesquisa inclui a construção e análise do processo de elaboração de uma sequência didática idealizada pelo pesquisador para uma escola pública localizada em um município no interior de Sergipe, utilizando a plataforma Storyjumper. Trata-se de uma investigação autoetnográfica, cujos dados são gerados por meio das minhas experiências com a sequência didática, registradas em um diário de campo multimodal criado por mim na plataforma supracitada, no qual os registros constantes, bem como a sequência didática são analisados com base na codificação de narrativas (SALDAÑA, 2009). Por meio deste estudo, constatei que o trabalho com as narrativas multimodais possibilitou identificar as representações, ideologias e colonialidades inerentes às minhas práticas pedagógicas enquanto professor de língua inglesa, assim como envolveu processos de des/re/construções e des/aprendizagens significativas durante a elaboração da sequência didática. Explorar os letramentos digitais, a multimodalidade e decolonialidade revelou-se desafiador diante das minhas limitações ao tentar conciliar teoria e prática; as imbricações e sobreposições das múltiplas identidades evidenciaram um entrave interno no fazer pedagógico; e a abordagem ecológica permitiu reconhecer minha interconexão com o ambiente circundante, como parte de uma rede de conhecimentos e saberes. Por fim, espero que esse estudo contribua para o avanço das discussões acerca do ensino de língua inglesa, a partir de uma perspectiva da educação linguística, da abordagem ecológica e da multimodalidade, bem como contribua para a ampliação do escopo da autoetnografia como metodologia de pesquisa em Linguística Aplicada.
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JULIANA BARBOSA ALVES
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NARRATIVAS DO EU: construção identitária de atores sociais surdos sob as lentes da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso
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Orientador : CLEIDE EMILIA FAYE PEDROSA
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Data: 19/02/2024
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Dissertação
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O povo surdo, ao longo de sua história, como minoria linguística, sofre com a denegação de direitos e a luta pelo reconhecimento desses direitos é uma marca da comunidade surda. Por isso, o objetivo dessa pesquisa é refletir sobre as lutas por reconhecimento de atores sociais surdos, identificadas em suas narrativas do eu, no contexto mais amplo de sua vida educacional, como aspectos influenciadores das (re)construções identitárias e no estabelecimento de mudanças socioculturais efetivas para esta minoria linguística. Para compreender as realizações identitárias do povo surdo ao longo de suas trajetórias de vida, buscamos aporte na Análise Crítica do Discurso, ACD, cujo foco é estudar problematizações sociais e fomentar a denúncia de relações de poder que estabelecem desigualdades aos grupos vulneráveis (VAN DIJK, 2008) com enfoque na Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, ASCD, que centra seus estudos nas mudanças social e cultural (PEDROSA, 2012, 2016, 2018). Atendendo ao caráter transdisciplinar da ACD (FAIRCLOUGH, 2012), dialogamos com os Estudos Surdos (PERLIN, 2016) e a teoria da Luta por Reconhecimento (HONNETH, 2009). O corpus é formado a partir das “narrativas do eu” de alunos surdos do curso Letras Libras da Universidade Federal de Sergipe das turmas de 2018 a 2022. Por se tratar de uma pesquisa de viés social, com aporte basilar na ACD, que ancora suas análises entre o linguístico e o social (PEDROSA, 2018), analisamos o corpus à luz da metodologia qualitativo-interpretativista (MAGALHÃES; MARTINS; RESENDE, 2017; NUNES, 2021), e da etnossociologia (BERTAUX,2010), seguindo o caminho metodológico sugerido na ASCD (CUNHA, 2021; PEDROSA, 2016, 2018). Para atender às análises linguísticas, utilizamos a Gramática Sistêmico-Funcional (FUZER; CABRAL, 2014), cuja perspectiva se centra no contexto social de uso da língua. Com os resultados, esperamos que os discursos dos atores sociais surdos de luta por reconhecimento, contidos em suas narrativas do eu, nos ofereçam condições de refletir sobre os processos de lutas que este povo passou (e passa) ao longo de sua história e sobre a construção e a reconstrução de suas identidades.
