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JOSÉ EDUARDO SANTOS TAVARES DE JESUS
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PHILOMENA: UM OLHAR ARQUEOGENEALÓGICO SOBRE PROCESSOS DE SUBJETIVAÇÃO/OBJETIVAÇÃO DA MULHER IRLANDESA NO SÉCULO XX
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Orientador : MARIA EMILIA DE RODAT DE AGUIAR BARRETO BARROS
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Data: 30/11/2021
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Dissertação
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Entre os séculos XVIII e XX, as Lavanderias de Madalena, instituições ligadas a congregações católicas, foram instaladas em diversos países ao redor do mundo como casas de acolhimento, de reabilitação de mulheres caídas em desgraça: jovens vítimas de estupro, órfãs, prostitutas, meninas acusadas de aborto ou de infanticídio, mães solo. Na Irlanda, depois do reconhecimento da independência do Estado Livre Irlandês, em 1922, esses reformatórios passaram a cumprir uma função carcerária, punitiva, castigando, sobretudo, as mulheres que engravidavam fora do casamento, por a própria Constituição do novo Estado tornar a maternidade e o matrimônio inseparáveis. Uma dessas internas teve a sua vida retratada no filme biográfico Philomena (FREARS, 2013), objeto de nossa investigação. À luz da arqueogenealogia, o presente trabalho tem, como objetivo geral, analisar discursivamente o referido filme, a fim de observar a quais processos de subjetivação a protagonista é submetida, ao ter seu corpo objetivado de algumas maneiras. Quanto ao aporte teórico, como nosso objeto de estudo é produto da mídia cinematográfica, recorremos aos ensinamentos de Deleuze (2015), de Foucault (2021) sobre o dispositivo. Dessa forma, tratamos o cinema, nesta dissertação, como uma rede que interliga numerosos elementos de diferentes naturezas; capaz de manipular, dada a sua função estratégica, as relações de força, as produções de subjetividades, e, por conseguinte, a história do presente, com vistas, sobretudo, a uma normalização. Nesse sentido, uma vez observado o forte controle de discursos, de sujeitos, tanto no processo de criação do filme quanto no próprio desenvolvimento da narrativa, trazemos à tona a tese de Foucault (1996) acerca da existência, em todas as sociedades, de procedimentos de rarefação discursiva, dentre os quais destacamos a autoria; de rarefação dos sujeitos, a doutrina, as sociedades de discurso; afora os procedimentos de interdição, concernentes à parte do discurso que põe em jogo o desejo, o poder. Ademais, para investigarmos a relação entre discurso e religião, partimos, inicialmente, do conceito formulado por Bourdieu (2007): linguagem, veículo de poder, simbólico-estruturante, possibilitando criar e impor um sistema de práticas, de representações de mundo, sobre fiéis. Com efeito, o discurso religioso é concebido como aquele orientado à doutrinação. Apresentamos também as lições de Foucault ([1978] 2008; 2006) referentes à pastoral das almas, um poder de tipo religioso; à institucionalização do pastorado no âmbito do Cristianismo, acontecimento responsável pela implantação, pela Igreja, desse tipo de poder no Ocidente, mediante técnicas dominadoras dos sujeitos, principalmente por meio de sua sexualidade. Utilizamos ainda os postulados de Foucault ([1976] 2010; 2014) acerca do entrelaçamento de duas tecnologias de poder no interior das sociedades de normalização: (i) a disciplina, centrada no homem-máquina, funcionando com vistas às operações do corpo em sua relação com o trabalho; (ii) a biopolítica, focada no homem-espécie, atuante, no nível da massa, sobre um feixe de fenômenos coletivos, a fim de produzir uma população regulamentada. Desse mesmo filósofo, trabalhamos igualmente com a noção de racismo moderno, recurso presente nos Estados em que o biopoder se exerce, responsável pela permissibilidade do assassínio, seja direto seja indireto, dos degenerados, dos anormais, dos responsáveis pela mácula da raça. Finalmente, encerramos nosso estudo sobre os asilos de Madalena, trazendo à baila as discussões de Sixsmith (2013) em torno do funcionamento dessas instituições na Irlanda; as de Smith (2007) relativas à Arquitetura de Contenção da Nação.
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THIAGO GONÇALVES CARDOSO
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DA AGULHA AO PUNHAL: RECATEGORIZAÇÃO DA MEMÓRIA DISCURSIVA
SOBRE MARIA BONITA À LUZ DA REFERENCIAÇÃO.
