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Entrevista com a diretoria da Anpof sobre o primeiro ano da gestão 2023/2024

Entrevista com a diretoria da Anpof sobre o primeiro ano da gestão 2023/2024

 

O primeiro ano da atual gestão da Anpof, que tem o professor Érico Andrade (UFPE) como presidente, foi marcada pela celebração dos 40 anos da associação, que culminou na realização do Miniencontro em Fortaleza, pela criação do Observatório Racial, da Comissão de Ensino de Filosofia e do Fórum de Coordenações. Todas essas ações estiveram orientadas pela proposta de estar atentos às múltiplas perspectivas dos programas de pós-graduação em Filosofia de todas regiões do país, de promover reflexões sobre a pluralidade de temas e problemas da filosofia, que forçam a área a repensar-se, e pela convicção de que a pós-graduação não se sustenta sem que a filosofia esteja fortemente presente na graduação e no ensino básico. 

Nesta entrevista, respondida de forma coletiva, a diretoria comenta sobre o trabalho realizado ao longo deste ano, destacando as conquistas e os desafios enfrentados e indicando o que a comunidade pode esperar do XX Encontro Anpof, que será realizado em Recife em 2024. Fazem parte desta gestão, além de Érico Andrade, os professores Eduardo Vicentini de Medeiros (UFSM), Tessa Moura Lacerda (USP), Judikael Castelo Branco (PROF-FILO/UFT), Francisca Galiléia Pereira da Silva (UFC), Georgia Cristina Amitrano (UFU), Solange Aparecida de Campos Costa (UESPI), Taís Silva Pereira (PPFEN-CEFET/RJ), Ester Maria Dreher Heuser e Castor Bartolomé Ruiz.


Ao longo de 2023, a diretoria, na pessoa do presidente Érico Andrade, visitou dezenas de programas de pós-graduação em Filosofia, passando por todas as regiões do país. Como foram essas visitas e quais as principais discussões e demandas apresentadas pelos PPGs? Quais os principais desafios e também conquistas deste primeiro ano de gestão?

Desde o começo, essa diretoria se posicionou em favor da escuta, pois constituiu-se sensível às múltiplas vozes que vêm dos diferentes lugares onde hoje a filosofia é produzida no Brasil, cujas demandas são variadas. Foi para ouvir e criar caminhos conjuntos que fizemos várias visitas a programas de pós-graduação em filosofia, onde tentamos conjugar atividades acadêmicas com as atividades da Anpof. Sabemos das limitações de recursos e, por isso, quando alguém da diretoria é chamado para uma palestra, mesa ou lançamento, tentamos nos fazer presente nos programas. Muitas vezes os programas convidam a Anpof para uma conversa. O diálogo e a escuta dos programas são essenciais para pensarmos estratégias e sugestões de política para a pós-graduação que possam fortalecer, tanto do ponto de vista da qualidade das suas produções científicas e pedagógicas, como também no que se refere a uma efetiva inclusão social. 

Notadamente, a inclusão social tem sido objeto de um consenso, ou quase consenso, na área e é um dos pilares da política de pós-graduação proposta pela atual gestão da Capes. O desafio que temos de implementar uma inclusão social radical só pode ser entendido como tal graças ao esforço de vários colegas e de várias colegas, juntamente com a diretoria da Anpof, de produzir textos que mapeiam as nossas lacunas. Ou seja, mesmo para diagnosticar os nossos desafios, é preciso a produção de textos (como a Anpof tem feito nos seus canais de comunicação, muitas colegas têm feito, bem como várias redes e coletivos de filósofas) que demonstre as ausências e os corpos que precisam ser incluídos com seus respectivos saberes e filosofias. 

É nessa perspectiva que celebramos várias conquistas neste primeiro ano de gestão que poderiam ser sintetizadas no e-mail que nos foi enviado pela Sueli Carneiro no qual ela destaca a importância do que tem sido produzido pela atual diretoria, em especial o artigo "Pela ampliação da excelência: uma radiografia das bolsas de produtividade em pesquisa do CNPq". Essas conquistas podem ser percebidas quando notamos a criação do Observatório Racial, a criação de uma Comissão de Ensino de Filosofia da Anpof, a realização do evento Anpof 40 anos (marcado pela diversidade de debate filosófico e por um enorme compromisso com práticas inclusivas que deverão ser repetidas na XX Anpof/Recife), o compromisso com o equilíbrio fiscal da Associação, a criação do Fórum de Coordenações (com várias reuniões nas quais discutimos temas referentes à pós-graduação), a consolidação e ampliação dos GTs da Anpof e a participação da diretoria da Anpof nas reuniões do Fórum de Humanidades, da SBPC, Capes e CNPq. 


A Anpof, em abril deste ano, criou uma comissão dedicada ao ensino de Filosofia. Quais foram as principais ações dessa comissão e como avalia o trabalho e os resultados?