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EMÍLY MARIA DOS SANTOS
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Clorose ou doença das Virgens? Edição e glossário onomástico da tese médica do sergipano Antonio Garcia Rosa (1870)
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Orientador : SANDRO MARCIO DRUMOND ALVES MARENGO
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Data: 16/02/2024
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Dissertação
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A enfermidade Clorose foi registrada pela primeira vez em 1554 como “doença das virgens” pelo médico alemão Johanes Lange. Essa doença afetava principalmente mulheres na faixa dos 16 aos 24 anos e seus sintomas manifestavam-se pela ausência de menstruação, distúrbios alimentares e coloração esverdeada da pele, o que lhe designou popularmente outros termos como “doença verde” e “febre do amor” (King, 2005). O objeto de estudo dessa dissertação de Mestrado é a tese médica intitulada Chlorose, defendida em 1870 pelo sergipano Antonio Garcia Rosa (Japaratuba,1943-1977) para obtenção do título de médico pela Faculdade de Medicina da Bahia. Esse documento é uma das primeiras teses escritas no Brasil sobre a Clorose, em um período em que as publicações sobre a doença cresciam de forma significativa na europa, tornando-se referência para as faculdades de medicina no mundo (Carrilo, Bernal, Linares, 2010). Nosso primeiro objetivo consistiu na elaboração, no rigor da Crítica Textual (Cambraia, 2005; Spina, 1990), de uma edição diplomática. A partir da preparação filológica do texto, fundamentamo-nos na Teoria Sociocognitiva da Terminologia (Temmerman, 2000), que postula que os antropônimos científicos podem ser classificados como entidades, atividades e/ou guarda-chuvas, e reconhecendo que esses termos onomásticos não derivam apenas de uma natureza ontológica, mas também de uma perspectiva enciclopédica. Nosso segundo objetivo foi elaborar um glossário antroponímico para descrever categoricamente o conjunto de termos associados à produção científica da Clorose e estabelecer, de maneira intercategorial, as informações contidas nos módulos informativos das unidades terminológicas. Optamos por uma abordagem metodológica que consistiu na elaboração de um glossário seletivo, conforme proposto por Mateus (1995), apoiado em fichas terminográficas sócio-históricas (Teixeira, 2021; Teixeira, Marengo, Finatto, 2022; Santos, 2023). Para aprimorar nosso trabalho, utilizamos ferramentas computacionais, nomeadamente AntConc (Anthony, 2014) e TEXTQUIM (Finatto, 2010). Os desdobramentos, análises e conclusões finais da nossa pesquisa indicaram a necessidade de procedimentos descritivos visando adequar os termos às categorias cognitivas delineadas por Temmerman (2000).
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ALINE DE SANTANA SANTOS
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ARGUMENTAÇÃO NO PRIMEIRO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL: análise de dois livros didáticos de Língua Portuguesa aprovados pelo PNLD/2019
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Orientador : ISABEL CRISTINA MICHELAN DE AZEVEDO
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Data: 08/02/2024
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Dissertação
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O ensino de argumentação no Brasil tem sido direcionado aos anos finais do Ensino Fundamental e ao Ensino Médio, sobretudo em virtude do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e dos vestibulares, acarretando o distanciamento deste campo de estudo das práticas de linguagem nos anos iniciais do Ensino Fundamental. No entanto, crianças pequenas já demonstram propensão para interações argumentativas em práticas cotidianas, por meio das quais começam a construir e utilizar seus primeiros argumentos. Tais práticas indicam para a escola que as crianças possuem bagagem cultural para argumentar e, por isso, é possível haver o aprimoramento de ações que favoreçam a ampliação e o desenvolvimento de suas capacidades argumentativas. Além disso, o trabalho com argumentação é um campo solicitado pela competência geral sete da Base Nacional Comum Curricular, que, na condição de documento normativo, estabelece direcionamentos para as práticas em sala de aula e, também, para a elaboração de currículos e de formulação de