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Orientador : GERALDA DE OLIVEIRA SANTOS LIMA
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Data: 29/11/2021
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Dissertação
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Esta dissertação origina-se não só do nosso diálogo com o cangaço no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (PIBITI/UFS - 2014/2015), mas também das inquietações geradas no contato direto com diferentes fontes teóricas e, também, da paixão pessoal pela instigante personagem do sertão nordestino, Maria Bonita (FERREIRA; ARAÚJO, 2011). O interesse pelo tema insurge do incentivo para novas pesquisas debruçadas sobre as questões discutidas por Lima (2008), em sua tese de doutorado. Em função da relevância do cangaço do nordeste brasileiro para a constituição da história, cultura e identidade do povo do sertão, bem como da escassez de trabalhos acadêmicos sobre Maria Bonita no campo dos estudos da linguagem, no Brasil, elegemos tal objeto de discurso (MONDADA; DUBOIS, 2003) como foco desta pesquisa, partindo dos aportes teóricos da referenciação (LIMA, 2008; MARCUSCHI, 2008; KOCH, 2009; CAVALCANTE, 2011), e das memórias coletiva (HALBWACHS, 1990, 2003) e discursiva (CUNHA; TOMAZI, 2017), compreendidas no escopo dos estudos históricos e sociais. Nesse sentido, nossa problemática se insere nas possíveis inter-relações entre o processo da recategorização referencial (APOTHÉLOZ; REICHLER-BÉGUELIN, 1995), as políticas/lugares de memória (NORA, 1981; CLEMENTE; 2009), a construção da imagem mítica/popular de Maria Bonita e construção identitária das mulheres que têm representado a líder das cangaceiras na manifestação artístico-cultural “Grupo de Teatro e Xaxado Na Pisada de Lampião”, em Poço Redondo, sertão sergipano. Assim, o nosso objetivo geral consiste em investigar, à luz do diálogo entre teorias textual-discursivas, sociais e históricas, como a memória sobre Maria Bonita é invocada, apropriada e/ou glorificada (CLEMENTE, 2009) no imaginário mítico/popular, via o processo da recategorização referencial, por moradores da cidade de Poço Redondo/SE. Como específicos, propusemos: i) identificar estratégias de recategorização utilizadas pelos informantes na rememoração de Maria Bonita e ii) analisar as relações entre as políticas de memória e/ou lugares de memória e as diferentes expressões de recategorização do objeto de discurso Maria Bonita. Metodologicamente, adotamos a pesquisa de base qualitativa, descritiva e interpretativista (GIL, 2002; PRODANOV; FREITAS, 2013; MARCONI; LAKATOS, 2017; CAVALCANTE et al, 2016). O corpus é composto por quatro entrevistas semiestruturadas com as mulheres que representam Maria Bonita ao decorrer dos 24 anos de existência do grupo “Na Pisada de Lampião”, e uma com o seu líder e fundador. Os resultados obtidos pelas análises desta pesquisa apontam o objeto de discurso Maria Bonita sendo recategorizado dentro de três grandes imagens na memória dos entrevistados: i) a da guerreira, heroína (face mítica do poderio militar); ii) a de símbolo de força e resistência; iii) e a de símbolo da mulher sertaneja. Essas recategorizações são construídas de forma a glorificar a imagem da rainha do cangaço, tendendo a filtrar sua imagem de aspectos negativos, questão diretamente relacionada aos efeitos das políticas de memória e dos lugares de memória da cidade.
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JOÃO PAULO FONSECA NASCIMENTO
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RECATEGORIZAÇÃO DO OBJETO DE DISCURSO MARIELLE FRANCO NO CIBERESPAÇO: UMA ANÁLISE DE COMENTÁRIOS ON-LINE
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Orientador : GERALDA DE OLIVEIRA SANTOS LIMA
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Data: 28/10/2021
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Dissertação
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Nos estudos contemporâneos, em Linguística Textual, concebe-se a noção de referenciação (LIMA, 2008; KOCH, 2009; CAVALCANTE et al, 2010; BENTES; FERREIRA-SILVA; ACCETTURI, 2017) como uma atividade discursiva de (re)construção de entidades ou objetos de discurso (MONDADA; DUBOIS, 2003). No interior dessa perspectiva de base sociocognitiva (KOCH; CUNHA-LIMA, 2011; VAN DIJK, 2012) e interacional, alinhamos este estudo, para explicitar a relação entre texto e referenciação. Sob tal ótica, o texto, como também o discurso, desenvolve-se em dado contexto situacional, mediante ações linguísticas, cognitivas e sociais. Com foco no estudo do fenômeno da recategorização referencial (APOTHÉLOZ; REICHLER-BÉGUELIN, 1995; LIMA, 2009; CUSTÓDIO FILHO, 2011), analisamos como o objeto de discurso Marielle Franco é recategorizado em comentários on-line em resposta a uma matéria postada no Facebook, na página do G1 Notícias, no dia 16 de setembro de 2019. Essa postagem fala sobre a institucionalização do 14 de março como o Dia dos Defensores de Direitos Humanos, com base na sanção da Lei Marielle Franco (Lei 8490/19 | Lei nº 8490). Escolhemos este corpus em razão da ressonância da execução da vereadora do Rio de Janeiro, filiada ao Partido Socialismo e Liberdade, no dia 14 de março de 2018. O nosso objetivo geral consiste em investigar estratégias linguístico-textual-discursivas, indiciadas (HANKS, 2008) na recategorização do objeto de discurso Marielle Franco em interações on-line. Como objetivos específicos, temos: (i) descrever essas estratégias a partir de comentários sobre a matéria publicada na página do G1 Notícias, no Facebook; e ii) identificar os efeitos de sentido engatilhados por meio do uso de expressões referenciais recategorizadoras. Assumimos esses objetivos devido à hipótese de que os anafóricos não desempenham, apenas, a função de coesão textual, mas também de potenciais produtores de efeitos de sentidos violentos, e isso se dá graças à ancoragem dos seus usos a modelamentos sociocognitivos (BENTES; MORATO, 2021). A natureza de nosso estudo é descritiva (PRODANOV; FREITAS, 2013), de caráter exploratório e faz uso do procedimento técnico documental indireto (MARCONI; LAKATOS, 2017). O corpus é composto por 37 capturas de tela, totalizando 78 comentários. Para a análise, selecionamos uma amostra de 35 comentários, em razão de os outros terem sido descartados, considerando os seguintes critérios de exclusão: (i) comentários que compartilham propagandas; (ii) comentários nos quais não há o fenômeno da recategorização referencial; e (iii) comentários com textos não verbais. Os resultados obtidos apontam que os sujeitos da pesquisa se utilizam das categorias religião, política, raça e gênero como estratégias modeladoras de suas recategorizações. A análise dos dados evidenciou a complexidade desse processo referencial não só reclamando a necessidade de se observar o anafórico essa como uma potente estratégia recategorizadora, mas também denunciando o seu valor violento, quando do seu uso, para recategorizar o que, para esses sujeitos, seria o não categorizável.
