Introdução: A lesão renal aguda (LRA) é uma síndrome caracterizada pela redução da taxa de filtração glomerular, de natureza gradual que ocorre em dias ou horas, com repercussões negativas a diversos órgãos. Pacientes infectados pela Severe acute respiratory syndrome coronavirus (SARS-COV-2), admitidos em unidades de terapia intensiva (UTI) são mais propensos a desenvolvê-la, tanto pela instabilidade clínica em que se encontram, quanto por estarem mais expostos aos fatores de riscos prévios. Objetivo: Avaliar a incidência, fatores de risco, gravidade e mortalidade de pacientes com COVID-19 que desenvolvem LRA. Método: Trata-se de um estudo do tipo coorte retrospectiva, realizado entre abril/2020 até janeiro/2022. Foram incluídos pacientes internados em UTI do estado de Sergipe, com idade igual ou superior a 18 anos, com tempo de permanência mínima de 24 horas e diagnóstico de COVID-19 detectável através do Reverse Transcription-Polymerase Chain Reaction (RT-PCR). Os dados foram coletados para caracterização demográfica, clínica e história da doença atual, caracterização clínica admissional na UTI, caracterização farmacológica na admissão à UTI e em 24 horas após admissão, desfecho e acompanhamento por 15 dias do paciente na UTI. As variáveis categóricas foram descritas por meio de frequências absolutas e relativas. As variáveis quantitativas foram descritas por meio da média, desvio padrão, valor mínimo e máximo. O projeto de pesquisa foi aprovado pelos Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe, com parecer favorável sob número 5.144.304. Resultados: Dentre os pacientes do estudo, o grupo com LRA eram mais velhos. Além disso, entre os fatores que estiveram relacionados à LRA, destacou-se, diagnóstico prévio de câncer. Assim, a estratificação dos pacientes com LRA nos três estágios da classificação KDIGO, houve um predomínio de 68,3% no estágio 3, seguido de 21,15% do estágio 1. Destes, 43,3% foram submetidos a terapia de substituição renal. O tempo de sobrevivência dos pacientes durante a internação hospitalar foi apenas de 17 dias, ao passo que os indivíduos sem dialise foi de 23 dias. A capacidade preditiva do escore SOFA foi maior ao avaliarmos a necessidade de diálise. Conclusão: Contudo, o desenvolvimento da LRA em pacientes com COVID-19, internados em UTI é considerada multifatorial, cuja relação causa e efeito, não se limita apenas ao aporte assistencial e recursos terapêuticos. Observamos que as comorbidades pré-existentes, alterações importantes dos biomarcadores urinários e elevação dos índices de gravidade no período admissional, são importantes indicadores de previsibilidade aos desfechos de morte, necessidade de diálise e chance de sobrevida reduzido, intimamente ligadas ao KDIGO 3. Em reflexo há uma sobrecarga de trabalho no âmbito assistencial da enfermagem, devido a maior necessidade de cuidados ao paciente gravemente enfermo pela COVID-19 e LRA.