livros didáticos, considerados importantes instrumentos de efetivação das disciplinas escolares. Nesse contexto, esta pesquisa objetiva analisar alternativas favoráveis ao ensino de argumentação como prática social de linguagem a partir de materiais encontrados em dois livros didáticos de Língua Portuguesa. Entende-se que o ensino de argumentação nos anos iniciais é relevante por possibilitar o aprimoramento de capacidades argumentativas, o que pode ser iniciado com base nas proposições encontradas em livros didáticos de Língua Portuguesa que estejam vinculadas às práticas sociais de linguagem. Metodologicamente, esta investigação assume uma abordagem descritiva e interpretativista, de caráter documental e natureza qualitativa, que se fundamenta nos postulados da argumentação na interação e no modelo dialogal de Plantin (2008a). O corpus é composto por uma seleção de textos e atividades encontrados nos livros do 1º ano do Ensino Fundamental das coleções Ápis e Buriti Mais, do PNLD/2019, adotadas pelo Centro Educacional Unificado Monsenhor Francisco José de Oliveira (CEU), em Cícero Dantas/BA. Com o propósito de aprimorar o instrumento analítico, selecionou-se a unidade didática 16 da coleção Ápis, denominada Cartaz de campanha; a unidade didática quatro da coleção Buriti Mais, intitulada Eu gosto de animais, cujas perspectivas permitem visualizar possibilidades do ensino de argumentação. A análise foi guiada por um protocolo de análise argumentativa, construído por esta professora/pesquisadora, a partir de um protocolo destinado a avaliar obras didáticas dos anos finais do ensino fundamental da disciplina de matemática, de Couceiro (2020), e do Guia Digital do PNLD, publicado em 2019. Também são propostas complementações para possíveis adaptações e complementações das atividades didáticas, tendo como referência a perspectiva da argumentação interacional, assumida nesta pesquisa. Assim, espera-se que os resultados contribuam com propostas que auxiliem no planejamento de práticas pedagógicas destinadas ao desenvolvimento de capacidades argumentativas desde os anos iniciais, a fim de que possam ser ampliadas ao longo do processo de escolarização.
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JOÃO VICTOR RODRIGUES SANTOS
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Zorba, o livre? A importância da liberdade para o projeto literário-filosófico de Nikos Kazantzákis
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 06/02/2024
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Dissertação
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Nikos Kazantzákis trata de temas universais em toda sua produção literária e filosófica: a morte, a angústia existencial e, sobretudo, a liberdade. Para buscá-la, um caminho seguido pelo autor cretense é o que passa necessariamente pelo valor dado ao corpo e à sua capacidade de significar e apreender o mundo. Nossa pesquisa tenciona debruçar-se sobre aquilo que nos soou como problemático na obra kazantzakiana: a busca pela liberdade. Desse modo, adotamos o seguinte questionamento como nossa questão central: qual o papel da busca pela liberdade para o projeto literário-filosófico de Nikos Kazantzákis? Buscamos investigar Vida e proezas de Aléxis Zorbás, sua obra mais popular e mais traduzida no Brasil, e investigar como podemos pensar a importância da liberdade para o projeto literário-filosófico do escritor, seja através da dança, seja através da tentativa de superação do niilismo. Assim, propomos uma leitura que reflita sobre as relações possíveis entre literatura e filosofia e que investigue Aléxis Zorbás como um arquétipo da liberdade. Adotamos um método bibliográfico exploratório, com foco na investigação literária de Vida e proezas de Aléxis Zorbás, recorrendo ao auxílio de textos críticos, comentadores e/ou teóricos sobre o autor e sobre o romance. Desenvolvemos nossas considerações sobre a questão levantada a partir das contribuições de estudiosas(os) como Brandão (1996, 2001), Bernardes (2004, 2010), Pizarro (2008, 2015), Sartre (2004) e Nietzsche (2016, 2020). Consideramos que, apresentando-nos à vida e às proezas de Aléxis Zorbás, Kazantzákis consegue nos revelar alguns dos elementos que limitam nossa capacidade criativa e, por conseguinte, nossa existência, provocando-nos à reflexão e à busca por liberdade, fazendo-nos ter consciência da responsabilidade que temos por nossas renúncias.