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ANTONIO MARCOS DOS SANTOS TRINDADE
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A POÉTICA DE DONA CAÇULA: AUTORIA FEMININA E UNIVERSO TEMÁTICO DO ROMANCEIRO SERGIPANO
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Orientador : CHRISTINA BIELINSKI RAMALHO
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Data: 14/10/2021
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Tese
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Proponho, neste estudo, defender a tese de que o Romanceiro Sergipano (o livro O Folclore em Sergipe), recolha de romances tradicionais coligidos por Jackson da Silva Lima e por ele publicados em 1977, constitui uma grande rapsódia mestiça, cantada sobretudo por mulheres. Minha hipótese é, pois, de que o universo feminino, tanto na autoria da coletânea quanto em seu campo temático, é o que caracteriza estruturalmente essa coleta premiada de poesia popular ibero-brasileira. Através da análise literária (estética), verbovisual e vocal – isto é: através do estudo do plano literário das transcrições dos cantos, bem como da apresentação de algumas fotografias e da análise, dentre elas, de uma que apresenta uma performance, considerada por mim como a “forma” real do gênero –, pretendo mostrar que as intérpretes dos poemas, entre as quais se encontram predominantemente negras e morenas, embora também brancas e “pardas”, todas provenientes das mais variadas classes sociais, perfazendo um arco que vai de mendiga, prostituta e roceiras a funcionárias públicas, longe de serem apenas portadoras e transmissoras passivas da tradição, são antes verdadeiramente autoras dos poemas que cantam, deixando suas marcas estilísticas, sexuais e culturais nos modos pelos quais elas reconfiguram as sequências temáticas, caracterizam as personagens e conduzem as narrativas para o desfecho, constituindo esses passos o que estou chamando simbolicamente de “A poética de D. Caçula”, nome da intérprete que cantou o maior número de poemas para recolha. Para tanto, a partir dessa coletânea, formei um corpus poemático constituído por 51 versões de 10 romances, 5 da tradição ibérica mais 5 da tradição nacional. São eles: Juliana, O Conde da Alemanha, Leonora, Iria a Fidalga e A Moreninha (tradição ibérica), O Caso de João Alves Flor; Aninha; José e Maria; João e Maria e Marido Infeliz (tradição nacional). Minha abordagem, portanto, não é a histórico-filológica, comum nos estudos romancísticos, preocupada em encontrar as fontes dos arquétipos literários europeus desses cantos populares. Esse tipo de abordagem leva a ver as versões brasileiras dos romances como “erros”, no sentido de se distanciarem de seus modelos ibéricos. A abordagem que tenho em mira é a literária (poética), a qual, considerando as diferenças nas versões de quem os canta como marcas autorais, “errâncias criativas”, procura valorizá-las nas análises do conteúdo temático, do estilo e da estrutura composicional dos textos, a fim de compreendê-los em suas profundas relações com a cultura e a literatura brasileiras e com as coautoras, suas intérpretes. Assim, apoiando-me em vários/as autores/as, entre os/as quais R. Menéndez Pidal, Ria Lemaire, Alvanita Almeida Santos, Paul Zumthor, entre outros, pretendo defender a hipótese de que o romance tradicional de temática “novelesca” está relacionado indissociavelmente ao universo feminino, girando, desse modo, sempre em torno de conflitos referentes a questões de família – casamento, traições, amores frustrados etc. –, desempenhando um papel formativo (lúdico e paidético) ambíguo, na constituição identitária da mulher que o canta.
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SORAYA CARVALHO SOUZA BILLER TEIXEIRA
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Terminologia e Terminografia diacrônicas da Medicina Legal: Um estudo dos exames de corpo de delito de mulheres violentadas sexualmente no Sergipe oitocentista
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Orientador : SANDRO MARCIO DRUMOND ALVES MARENGO
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Data: 24/09/2021
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Dissertação
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A Medicina Legal é a Arte de aplicar os conhecimentos e os preceitos da Medicina às diversas questões do Direito, para esclarecê-los ou interpretá-los adequadamente (PEIXOTO, 1910;MAHON, 1801). O ato médico-legal ou perícia médico-legal é, portanto, uma sindicância que exige auditagem corporal, cabendo a realização de exames de corpo de delito por médicos peritos a partir de demanda de autoridades policiais e/ou judiciárias (ALBERTO FILHO,2020; FÁVERO, 1980). O objeto de estudo dessa dissertação de Mestrado são os exames de corpo de delito constantes nos processos-crime oitocentistas de defloramento registrados em Sergipe (SOUZA, 2020; SOUZA, MARENGO, 2020; MARENGO, TEIXEIRA, 2019;TEIXEIRA et al., 2019; SOUZA et al., 2018). O marco inicial de tal período se finca no ano de 1854, data da fonte remanescente mais antiga desse gênero discursivo. Tomando o aporte da Teoria Sociocognitiva da Terminologia (TEMMERMAN, 1997, 2000a, 2000b), da Socioterminologia (FAULSTICH, 2002, 2001; MARENGO, 2020; MARENGO et al., 2019) e da Terminografia (MARENGO, 2017; KRIEGER, FINATTO, 2004; KRIEGER, 2001; FINATTO, 2001; MACIEL, 2001), nosso objetivo central é a construção de uma ficha terminológica com viés sociocognitivo, que possibilite a construção de um glossário com os termos médico-legais extraídos do conjunto de autos de exames de corpo de delito realizados em mulheres vítimas de violência sexual em Sergipe no século XIX. Os objetivos secundários desse trabalho perpassam pelo cumprimento de duas das agendas do Projeto "Para a História do Português Brasileiro" (PHPB), do qual essa dissertação faz parte: a) a primeira consiste na confecção das edições fac-símile e semidiplomática do