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Grupo de Ética e Filosofia Política: 20 anos de história

O GRUPO DE ÉTICA E FILOSOFIA POLÍTICA DA UFS: 20 ANOS DE HISTÓRIA NA FORMAÇÃO FILOSÓFICA NACIONAL

 

Saulo H. S. Silva[1]

 

No início dos anos 2000, o país viva um clima de otimismo e efervescência em todos os aspectos da vida cultural, política e econômica. Falar desses tempos não tão remoto, mas distante o suficiente para que seja necessário relembrar àqueles que vivenciaram essa época, é também uma atividade de resgate para as novas gerações de um momento que merece ser sempre rememorado e também traduzido. Para nós, que formamos o Grupo de Ética e Filosofia Política da UFS, é uma época importante porque comemoramos a efeméride especial de 20 anos das primeiras reuniões do Grupo de Ética e Filosofia Política da UFS.

Quando escrevo traduzir o espirito da época, o Zeitgeist como chamavam os alemães, quero afirmar uma maneira de recompor um momento de nossa história, em especial, de nossa história acadêmica e social. Aquela que envolvia em especial a Universidade Federal de Sergipe. Como já descrito, era uma período de efervescência e expectativa de melhoria das condições sociais e culturais do povo brasileiro porque essa geração foi favorecida por certa estabilidade política, após o terrível e curto governo Collor. Isso não quer dizer que as coisas estavam boas, mas havia certa positividade no ar, motivada por esse clima de estabilidade e de esperança de que o país sairia do buraco que a ditadura o colocou. Posso até dizer que após o fim do período autoritário, essa foi a época mais promissora.

O Brasil ganhou até uma Copa do Mundo de Futebol, 2002, e Lula era eleito Presidente da República no mesmo ano. Em relação à sociedade conservadora e tacanha, a nova mentalidade prometia; as coisas pareciam que iriam dar certo e tudo isso era efeito da consolidação do Estado delineado pela Constituição de 1988. Esse clima de otimismo também trazia consigo um horizonte aberto para os jovens brasileiros, e isso pode ser traduzido, entre outras coisas, por um número cada vez maior de jovens buscando a universidade em busca de uma formação de nível superior que abrisse as porta para um trabalho digno. Isso fazia com que as universidades também fossem traduções desses tempos de inquietação e esperança. Naquele momento, este que vos escreve, como tantos outros jovens filhos da classe trabalhadora, viam na universidade pública uma espécie de porta de entrada para uma nova vida, mesmo que não soubessem bem o que seria esse futuro. E quanto mais se intensificaram as políticas, ainda que limitadas, social-democratas do governo, mais o clima melhorava e as pessoas se dedicavam a seus planos porque eram partes dessa atmosfera.

Sobre esse assunto, muito se fala que a efervescência política retornou ao Brasil com o ressurgimento da direita terraplanista e violenta. Mas isso não é verdade! Obviamente, hoje se discute muito política, como era discutido anteriormente, mas a diferença era efetivamente a consciência das pessoas. Naquela época, dificilmente a disputa ideológica conduziria a um clima de discórdia tão grande, como o que se abateu não apenas entre pessoas desconhecidas, mas entre familiares. Fernando Henrique Cardoso era neoliberal, poderia se discordar de suas privatizações e reformas neoliberalizantes, mas não se poderia dizer que se tratasse de um governo que planejava a destruição nacional, como foi feito pelo medíocre ex-mandatário Jair Bolsonaro. Os governos Lula desse período não eram perfeitos, mas fora o que nossa geração viu de melhor e onde, de um modo ou de outro, as portas pareciam que estavam se abrindo, enquanto o Brasil crescia economicamente e chamava a atenção do mundo.

Estou aqui a falar dessa época porque foi justamente nesse período que estava decidido a levar seriamente a cabo os estudos no curso de Filosofia da UFS, com o objetivo de fazer carreira na área. Nesse momento, o Departamento de Filosofia estava sendo literalmente (re)construído, o curso começa a atrair muitos jovens e deixava de ser ocupação de pessoas mais maduras que buscavam a Filosofia como se quisessem se tornar sábias. Foi nesse período que eu e outros colegas conhecemos o professor Antônio Carlos dos Santos, o qual havia retornado de doutoramento que realizou entre São Paulo e Paris. Até esse momento, o curso contava com poucos doutores e, portanto, com relativa dificuldade para implementar um clima de pesquisa entre os estudantes, algo que fossem além do proselitismo, mas também aberto para acolher os mais diversos.

Nessa época, eu era diretor do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFIL) e tinha bastante interesse pelas discussões políticas que a Filosofia desenvolvia por meio de suas diversas tradições. Foi justamente em 2003 que o professor Antônio Carlos convidou os interessados a iniciar um grupo de estudos com os temas da Ética e da Filosofia Política. Éramos seus alunos nessas disciplinas e tínhamos vontade de desenvolver uma formação sólida em Filosofia, algo que não sabíamos direito onde daria, mas eram tempos que prometiam.

Estava então criado o Grupo de Ética e Filosofia Política da UFS, sob a batuta de Antônio Carlos e com a orientação de coordenar estudos sérios, ao nível daquilo que era feito nos grandes centros por onde Antônio havia estudado. Com essa orientação em mente, e contando com a dedicação exemplar de Antônio e também com o interesse indiscutível dos alunos e alunas que participavam das reuniões, o grupo foi se consolidando, inclusive se consolidando também os membros menos rotativos. Estudávamos e discutíamos em nossos encontros textos clássicos dessas disciplinas filosóficas, seja obra de pensadores gregos e latinos, mas concentrávamos nossas discussões nos temas modernos e contemporâneos.