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ROBSON SANTOS SILVA
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A TOPONÍMIA DOS ASSENTAMENTOS RURAIS EM SERGIPE: DENOMINAÇÃO, MEMÓRIA E IDEOLOGIA
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Data: 06/02/2024
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Dissertação
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No processo de ocupação humana de espaços geográficos, a memória e a ideologia seconstituem e se materializam em atos como o batismo dos lugares. Ao analisar os itens lexicais que denominam os 236 Assentamentos Rurais de Reforma Agrária em Sergipe, reflete-se como tais processos se configuram no âmbito da atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, bem como os campos motivacionais que permitem (re)interpretar modi vivendi e cogitandi (n)desses aglomerados humanos. Como aporte teórico, toma-se a Toponímia Crítica, subárea da Onomástica, por meio de fundamentos teóricos emergentes que evidenciam relações identitárias e político-ideológicas, como atestam Vuolteennaho e Berg (2016) e Rose-Redwood eAldernan (2011), sem desconsiderar as contribuições de Dick (1990; 1998). Para a análise quali-quantitativa do corpus, que se deu via pesquisas bibliográfica e documental, composto pelos nomes oficiais e paralelos de 236 Assentamentos Rurais, procedeu-se, com base nas suas sócio-histórias, a identificação dos principais campos motivacionais que refletem uma linha ideológica de esquerda no movimento campesino nacional. As discussões giram em torno de conceitos como topofilia (Tuan, 2012); memória e identidade (Le Goff, 2013; Rossi, 2010; Candau, 2021); e religiosidade e fé (Netto, 2014).
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JOÃO PAULO SANTOS ANDRADE
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COLONIALIDADES NOS DICIONÁRIOS: QUANDO AS MARCAS DE USO NÃO SINALIZAM AS MARCAS DA COLONIZAÇÃO
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Orientador : DORIS CRISTINA VICENTE DA SILVA MATOS
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Data: 05/02/2024
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Dissertação
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As colonialidades perpassam pelos povos negros desde quando os europeus invadiram as terras da América e junto com eles, trouxeram diversas etnias africanas para que fossem escravizadas. Porém, as colonialidades não somente perpassam os negros, os brancos também são tocados por essas colonialidades, vide a branquitude que os prioriza. Os europeus foram os responsáveis por caracterizar e dividir as pessoas de acordo com seu fenótipo (QUIJANO, 2005), além da nomenclatura “negro” para diversas etnias, esses povos negros eram vistos como animais e inferiores a eles (FANON,2008). Entendendo esse contexto histórico, essa pesquisa se dispõe a analisar de qual maneira os dicionários monolíngues de língua espanhola de variação mexicana contribuem para a manutenção das colonialidades, principalmente a colonialidade da linguagem (VERONELLI, 2015). Três dicionários foram escolhidos para este trabalho: o dicionário da Real Academia Española em parceria com outras academias da língua de países que falam espanhol oficialmente (DLE), o Diccionario de Español de México (DEM), ambos dicionários online – e um terceiro dicionário impresso, o Diccionario de Mexicanismos (2014). Nestes dicionários, analiso as marcas de uso de 17 verbetes que tenham ligação com a população negra – estes verbetes foram retirados de sites mexicanos que tratam da temática. O dicionário tem muita importância para qualquer sociedade, e na obra lexicográfica estarão as experiências desse povo (LARA, 1990), levando em conta esse status que o dicionário tem na sociedade, como as marcas de uso são empregadas nos termos relacionados à população negra. De acordo com Vilarinho (2017), as marcas de uso vão condicionar o emprego de lexemas levando em conta a intencionalidade, logo elas são importantes para o consulente se inteirar se determinada palavra pode ser ofensiva. As análises foram dispostas em tabelas baseadas no modelo de Lafuente (2017) e estão relacionadas com textos teóricos sobre as colonialidades (QUIJANO, 2005; VERONELLI, 2015; CASTRO-GOMEZ, 2007), questões de linguagem e racismo (NASCIMENTO, 2019, SILVIO ALMEIDA, 2018). Os resultados apontam que as marcas de uso não estão alertando o consulente sobre o racismo presente nos verbetes de maneira eficaz, e que dessa maneira a falta delas auxilia na manutenção de colonialidades.