Inicialmente, é fundamental destacar que a pós-graduação não se sustenta – da forma como ela está espraiada pelo Brasil e com a qualidade que atingimos hoje – sem que a filosofia esteja fortemente presente na graduação e no ensino básico. Se em alguns momentos foram criados programas de pós-graduação, em poucos centros, sem que existissem cursos de graduação, é preciso dizer que essa realidade não tem mais sentido porque, na maioria do Brasil, a existência da pós-graduação está atrelada à formação qualificada de pessoas que, também, se ocupam com o ensino de filosofia, em seus diferentes níveis. Por isso, estamos falando de uma das mais importantes comissões criadas pela Anpof. E no sentido de manter a nossa escuta atenta à diversidade que perfaz a nossa área, a diretoria conseguiu formar uma comissão ampla e representativa, com atenção e cuidado às questões de gênero e às especificidades regionais. 

A atuação da comissão é notável: com um número significativo de reuniões muito produtivas, um forte diálogo com vários atores, o que vem produzindo articulações nas esferas micro e macropolítica, no interior e no exterior da comunidade filosófica para a construção coletiva de uma agenda da Filosofia dedicada ao seu ensino na Educação Básica. Neste ano, o grupo se ocupou especialmente com o debate sobre o Novo Ensino Médio (NEM), na forma da lei 13.415/17, alterando de forma significativa a presença efetiva da filosofia nas escolas. Alvo de críticas da sociedade civil e especialistas, o Ministério da Educação do atual governo lançou uma consulta pública de avaliação que culminou com a proposição do Projeto de lei 5230/23. Esta comissão vem atuando na elaboração de análises sobre este trâmite, relativas tanto aos documentos quanto às disputas políticas envolvidas. Ainda, se tem buscado apoio entre parlamentares que apoiam a presença da filosofia na formação das e dos jovens. Foi o caso da busca ativa de representantes que pudessem propor emendas ao PL em favor do retorno da obrigatoriedade da Filosofia junto com outras disciplinas na parte obrigatória do currículo. 

Também há um trabalho conjunto com outras entidades que lutam pela implementação de uma educação pública de qualidade e sem assimetrias na oportunidade de acesso ao conhecimento historicamente construído, como a presença da Anpof na Campanha Nacional em Defesa das Ciências Humanas na Educação Básica. Ainda, parte desta comissão está presente na organização da Anpof Educação Básica que será realizada em Recife com o evento geral da nossa entidade. Acreditamos, assim, que a Comissão de ensino de filosofia aprofunda a crescente aproximação que a Anpof vem construindo com a educação básica e os professores de filosofia nas últimas gestões.


Em 2023 a Anpof completou 40 anos de existência. Ao longo deste ano foi promovida uma campanha que debateu o futuro da Filosofia no país, mas também os desafios de hoje e das próximas décadas. Essa discussão foi registrada em colunas, podcasts, fóruns e entrevistas. Qual a importância desses debates promovidos pela Anpof ao longo deste ano? 

A diretoria da Anpof aposta que a história da filosofia, longe de ser um obstáculo para um debate mais amplo em nossa área, é um dos caminhos possíveis para a promoção de novos horizontes de debates e reflexões. Aliás, é importante lembrar que embora a Anpof seja uma associação de programas de pós-graduação, ela representa a área de filosofia em geral na sua amplitude, a qual é composta por diferentes sujeitos que pesquisam e lecionam uma ampla pluralidade de temas e problemas, assim como por um corpo discente que vem apresentando novas preocupações, cujos temas diversos e um olhar bem claro para as demandas do presente, forçam a área a repensar-se e ampliar-se. Em outras palavras, a área de filosofia comporta uma demanda crescente pela ampliação das nossas temáticas, de uma ampliação de autores e autoras que devem ser objeto de nossos estudos e de uma revisão do que é a própria história da filosofia. 

Foi nesse sentido que a diretoria da Anpof conseguiu manter vivo o debate com várias rodas de conversas e entrevistas, a começar por questões trazidas pelas mulheres que constituem a atual diretoria, ao longo do mês de março/23, ANPOF 8M, quando nos ocupamos da invenção de nossas existências no interior da área, que é marcada pelo silenciamento feminino; abordagem que foi ampliada por perspectivas femininas acerca de sabedorias ancestrais e pelo encontro entre gerações de mulheres brasileiras que viveram durante o regime militar e sobreviveram a ele, sendo, atualmente, vozes críticas do legado violento que opera, especialmente, sobre as mulheres e as comunidades pobres e periféricas. 

Destacam-se, ainda, a série de vídeos “Enciclopédia audiovisual” e o “Podcast Anpof” que têm se ocupado justamente dos desafios contemporâneos da Filosofia no Brasil, os quais, avaliamos, são abertura para o futuro que não poderá ignorar questões de gênero; de raça; do pensamento decolonial; de perspectivas criadas desde o Sul - as quais são constituídas considerando a cosmovisão dos povos originários, assim como do pensamento diaspórico, sobretudo o afrobrasileiro. Esta pluralidade de questões também foi problematizada nos diferentes artigos da coluna da página da Anpof. Nesta, é visível a produção de trabalhos, cuja amplitude de temas e de autores, para além dos problemas postos na nossa tradição e olhares críticos aos pensadores consagrados, têm se apresentado com escritas mais críticas e inclusivas de nossa comunidade. 

