Sítios arqueológicos com ocupação (ões) relacionadas aos coletivos históricos dos Tapajó (900 – 1600 d.C.) ocorrem na Baixa Amazônia, principalmente no planalto de Belterra, na região do lago grande de Curuaí, do rio Ituqui, nas margens do rio Tapajós, e nos municípios de Prainha e Curuá, no Estado do Pará. A principal aldeia tapajônica estava assentada na atual cidade de Santarém, na confluência dos rios Tapajós e Amazonas, de onde procede grande parte da cultura material desses povos, hoje distribuída em museus brasileiros e internacionais. Os Tapajó construíram estruturas de terra como poços, montículos, caminhos e fabricaram a terra preta antropogênica, além objetos nos suportes líticos (tortual de fuso, muiraquitãs, pontas de flechas, lâminas de machados, etc) e em cerâmica com uma ampla variabilidade morfológica e funcional. A iconografia presente na cerâmica é repleta grafismos, de figuras de animais, humanas e seres duais. Dentre as morfologias, as estatuetas antropomorfas se destacam por seu naturalismo que nos permite visualizar todos os elementos que compõem o corpo humano, além de posturas, adornos e pintura corporais. A etnografia tem enfatizado a importância do corpo no processo de produção e humanização da pessoa para as sociedades ameríndias, sendo a associação da ornamentação e da pintura corporal um comunicador da condição e status de uma pessoa dentro do seu coletivo. Com essa perspectiva de fabricação/construção de corpos/pessoas analisamos 271 estatuetas antropomorfas (inteiras, semi-inteiras e fragmentadas) e um vaso antropomorfo do estilo Santarém, de cinco coleções (Charles Townsend, Curt Nimuendajú, Frederico Barata, Padre Maier e Peter Hilbert) provenientes do município de Santarém, acondicionadas na Reserva Técnica Mário Ferreira Simões do Museu Paraense Emílio Goeldi. Realizamos uma análise iconográfica considerando desde a manufatura do objeto, através dos aspectos tecno-morfológicos, até sua configuração final. Um dos principais resultados é a identificação e definição das classes de adornos corporais presentes nas estatuetas que associados aos demais dados iconográficos e a literatura etnográfica nos permitiu perceber categorias sociais, assim como os rituais de iniciação e de passagem que poderiam estar relacionados.