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IASMIM SANTOS FERREIRA
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Aos parasitas as batatas
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 05/02/2024
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Tese
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Desde as primeiras letras na imprensa até os romances, Machado de Assis demonstra um interesse pelo parasitismo. Certamente pela leitura de Luciano de Samósata e de seu diálogo O Parasita. Não só se interessa pelo tema, mas também pelos recursos literários da tradição luciânica. Dessa soma de interesses surgem as “Aquarelas” (1859), conjunto de crônicas que apresenta os principais tipos parasitários no país. De Ressurreição (1872) a Memorial de Aires (1908), Machado não perde de vista os parasitas, os que se aproveitam das batatas ou benesses alheias. Por isso, nossa tese tem por objetivo apresentar panoramicamente os ecos do tema, os parasitas do corpo e os do espírito e da consciência nos romances; bem como analisar esse tipo social em Quincas Borba (1891). Para isso, valemo-nos de estudos acerca da personagem, da tradição luciânica e da crítica machadiana. Respectivamente, os principais são: Bakhtin (2002; 2010; 2011), Bergson (2007), Braith (2017), Candido (1970; 2014), Rosenfeld (2014), Segolin (1978), Brandão (2001), Frye (2013), Merquior (1972), Sá Rego (1989), Bosi (2002; 2006), Brayner (1979), Barboza (2022), Dixon (2020), Faoro (2001), Gledson (1991; 2003; 2006), Santiago (2006; 2015), Schwarz (1991, 2012). Em suma, as “Aquarelas” funcionam como uma bússola para a construção das personagens parasitas nos romances e estes são a mostra da expansão desse tipo social, sobre o qual o Bruxo do Cosme Velho não perdeu o interesse ao longo dos anos.
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THIAGO DE MELO CARDOSO SANTOS
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LETRAMENTOS DIGITAIS E LETRAMENTO RACIAL CRÍTICO: Uma análise dos materiais didáticos de língua inglesa do aplicativo Estude em casa
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Orientador : ANA KARINA DE OLIVEIRA NASCIMENTO
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Data: 05/02/2024
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Dissertação
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A pandemia do vírus da covid-19 gerou um estado de emergência de saúde pública, levando a Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e da Cultura (SEDUC) de Sergipe a disponibilizar materiais didáticos digitais por meio do aplicativo "Estude em Casa", visando oferecer suporte à comunidade escolar no período de ensino remoto emergencial. Essa modalidade de ensino, a qual surgiu como medida emergencial necessária para atender a demandas educacionais imediatas, buscando minimizar os impactos negativos advindos do fechamento das escolas, suscitou questionamentos sobre sua eficácia. Esta pesquisa, por sua vez, questionou o potencial do aplicativo de viabilizar práticas de novos letramentos (LANKSHEAR; KNOBEL; CURRAN, 2013; KNOBEL; LANKSHEAR, 2014; LANKSHEAR; KNOBEL, 2018), com destaque para a análise dos letramentos digitais (JONES; HAFNER, 2012; TAKAKI; SANTANA, 2014; SULZER, 2018; NASCIMENTO; KNOBEL, 2017) e do letramento racial crítico (LADSON BILLINGS, 1998; FERREIRA, 2014; NASCIMENTO, 2016; BRASIL, 2018). Inserida no âmbito da Linguística Aplicada, que busca a inter/trans/INdisciplinaridade (ROTH; SELBACH; FLORÊNCIO, 2016) e considera que os problemas sociais transcendem as fronteiras do ensino de línguas e dos estudos da linguagem, esta pesquisa se enriquece com contribuições de estudos feministas, de raça, gênero, classe social e analisa as interseções entre essas áreas (CRENSHAW, 2004; AKOTIRENE, 2019; DAVIS, 2016; KILOMBA, 2019; FERREIRA, 2019) e a área de estudos da linguagem. Dentro desse escopo, esta pesquisa bibliográfica, documental e interpretativista (PAIVA, 2019; MOITA LOPES, 1994; SALDAÑA, 2009) tem como objetivo analisar de que forma os materiais didáticos digitais presentes no aplicativo "Estude em Casa" abordam práticas e/ou potencializam o desenvolvimento de letramentos digitais e letramento racial crítico no ensino de inglês. Para o levantamento e análise de dados, a pesquisa bibliográfica envolveu textos relacionados às temáticas em estudo; a análise documental abrangeu os materiais didáticos digitais para o ensino de língua inglesa fornecidos pela SEDUC e reunidos no aplicativo “Estude em Casa”; e a interpretação dos dados contou também com o registro de observações e reflexões em diário de campo. Os resultados apontam para uma abordagem superficial dos letramentos digitais e do letramento racial crítico nos materiais didáticos digitais, pois as oportunidades presentes nos materiais para o desenvolvimento desses letramentos dependem diretamente da intervenção do professor, o que se conecta à sua formação docente. Nesse sentido, os resultados da pesquisa destacam a necessidade de reestruturação nos cursos de formação docente para integrar tais discussões. Por fim, por meio desta pesquisa, espera-se contribuir para as investigações no campo dos novos letramentos, mais especificamente dos letramentos digitais e letramento racial crítico.