corpus, editado no rigor filológico e com normas de edição bem estabelecidas (CASTILHO, 2018); e b) a segunda se centra na (re)construção da História Social do Português Brasileiro, uma vez que é possível identificar normas de usos terminológicos em documentos escritos por agentes do campo do Direito e da Medicina, no século XIX (CALLOU; LOBO, 2020; ARRUDA, 2000). As edições semidiplomáticas foram realizadas por meio do software e-Dictor (PAIXÃO DE SOUZA, KEPLER, FARIA, 2013). Metodologicamente, após o preparo das edições, fizemos uso dos programas computacionais AntConc (ANTHONY, 2014) e TermoStat (DROUIN,2010) para auxiliar no processo de extração dos possíveis candidatos a termos médico-legais. Foram identificados 192 termos e suas variações. Aplicamos nossa ficha a 02 (dois) termos que consideramos bem relevantes: <defloramento>, por ser o mais representativo, pois além de ser o mais frequente, é o termo que nomeia a tipologia dos processos-crime com a qual estamos trabalhando; e <membro viril>, por ser a resposta mais frequente para o questionamento sobre qual seria o meio empregado para a prática do crime de defloramento. Ao estudarmos estes termos, foi possível conhecer sobre a macro e micro história social, não só dos conceitos dos termos, mas da própria sociedade sergipana oitocentista. Conforme foi apontado por Marengo (2016), a Terminologia Diacrônica consegue unir os estudos do sistema linguístico e a inter-relação com a história e a cultura. Dessa forma, nossa pesquisa constitui uma contribuição importante para os estudos diacrônicos e sócio-históricos de linguagens especializadas e dos discursos a elas conexos.
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SOLANGE XAVIER CRUZ
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O QUE É QUE A MODERN FAMILY TEM? AUTOETNOGRAFIA DE UMA PROPOSTA DE TRABALHO PARA AULAS DE LÍNGUA INGLESA
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Orientador : MARLENE DE ALMEIDA AUGUSTO DE SOUZA
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Data: 24/08/2021
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Dissertação
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Nessa pesquisa, narro experiências vividas durante o processo de elaboração de uma Sequência Didática para as aulas de Língua Inglesa. Essas narrativas, de cunho subjetivo e, concomitantemente, reflexivo-teórico, têm por objetivo geral analisar e descrever o percurso de elaboração de uma Sequência Didática que visa problematizar as diferentes estruturas familiares da contemporaneidade a partir do primeiro episódio do seriado de TV Modern Family. Utilizei a autoetnografia como estratégia metodológica da pesquisa qualitativa, porque sua abordagem reconhece e acomoda a subjetividade e as vivências do pesquisador na pesquisa (ELLIS; ADAMS; BOCHNER, 2011; JONES; ADAMS; ELLIS, 2016.). Assim, como âncora teórica, essa pesquisa buscou referências nos estudos sobre os multiletramentos (COPE; KALANTZIS, 2016; DUBOC, 2011, 2015; KRESS, 2000; LANKSHEAR; KNOBEL, 2011), letramento crítico (MENEZES DE SOUZA, 2011, 2011b; CERVETTI; PARDALES; DAMICO, 2001; MONTE MÓR, 2000, 2014, 2015; JORDÃO, 2013), identidades (HALL; SILVA, 2000), gênero (COSTA; SILVERA; MADEIRA, 2012; FURLAN; MÜLLER, 2013; LOURO, 1997, 2000, 2008; SCOTT, 1995) e família (CACCIACARRO; MACEDO, 2018; CANIÇO et al., 2010; CASTELLS, 1999, GIMENO, 2001), que serviram de suporte para a elaboração dessa proposta pedagógica. Narrar esse percurso foi ao mesmo tempo um trabalho de autoconhecimento e ressignificação, entendendo a relevância de minhas experiências, meus saberes e fazeres como professora e pesquisadora. Meu propósito não foi estabelecer um modelo de prática a ser seguido, mas promover possíveis diálogos com outros professores e profissionais da educação, partindo do individual para outras experiências e saberes, a fim de expandir perspectivas e (des)construções de sentidos, em decorrência de uma avaliação crítica de nossas práticas.
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ELLEN DOS SANTOS OLIVEIRA
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JESUS CRISTO NO EPOS DO NEGRINHO DO PASTOREIO: DA LENDA À
SÚPLICA AO NEGRINHO DO PASTOREIO (1959), DE FERNANDES BARBOSA
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Orientador : AFONSO HENRIQUE FAVERO
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Data: 30/07/2021
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Tese
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Esta tese de pesquisa analisa a presença de Jesus Cristo no epos do “Negrinho do Pastoreio”, um personagem lendário famoso no universo histórico, mítico e cultural na Literatura brasileira e estrangeira, e demais manifestações artístico-culturais, tais como cinema, teatro, artes plásticas, escultura, entre outras. Considerando o amplo repertório sociocultural que consagra o heroísmo do “Negrinho do Pastoreio”, para desenvolvimento da tese foi feito um mapeamento e análise das produções literárias publicadas entre 1857 a 1959, no Brasil, no Uruguai e na Argentina. Trata-se, portanto, de uma pesquisa histórica, documental e literária na qual foram utilizadas várias metodologias – Análise Literária, Análise Histórico-Literária, Crítica Genética, Literatura Comparada e Entrevistas – para o desenvolvimento de uma tese monográfica e teórica que tomou como objeto de análise a natureza do epos do “Negrinho do Pastoreio”, construída histórica e culturalmente de forma correlacional aos feitos redentores de Jesus Cristo, desde as primeiras manifestações da lenda até o poema épico em Súplica ao negrinho do pastoreio, de Fernandes Barbosa. Nesse poema épico, em especial, constata-se que por meio da imortalidade épica e dos referenciais míticos simbólicos da tradição judaico-cristã, e da participação do eu lírico-narrador do relato épico, o “Negrinho do Pastoreio” pode ser interpretado como uma metáfora de Cristo e do próprio autor.