O recentemente criado Radar Filosófico, através de pequenos artigos de livros publicados, se tornou também um outro espaço de divulgação das pesquisas mais recentes de diferentes membros desta ampla comunidade Anpof. O que se observa, a partir dessas ações, é a expansão filosófica de nossa comunidade de uma ordem exponencial bem elevada, em especial com temas e autoras que antes não eram tão estudados ou mesmo negligenciados. A  História da Filosofia se tornou mais ampla e mais aberta, os conteúdos pesquisados contém novos elementos, novas autoras e autores; há um resgate do passado com diálogos mais enfáticos com o presente; há novas temáticas, novos problemas, novos sujeitos e uma Filosofia mais aberta, mais plural e mais ampla.


Ainda sobre os 40 anos da Anpof, essa gestão realizou um miniencontro em Fortaleza (CE), em novembro, que reuniu mais de 600 pessoas virtual e presencialmente. Como avaliam esse encontro?

O Miniencontro comemorativo de 40 anos da Anpof foi simbólico e um sucesso em vários aspectos. Apesar de não termos contado com as agências de fomento nacionais, conseguimos realizar um evento histórico para o qual foram convidadas todas as ex-presidências da Anpof. Foi um momento de celebrar a nossa história. Neste sentido, a fala de Álvaro Valls foi muito valiosa ao compartilhar sua vivência acerca do início da nossa Associação. Além disso, foi lindo ver a efetivação de um momento no qual pudemos colocar em prática a possibilidade da filosofia ser efetivamente plural e dialógica com mais tradições e temáticas. Foram tratados os temas Mulheres na Filosofia, Filosofia e Decolonidade, Filosofia e povos originários, Ensino de Filosofia, Filosofia Africana e Afro-Brasileira e Filosofia da deficiência, sem deixar de dialogar com os clássicos da tradição filosófica, o que demonstra a enorme riqueza e diversidade da nossa área. Isso tudo só foi possível pelo engajamento, compromisso e garra das pessoas que fazem filosofia no Nordeste e sobretudo no Ceará, que é o estado no Nordeste com o maior número de programas de pós-graduação em filosofia. 

Com a ausência de apoio das principais agências de fomento, os programas cearenses se articularam e conseguiram realizar o evento com as suas verbas e o apoio do Centro Cultural do Banco do Nordeste, da Fundação Fausto Castilho e do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará. Foi um exemplo da força e união da filosofia no Nordeste que se encontra consolidada nas capitais e em vias de consolidação no interior dos estados nordestinos. Entendemos, por estas razões, como um evento de sucesso, de diálogo amplo e com grande participação da comunidade acadêmica. Sem dúvida, o evento abriu o caminho para um futuro no qual a Anpof, e a filosofia brasileira como um todo, venha a ser mais inclusiva e plural - algo que se apresentou como fator de grande elogio e exigência das pessoas que participaram do evento. 


No próximo ano essa gestão realizará o XX Encontro Anpof, em Recife, entre 30 de setembro e 4 de outubro. O que a comunidade filosófica pode esperar deste evento?

Temos convicção de que a Anpof Recife será um marco na história da nossa associação. As razões que nos fazem acreditar nisso repousam em vários aspectos. Gostaríamos de destacar alguns desses: a cidade do Recife fica no centro do Nordeste; próxima a várias capitais e com muitas opções de voo; certamente a cidade que é capaz de albergar centenas de milhares de pessoas no carnaval terá plenas condições de promover um evento em larga escala com a participação massiva de colegas e de estudantes de todo Brasil; ademais, não apenas Recife, mas cidades como Olinda e outras da região metropolitana são marcadas pela produção cultural que pode ser objeto de reflexões filosóficas como também podem dialogar com toda a nossa comunidade filosófica; a cultura e a arte pernambucanas deverão estar presentes na Anpof Recife cuja construção deverá reunir uma grande rede de apoio. 

A nossa expectativa é, portanto, grande. As múltiplas e complexas demandas de um evento do tamanho do XX Encontro,  exigem da Diretoria da Anpof, da UFPE e da Unicap muita antecipação e coordenação de esforços. Estamos, desde o primeiro dia da atual gestão, empenhados em desenhar e colocar em prática as melhores soluções para o evento, seja do ponto de vista acadêmico e científico, seja nos aspectos logísticos e financeiros. Entendemos que os encontros bianuais da Anpof estão entre os maiores eventos de filosofia no mundo, o que nos oferece a oportunidade, mas também o desafio, de apresentar uma vitrine multifacetada da força intelectual e política de nossa comunidade.

 

Fonte: ANPOF

Notícia cadastrada em: 17/12/2023 09:09
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