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MARIA CAROLINE DOS SANTOS FONSÊCA
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Análise e descrição do verbo volver(se): estudo com base em corpus e dicionários de língua espanhola
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Orientador : ROANA RODRIGUES
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Data: 05/02/2024
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Dissertação
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O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sintático-semântica e lexicográfica do verbo volver(se) em língua espanhola. Para tanto, foram tomados como base para o desenvolvimento desta pesquisa os pressupostos teóricos e metodológicos do Léxico-Gramática (Gross, 1968, 1975) e da Lexicografia (Haensch, 1982; Rey-Debove, 1984; Lara, 1990; Welker, 2004; Humblé, 2008; Barcia Rodríguez, 2016, Moreira; Araújo, 2017; Moreira, 2017 e Zavaglia; Nadin, 2018). A justificativa para o estudo de tal verbo está na multifuncionalidade apresentada pelo volver(se) no banco de dados intitulado Base de datos de Verbos, Alternancias de Diátesis y Esquemas Sintáctico-Semánticos del Español - ADESSE (García-Miguel et al., 2003; García-Miguel, 2012). Ademais, toma-se como referencial para a análise sintático-semântica o trabalho de Rassi e Vale (2013) para o português brasileiro e o trabalho de Borges (2014) e Rodrigues (2021) que desenvolvem uma pesquisa com base em corpus para a língua espanhola. A metodologia deste estudo se dividiu em dois momentos distintos: (i) análise sintático-semântica, em que em um recorte feito no Corpus del Siglo XXI (CORPES) para a região do México foram selecionadas, analisadas e classificadas sintático-semanticamente 200 construções com o verbo volver(se) e (ii) análise metalexicográfica nos seguintes dicionários: Diccionario de la Lengua española (DLE), Wordreference (Kellogg), Diccionario de mexicanismos de la Academia Mexicana de la Lengua (Academia Mexicana de la Lengua, 2010) e o SEÑAS: Diccionario para la Ensenanza de la Lengua Española para Brasileños (Universidad de Alcalalá de Henares, 2001) em que se observou a presença – ou ausência – dos usos de volver(se) identificados na análise sintático-semântica previamente realizada. A partir disso, obteve-se os seguintes resultados: (i) proposta de tipologia verbal para o volver(se) de acordo com o LG tendo 5 classes: Verbo Pleno (locativo, ação de enrolar/girar e reconciliação), Verbo-Suporte (verbo de pseudocopulativo), Verbo Operador causativo, constituinte de Construção gramatical e de Expressão Cristalizada. E (ii) os casos de volver identificados na análise sintático-semântica condizem em grande parte com os apresentados nas entradas dos dicionários, com exceções para casos específicos de provérbios e expressões cristalizadas. Ao fim deste trabalho pode-se afirmar que o mesmo pode contribuir para futuros trabalhos a nível descritivo da língua espanhola. Também vale mencionar o auxílio para/com estudiosos da língua espanhola, inclusive professores, na compreensão e consequentemente ensino do verbo volver(se). No que tange a análise metalexicográfica realizada há uma contribuição com relação a escolha e usos de dicionários como ferramenta didática no ensino de E/LE.