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LUCAS SANTOS SILVA
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Análise acústica ou de oitiva? Contribuições para o estudo da palatalização em Sergipe
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Orientador : RAQUEL MEISTER KO FREITAG
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Data: 30/07/2021
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Dissertação
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As realizações palatalizadas de /t/ e /d/, como em tia/ʧia ou dia/ʤia, configuram-se como um marcador dialetal no Português Brasileiro e ecentemente tem emergido na fala de sergipanos (SOUZA NETO, 2014 [2008]; SOUZA, 2016; CORRÊA, 2019). Contribuindo com a descrição da palatalização em Sergipe, e tendo em vista que processos fonológicos da fala podem ser transpostos para a leitura (PINHEIRO et al., 2017, SOUZA; SILVA; DE ARAÚJO JÚNIOR, 2020; FREITAG, 2020), o nosso objetivo geral é examinar características acústicas na palatalização de /t/ e /d/ na leitura em voz alta de estudantes de diferentes perfis geográficos da Universidade Federal de Sergipe (UFS), descrevendo as realizações em três níveis: oclusiva alveolar [t, d], oclusiva alveolar com efeito de aspiração [tʰ] e alveolopalatal [ʧ, ʤ]. Como referencial teórico, baseamo-nos nas perspectivas da sociofonética (FOULKES et al., 2010; GONÇALVES; BRESCANCINI, 2017), área que põe no limiar as áreas da Sociolinguística e da Fonética. Como método, nosso corpus de investigação é composto por 36 gravações de leituras em voz alta do texto Vida de Cinema, de Érico Veríssimo (2019), realizadas com alunos de graduação da UFS, campus Professor José Aloísio de Campos (São Cristóvão/SE), estratificados a partir de sua região de origem, em três deslocamentos: I) moradores da grande Aracaju (nascidos e criados); II) moradores do interior do estado (nascidos e criados) que se deslocam no movimento pendular para estudar na universidade; III) nascidos e criados no interior, mas que vieram morar na capital por causa da universidade. A categorização acústica do fenômeno foi analisada no PRAAT (BOERSMA; WEENINK, 2017). A partir de 831 dados, foram realizadas três análises: (I) comparação entre leitura e fala (comparativo entre os dados de fala espontânea [CORRÊA, 2019], com categorização de oitiva, e os dados de leitura em voz alta, com categorização acústica); (II) análise categórica (descrição do fenômeno em três níveis - oclusivas alveolares, oclusivas alveolar com efeito de aspiração e alveolopalatais); e (III) análise acústica (utilizada para analisar a duração do tempo do início de vozeamento - VOT - nos três níveis analisados). Na comparação entre leitura e fala, observamos maiores taxas de ocorrência de palatalização na leitura em voz alta (48.98%) do que na fala (12.75%), resultado associado aos critérios acústicos para a identificação do fenômeno, ao prestígio da palatalização na comunidade e ao fato da tarefa de leitura ser altamente monitorada e consciente pelos estudantes. Quanto à análise categórica, os resultados apontam que a produção de oclusivas aspiradas e alveolopalatais emerge, inicialmente, nos universitários da grande Aracaju e recém-chegados à UFS, e os contextos favorecedores para esta emergência são os das fricativas alveolopalatais (em contexto precedente), das vogais orais (em contexto seguinte), das sílabas tônicas e postônicas finais, dos sons desvozeados, seguindo a tendência de estudos prévios (BARBOZA, 2013; SOUZA NETO, 2014 [2008]; SOUZA, 2016; SILVA FILHO, 2018; CORRÊA, 2019). Em relação à análise acústica, as médias de VOT para as realizações desvozeadas analisadas foram de 31.5 ms para as oclusivas alveolares, 50.7 ms para as oclusivas aspiradas e de 80.0 ms para as alveolopalatais, com diferenças estaticamente significativas quando associadas à região dialetal do estudante, sexo/gênero, contexto seguinte e tonicidade. Com a proposta da análise acústica, os resultados sinalizam o estágio avançado para a consolidação das realizações alveolopalatais e os efeitos do deslocamento, do ambiente acadêmico e dos contextos fonotáticos específicos na emergência de usos linguísticos. Destacamos a limitação da amostra, sobretudo, no que diz respeito à assimetria dos contextos linguísticos analisados. A ampliação para contextos mais pareados pode ampliar o poder explanatório da emergência na palatalização em Sergipe.