E assim avançávamos quase que como por osmose, aprendíamos porque o ambiente era bastante promissor. Estudávamos línguas estrangeiras, para calibrar nossa formação, e desse momento lembro-me da contribuição marcante da senhora Vanda Fonseca, aluna mais experiente do Grupo e cuja disposição contagiava todos a seguir aqueles caminhos, que não eram fáceis, mas passava longe de serem enfadonhos. Assim, convivíamos com pesquisadores e pesquisadoras renomadas do Brasil e do estrangeiro, e essas experiências vividas em nosso mundo da vida acadêmico, para retomar um termo fenomenológico, contribuía decisivamente para sabermos exatamente o que tínhamos que fazer.

Sobre isso, basta que eu recorde o I Colóquio Nacional de Ética e Filosofia Política que o grupo organizou, ainda em 2003. Nesse evento, a UFS recebeu diversos pesquisadores renomados, dos quais gostaria de destacar a presença da professora Maria das Graças Souza (USP), com quem desde então passamos a conviver frequentemente, tanto na UFS quanto em outras universidades. Aquele evento foi marcante e ajudou a consolidar um grupo de estudantes em torno do professor Antônio Carlos com interesse genuíno em desenvolver uma carreira acadêmica na área de Filosofia.

Depois disso, vieram os outros Colóquios e tantos outros eventos que contaram com pesquisadores nacionais e estrangeiros, os quais ou foram organizados sob reponsabilidade do grupo ou com nosso suporte, como o Congresso Nacional de Filosofia da História, o Colóquio Jean-Jacques Rousseau, a palestra de concessão de título de Doutora Honoris Causa à professora Marilena Chaui, o Encontro Nacional de Filosofia da ANPOF, um dos maiores eventos em Filosofia do Planeta, entre tantos outros eventos realizados ao longo desses 20 anos.

Se estudar era fundamental, escrever textos filosóficos também era. Os textos mais depurados do grupo passavam por discussão coletiva. Prova disso, são as primeiras bolsas PIBIC, projeto do qual se formaram os primeiros doutores em Filosofia que eram membros do grupo de Ética, este que vos escreve e o professor Marcelo Primo, pela Universidade Federal da Bahia e sob a orientação de Antônio Carlos. E depois tantos pesquisadores e pesquisadoras de diversos níveis que acompanharam as discussões e contribuíram para a saudável longevidade do Grupo.

Ao longo de seus 20 anos de existência, é possível afirmar que o Grupo de Ética e Filosofia Política nunca se desfez, ao contrário, apenas se fortaleceu com a formação acadêmica de seus primeiros membros e também com o ingresso de novos professores recém-doutores que chegavam ao DFL, como os professores Evaldo Becker, Antônio Pereira, Marcos Balieiro e Christian Nascimento, esse último já membro veterano do grupo. E então, com essa diversidade de interesses, o Grupo estendeu suas atividades para temáticas diversas e formando um amplo público nos mais diversos níveis. Lembro bem que por volta de 2013 contávamos com integrantes da educação básica, estudantes do Colégio de Aplicação, acadêmicos do curso de Filosofia, pós-graduandos em Filosofia, alguns deles já pertencentes ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFS, também pesquisadores na área das Ciências Ambientais, vinculados ao PRODEMA. E entre eventos, publicações e formações, o grupo conquistava novos espaços, como o programa semanal Caleidoscópio na Rádio UFS, bem como na mídia escrita, tenho em mente o espaço no Jornal Cinform.

Agora, em 2023, ao completar 20 anos de existência bastante profícua, o Grupo realizará entre os dias 28-29 de Agosto o seu V Colóquio Nacional de Ética e Filosofia Política. Momento onde estaremos fazendo aquilo que sempre fora um dos objetivos fundacionais, a saber, discutir de forma profunda e rigorosa os temas fundamentais para a compressão ética e política de nossa história e sociedade. Trata-se de um momento onde seus membros apresentarão resultados de suas pesquisas e junto a diversos outros pesquisadores que por aqui estarão, com destaque para as professoras Marias das Graças Souza e a professora Maria Isabel Limongi (UFPR), participantes que estavam conosco no I Colóquio em 2003, entre tantos outros nomes importantes da pesquisa em Filosofia no Brasil, dos quais destaco o professor Alberto Ribeiro Gonçalves de Barros (USP) e Newton Bignotto, da UFMG.

Portanto, com o V Colóquio, o Grupo comemora 20 anos de existência! Parabéns ao Grupo, e em especial ao professor Antônio Carlos, que se empenhou durante todos esses anos para consolidar a pesquisa em Filosofia no estado de Sergipe. Com isso, encerro este texto desejando longa vida ao Grupo de Ética e Filosofia Política da UFS.

 

 

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[1] É membro fundador do Grupo de Ética e Filosofia Política da UFS, Professor do Colégio de Aplicação, do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, do Programa de Pós-Graduação em Rede Nacional Para Ensino das Ciências Ambientas e Coordenador Nacional do GT Filosofia da História e Modernidade da ANPOF. Texto originalmente publicado no jornal Cinform.

Notícia cadastrada em: 04/09/2023 11:43
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