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IVANILDO ARAUJO NUNES
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La Semaine A Epopeia Religiosa
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Orientador : FERNANDO DE MENDONCA
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Data: 02/02/2024
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Tese
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Esta tese tem como intuito explorar o épico La Semaine (1572), do vate huguenote Guillaume de Salluste Du Bartas (1544-1590), em que serão analisados dois aspectos: Primeiro desses o religioso, pois a epopeia discorre semelhante ao livro do Gênesis, os sete dias do ato da Criação. Também o poeta em sua estilística brinca com comparativo literário/bíblico, além da intertextualidade com outras epopeias. Em seguida, o aspecto analítico (plano literário – histórico e maravilhoso, heroísmo, canto, matriz e modelo épico, proposição e invocação) em que, para a apresentação crítica, utilizaremos como base os estudos teóricos de obras épicas realizados por Anazildo Vasconcelos da Silva e Christina Ramalho. A compreensão desses dois autores sobre o universo da epopeia elucida muitos elementos do objeto de estudo: História da Epopeia Brasileira: teoria, crítica e percurso (2007); História da Epopeia Brasileira: Das origens ao século XVIII (2015). Na abordagem religiosa, autores da esfera teológica serão utilizados como Santo Agostinho, Tomás de Aquino e Santo Ambrósio. Já no campo histórico, autores como Usher, Chevallier, Sutherland, Pernot e Holt. A contribuição deste trabalho para os estudos épicos no Curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, visa somar como conteúdo crítico inaugural sobre a obra do poeta Du Bartas no Brasil.
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LUCIANA CORREIA ARAUJO
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A Política Linguística da Universidade Federal de Sergipe: um estudo sobre sua abrangência e a inserção das comunidades linguísticas no contexto acadêmico
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Orientador : ELAINE MARIA SANTOS
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Data: 01/02/2024
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Dissertação
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O tripé ensino, pesquisa e extensão dá a sustentação para as ações conduzidas pelas Instituições de Ensino Superior (IES), independente do contexto ser público ou privado. Autores como Santos e Almeida Filho (2012) destacam a existência de uma quarta dimensão universitária: a internacionalização. Para que possamos analisar o modo pelo qual as universidades se tornam internacionalizadas, é preciso um estudo preliminar sobre o que é internacionalização e as formas pelas quais ela pode ser percebida na instituição. Diante do exposto, esta pesquisa tem como objetivo investigar os processos de internacionalização desenvolvidos na Universidade Federal de Sergipe, com atenção especial sendo dedicada à análise da Política Linguística instituída a partir da Resolução Nº 35/2018/CONEPE, que foi desenvolvida de forma a abranger toda a comunidade acadêmica. Não há como pensar em internacionalização sem que uma análise da(s) política(s) linguística(s) possa(m) ser feita(s). Esse estudo relacionando internacionalização e política linguística pode também ser justificado pela necessidade de investigar os caminhos percorridos pela IES para que ocupasse posições de destaque no cenário atual a nível nacional e internacional. Esta pauta, dessa forma, tem grande relevância para manutenção e elevação dos bons resultados conquistados, além de auxiliar a identificar possíveis ações que podem contribuir para tornar a atual política mais atrativa, observando o quanto ela pode ser benéfica para a instituição e a comunidade na qual está inserida. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa do tipo exploratória, em decorrência do pouco referencial sobre a internacionalização na UFS e sua política linguística institucional. A pesquisa também se enquadra no tipo estudo de caso, por detalhar o caso da UFS e investigar as ações de internacionalização estabelecidas nesse contexto em específico. A revisão da literatura traz conceitos sobre internacionalização, política e planejamento linguístico e sistema de ranqueamento internacional, a partir de contribuições de teóricos tais quais Calvet (2007), De Wit (2020), Knight (2020), Morosini (2019), Stallivieri (2017, 2019), dentre outros que abordam essas temáticas. Como resultados preliminares, podemos comprovar a importância do estabelecimento de práticas de internacionalização abrangentes, que destaquem o papel da internacionalização em casa, de modo a ser possível incluir toda a comunidade acadêmica na busca pelo estabelecimento de uma postura internacional e intercultural nas atividades desenvolvidas. É possível, também, perceber que, mesmo tendo sido um avanço, a política linguística da UFS ainda precisa de ajustes, de modo a melhor guiar as ações das línguas estrangeiras/adicionais, e melhor inseri-las nos planos de internacionalização