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JOSÉ RICLEBERSON VIEIRA ALVES
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A FORÇA QUE NUNCA SECA: NARRATIVAS SOBRE PERFORMATIVIDADES DE PROFESSORAS/ES/IES DISSIDENTES DE ESCOLAS PÚBLICAS
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Orientador : VANDERLEI JOSE ZACCHI
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Data: 02/07/2021
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Dissertação
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O novo perfil da Linguística Aplicada Contemporânea, que se quer crítica, transgressiva (PENNYCOOK, 2006), INdisciplinar e mestiça (MOITA LOPES, 2006b), trata-se de um movimento de natureza interdisciplinar/transdisciplinar, cujos pesquisadores buscam a criação de inteligibilidades sobre problemas sociais a partir de uma perspectiva de linguagem que é entendida como performance (AUSTIN, 1990 [1962]) ou prática social (MOITA LOPES, 2006b) e que tem um papel central de modo a falar sobre o mundo atual. Por estar situado na transgressão, na INdisciplina e na mestiçagem, este estudo objetiva analisar, através de narrativas, como são construídas discursivamente as performances identitárias de professoras/es/ies dissidentes de escolas públicas. Dessa forma, esta pesquisa chama a atenção para a existência da relação indissociável entre as performances identitárias e as narrativas, pois as pessoas, ao se narrarem, podem reforçar e também recriar quem elas são (WORTHAM, 2000; MELO; MOITA LOPES, 2014). Apoiando-se numa perspectiva queer, as identidades não são entendidas, neste estudo, como pré-formadas, mas sim como performativas (BUTLER, 2019a [1990]; PENNYCOOK, 2004), visto que elas são produzidas na linguagem. Sendo assim, a performatividade (BUTLER, 2019a [1990]), como modalidade discursiva que constrói os sujeitos, é uma possibilidade de desterritorialização do caráter “natural” e “essencial” do gênero, implicando a estilização repetida dos corpos, sempre dentro dos sistemas de regulação (Butler, 2019a) e também na transformação e na subversão. Nesse sentido, a performatividade coloca em suspeita todas as performances de gênero, por serem ficcionais e por serem produzidas por meio de estilizações repetidas. Portanto, à luz de uma perspectiva queer e dos estudos pós-críticos em educação, adotei como metodologia a pesquisa (auto)biográfica, de natureza qualitativa interpretativista para a geração e interpretação dos dados, com destaque para as narrativas (ABRAHÃO, 2004) bem como para as entrevistas, narrativas e questionários como instrumentos de coleta de dados para a compreensão das trajetórias de vida de docentes/ies dissidentes, cujas performances de gênero resistem à produção da cisheteronormatividade no cotidiano escolar. Em vista disso, considero que este é um estudo performativo, pois ele inverte os insultos em um sentido político e de orgulho, à medida em que renarra modos de existir diferentemente da forma depreciada e essencializada que foram narrados no passado.
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ALANA LOUISE ALMEIDA LIMA
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O AMANHECER DA MODERNIDADE EM LÚCIA MIGUEL PEREIRA
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Orientador : AFONSO HENRIQUE FAVERO
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Data: 18/06/2021
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Dissertação
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O presente trabalho busca analisar de que modo o processo social da modernidade brasileira se articula com a forma literária do romance Amanhecer (1938), de Lúcia Miguel Pereira. Na obra, a jovem Maria Aparecida escreve um pequeno livro de memórias dos últimos dois anos de sua vida. Em suas reflexões convivem contraditoriamente valores tradicionais e modernos, que são revelados ao longo da narrativa a partir da interação da narradora-protagonista com os outros personagens do romance. Tendo em vista nosso objetivo de pesquisa, investigamos primeiramente aspectos da formação da literatura brasileira de modo a compreender como nossa literatura se formou e se organizou esteticamente diante das contradições históricas às quais o Brasil foi submetido. Em seguida, traçamos um panorama histórico do processo social dramatizado no romance com o propósito de apreender a conjuntura que engendrou o romance de 1930 e buscamos também situar brevemente a questão da autoria feminina nesse contexto. Apoiamo-nos também sobre teóricos e tendências diversas dos estudos literários que discorrem sobre a relação literatura-sociedade, tais como Vásquez (1978), Bakhtin (2014), Lukács (1978; 2000), Adorno (1970), Candido (1970; 2006), Schwarz (2000; 2002), além de estudos sobre narrador e personagens no gênero romance em Dal Farra (1978), Rosenfeld (1969; 1974), Adorno (1983), Candido (1974). Buscamos neste referencial teórico percursos e recursos metodológicos que nos instrumentalizem para análise do processo de internalização e formalização dos dados históricos externos transformados em elementos estruturantes de uma forma artística. Por fim, dedicamo-nos à análise do romance partir de leituras sob diferentes ângulos da narrativa no intuito de que essas leituras iluminem umas às outras de modo que a articulação entre a forma literária do romance e o processo social de modernização brasileira seja revelada. Avaliamos que a obra é atravessada por tensões diversas manifestadas nas relações ambíguas e contraditórias entre o passado e o presente, entre as personagens femininas e masculinas e, também, entre as personagens brancas, negras e mestiças. Essas tensões também se expressam nas oscilações de nossa protagonista, cujas posições não se firmam definitivamente. É a partir disso que se constrói a motivação da escrita de suas memórias: o intuito de Aparecida é fixar as coisas, que se mostram condenadas a se dissolver em novas dúvidas, o que ratifica a percepção de Bueno (2006) de ser essa obra uma das principais representantes do que ele denomina de “romances da dúvida” do final da década de 1930. Todas essas leituras convergem para a compreensão de que Amanhecer, mesmo em sua proposta que focaliza a sondagem intimista de sua narradora e personagens, formaliza em seus elementos constitutivos o processo de modernização contraditório pelo qual passava o país naqueles tempos, interiorizando, assim, aspectos sócio-históricos. Tal contradição se assenta em um processo que não rompe com as estruturas tradicionais, mas as reafirma com novas roupagens. Acreditamos que os resultados desta pesquisa possam contribuir para novas percepções nos estudos sobre o Romance de 1930 principalmente quanto às figurações das mulheres – enquanto narradora e nas personagens – e dos negros e mestiços, ainda pouco estudadas nas narrativas desse período.
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DEBORA SIMÕES ARAUJO
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O LUGAR DO GÊNERO DISCURSIVO NO CELPE-BRAS: o contraste entre reportagens em circulação no Sudeste e no Nordeste brasileiro
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Orientador : ISABEL CRISTINA MICHELAN DE AZEVEDO
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Data: 31/05/2021
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Dissertação
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O Celpe-Bras é o exame oficial do Brasil que certifica a proficiência em português brasileiro como língua estrangeira, está dividido em uma parte oral e uma escrita, cujos textos de apoio são gêneros discursivos autênticos e midiáticos. Tendo em vista que o Brasil é um país de dimensão continental, este trabalho visa a identificar se há representação de todas as regiões do país no exame, logo surge o problema desta pesquisa, a saber: entender a relação entre o gênero preponderante encontrado no Celpe-Bras e a representatividade que esse gênero tem em relação à diversidade do português brasileiro. A partir disso, toma-se como objetivo investigar os impactos de um gênero discursivo presente no exame Celpe-Bras para entender as possibilidades de registro da diversidade do português brasileiro. Esta análise está pautada no conceito bakhtiniano de estilo e se dará por meio da comparação entre dois corpora, o que será realizado com base na metodologia quanti-qualitativa. A análise busca compreender a organização dos documentos oficiais do Celpe-Bras. Inicialmente, os corpora desta pesquisa são constituídos por reportagens retiradas do material de insumo do exame e de sites de jornais nordestinos. Assim, após separar todas as reportagens utilizadas nos mais de vinte anos do exame, foram coletadas reportagens de circulação nordestina com conteúdo temático similar, a fim de observar se, ao abordar as temáticas, os materiais se distinguem quanto ao estilo do gênero, com especial interesse pela representatividade do Nordeste nos insumos que compõem as provas. Trata-se de uma investigação documental que reúne e tem como aporte teórico os conceitos de exame de proficiência e tarefa, os quais são importantes para o entendimento de como o Celpe-Bras está estruturado (BROW, 2005; SCARAMUCCI, 2000, 2001, 2012; WIDDOWSON, 1991; ZANÓN, 1999). Para tratar do conceito de gênero discursivo, foram usados os trabalhos de Bakhtin (1997, 2016 [1952-1953]), Fiorin (2016) e Rojo (2005). A literatura mais específica sobre o estilo neste trabalho é formada principalmente por Bakhtin (2013 [1942-1945], 2016 [1952-1953]), Volóchinov (2017[1929]), Fiorin (2016) e Azevedo (2018). Como resultados, constatou-se o predomínio do gênero reportagem em relação aos demais gêneros discursivos presentes no exame. Ademais, foi averiguado que entre as reportagens presentes no material de insumo do Celpe-Bras e em circulação nordestina, doravante corpora desta investigação, há diferença entre os estilos que a compõe. Com relação ao estilo, este trabalho tomou como base analítica um uso linguístico específico, a voz passiva analítica, haja vista que o estilo do gênero corresponde aos usos linguísticos presentes nele. A diferença de estilos entre um mesmo gênero discursivo de regiões diferentes provocou a discussão deste trabalho em torno da limitação de gênero predominante no escopo do material de insumo das tarefas III e IV do exame Celpe-Bras.
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JOÃO CARVALHO DE SOUZA JÚNIOR
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ENTRE ECOS E REFLEXOS: UMA AUTO-ETNOGRAFIA DAS PERFORMANCES DE MASCULINIDADES ONLINE NO GRINDR
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Orientador : MARLENE DE ALMEIDA AUGUSTO DE SOUZA
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Data: 25/05/2021
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Dissertação
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No mito de Eco e Narciso, Eco estava condenada a sempre repetir o comportamento alheio, desde as palavras até os desejos (CARVALHO, 1998). Certo dia, Eco encontrou Narciso que, por sua vez, já estava apaixonado por seu próprio reflexo na beira de um lago. Assim os dois experimentaram uma relação trágica. Eco, amaldiçoada, estava fadada a repetir o que ouvia de Narciso, que por sua vez, apaixonado por si mesmo, ouvia o que Eco repetia como uma extensão dessa paixão narcísica. Na vida social e acadêmica por vezes no encontramos entre esses ecos e reflexos: na posição de Eco, estamos fadados a ecoar discursos (FOULCAULT, 1982), como os das normas de gênero (MISKOLCI, 2016) e seus padrões de performances (BUTLER, 2003); enquanto isso, na posição de Narciso, discursos dominadores vão refletindo em nós modelos sobre como agir, moldando-nos desde os nossos comportamentos sexuais (BOURDIEU, 2012) até os nossos comportamentos acadêmicos (RAJAGOPALAN, 2010). Desta forma, nessa pesquisa autoetnográfica (ANDERSON, 2006), me coloquei na posição de um Eco/Narciso consciente da(s) sua(s) maldição(ões) mitológica(s) e que busca compreender os ecos e os reflexos dos discursos, dos padrões e das disciplinas sobre a minha própria performance online. Analisei os processos de construção das minhas performances em uma rede geossocial para homens que buscam por relações sexuais/afetivas com outros homens, o Grindr, ou seja, quais estratégias linguistico-semióticas eu utilizei para construir-me como um perfil desejável nessa rede. Busquei utilizar a Linguística Aplicada através de uma perspectiva mais indisciplinar (MOITA LOPES, 2006) e Queer (BORBA, 2015), atravessando limites acadêmicos sempre que se fez necessário na busca de melhor compreender como discursos heteronormativos refletem na língua e na linguagem e consequentemente ecoam nas nossas performances de gênero, que nesta pesquisa focou-se para esse fenômeno dentro do aplicativo Grindr. Entre ecos e reflexos, entre descrições e análises, pude constatar que na busca por aceitação em aplicativos de encontro como o Grindr, e influenciados por discursos e normas, nós, usuários desse tipo de aplicativo, tendemos a repetir determinadas performances que com o tempo vão contribuindo para o surgimento de padrões performativos aceitáveis e desejáveis, os quais ciclicamente vamos tentando nos encaixar, fazendo surgir homonormatividades, em processo de encaixe e desencaixe nesses padrões, que são sócio-histórico e discursivamente construídos.