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CLAUDIANA DOS SANTOS
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A INTERDISCURSIVIDADE NA AUTOAJUDA: IMBRICAÇÕES E DESDOBRAMENTOS NA COMPREENSÃO DO ETHOS LEITOR
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Orientador : MARCIA REGINA CURADO PEREIRA MARIANO
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Data: 25/01/2024
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Tese
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Esta tese fundamenta-se nos campos dos estudos retóricos, discursivos e argumentativos. O ponto de partida desta investigação é o seguinte problema: em meio à relevância epistemológica da temática leitura, como compreender as imagens discursivas da leitura e o ethos de leitores investidos por valores historicamente associados às (inter)discursividades dos livros de autoajuda? Nessa direção, o objetivo geral do estudo é analisar como a interdiscursividade, na autoajuda, atua como estratégia discursiva e quais são os desdobramentos no ethos do leitor de livros do gênero. Para o dispositivo analítico selecionaram-se categorias fornecidas pelo arsenal teórico da Nova Retórica e da Análise de Discurso. Ademais, deu-se ênfase aos constructos de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2005), Amossy (2016, 2020, 2022), Maingueneau (2008a, 2008b, 2011, 2016, 2018), Galinari (2009), Meyer (1993, 2007) e Paveau (2017). Para o tratamento das práticas de leitura, o método buscou suporte em Alves e Rojo (2020), Orlandi (2003, 2008), Curcino (2020) e Rouxel (2012). A pesquisa caracteriza-se pela abordagem qualitativa. O arquétipo metodológico é constituído por três etapas. Realizou-se, inicialmente, a catalogação de títulos de livros com maiores índices de vendas entre os anos de 2010 a 2022. Em seguida, elaborou-se um modelo analítico de avaliação de leitores, com base na categorização de comentários digitais (Paveau, 2017). Na terceira etapa, implementou-se a coleta de experiências de leitura via questionário on-line. Nessas circunstâncias, perquiriram-se as análises de dois livros: Mais esperto que o diabo (Hill, 2014) e Nunca desista de seus sonhos (Cury, 2014). Com o apoio do software WebQDA efetuou-se a triangulação das fontes de dados (livros, comentários e questionários). Os resultados obtidos mostraram como as obras de autoajuda se sustentam nos campos discursivos que aludem aos espaços: religioso, pedagógico, medicinal (saúde), capitalista (neoliberal), psicológico e publicitário, logo, encontra-se respaldo para se afirmar que a interdiscursividade é uma estratégia discursiva fundante da arquitetura multissêmica do discurso de autoajuda e essa estratégia repercute no desdobramento de um ethos leitor dicotômico (orgulhoso/vergonhoso). Após a triangulação dos dados, constatou-se como as tópicas ligadas ao pathos (processos patêmicos) foram cruciais para a compreensão do ethos leitor orgulhoso, vergonhoso e flutuante, identificados a partir de espaços e lugares que apontam para a edificação moral e aperfeiçoamentos múltiplos. Esta pesquisa mobilizou análises que atestam a relevância dialogal entre disciplinas como a Análise de Discurso e os estudos retórico-argumentativos, além disso, foi possível contribuir com a enunciabilidade leitora e com a problematização de estereótipos, como o de que o “bom leitor” é aquele de obras relacionadas à “alta literatura”. Por intermédio dos valores encontrados nos discursos analisados, entendemos que há a apresentação de uma identidade dupla resultante da diferença relativa ao outro e uma identidade grupal. Observando a dimensão experiencial em Maingueneau (2018), entende-se que o ethos paradoxal da autoajuda gera confronto entre a imagem engendrada para esse leitor nas obras e a produzida pelo leitor real, assim, considera-se que o ethos leitor perpassa por uma intercorrência sêmica (efeitos de sentido inesperados) em virtude das estratégias interdiscursivas.
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