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FERNANDA GABRIELLE COSTA RODRIGUES
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Variação na regência de complementos locativos de verbos de movimento na fala de universitários da UFS
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Orientador : RAQUEL MEISTER KO FREITAG
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Data: 27/04/2021
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Dissertação
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Desde o latim, as preposições a, para e em variam na introdução dos complementos locativos de verbos de movimento do tipo de ir, vir, chegar e levar, como em “voltei à/na/pa ra a universidade”. No português brasileiro, esse fenômeno é associado à escolarização do falante, a preposição para é a mais produtiva, variando com em, e a está em processo de desuso, mas esse processo é mais lento em contextos muito escolarizados (MOLLICA, 1996; RIBEIRO, 1996; VALLO, 2003; WIEDEMER, 2008). A ampliação do acesso ao ensino superior no Brasil permitiu contatos entre estudantes de diferentes regiões, que reverberam na língua. Na Universidade Federal de Sergipe, os estudantes são provenientes de diferentes regiões do estado e da circunvizinhança, e essa diversidade configura-se como um fator dialetal que pode interferir na variação da regência de complementos locativos de verbos de movimento. Assumimos a perspectiva da Teoria da Variação e Mudança Linguística WEIREINCH; LABOV; HERZOG, 2006[1968]; LABOV, 2008[1972], 1978, 1994) para analisar a alternância de preposições na regência dos verbos de movimento. O corpus é a amostra Deslocamentos (2019/2020), composto por amostras coletadas com estudantes da Universidade Federal de Sergipe que compõem o banco de dados Falares Sergipanos (FREITAG, 2013). Controlamos os efeitos do deslocamento, tempo no curso e sexo (variáveis sociais) e de configuração do espaço, definitude, determinação, traço de permanência, narratividade do discurso, verbo e material interveniente (variáveis linguísticas), por meio de testes de associação e por análise de árvore de inferências condicionais, técnica aplicada para identificar padrões de comportamento linguístico semelhantes (FREITAG, PINHEIRO, 2020; FREITAG, et al. 2021). Foram identificados 1041 contextos de complementos locativos de verbos de movimento, dos quais 71% regidos pela preposição para, 24% pela preposição em e 5% pela preposição a. Os efeitos das variáveis linguísticas seguem os padrões identificados nos estudos anteriores, reforçando o caráter de mudança em curso do fenômeno. A análise da árvore condicional apresenta evidências da categorização das preposições para e em em domínios funcionais diferentes, constituindo-se como como estratégia de desambiguização para indicar a maior ou menor permanência em locativos em que não é possível inferir, pragmaticamente, o tempo de demora. Quanto aos efeitos dialetais, controlados por meio do deslocamento dos falantes, estudantes do interior, que vem para a universidade e voltam para suas casas diariamente, fazem maior uso da preposição em, com 26%. Já os estudantes que vieram do interior para morar na capital sergipana para estudar apresentam 22%, enquanto os estudantes da capital apresentam 20% de ocorrência da preposição em. Da comunidade externa à Sergipe, estudantes alagoanos apresentam comportamento linguístico similar ao padrão da capital sergipana, 19% de uso de em, enquanto estudantes baianos apresentam um comportamento divergente, 35% de uso de em, sugerindo um efeito de áreas dialetais para a dinamização da mudança.
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ALEXSANDRA DOS SANTOS BISPO
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Entre o épico e o lírico: hibridismo na poesia de Leda Miranda Hühne
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Orientador : CHRISTINA BIELINSKI RAMALHO
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Data: 26/02/2021
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Dissertação
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A presente pesquisa estuda parte da produção poética de Leda Miranda Hühne, com o objetivo de mostrar que seus poemas longos configuram casos de hibridismo entre os gêneros lírico e épico. Para isso, empreende-se uma análise das obras Fim de Um Juízo (1986) e As Cantilenas do Rei-Rainha (1988) que revelam, entre outros aspectos, que sua poética faz-nos despertar para uma consciência sociopolítica mais crítica, permitindo-nos refletir sobre a violência das relações autoritárias como uma das marcas da sociedade brasileira. De outro lado, em termos estéticos, são visíveis em sua produção tanto a influência da poesia concreta quanto a unidade estrutural que, mesmo nos casos em que estejam presentes poemas individualmente intitulados, conferem à obra como um todo um princípio, meio e fim que dita a sequência da leitura. Assim, os poemas longos de Hühne, tal como será demonstrado, caracterizam-se pelo hibridismo entre o lírico e o épico e se inserem, inclusive, na trajetória do épico a partir do século XX, quando a presença do hibridismo é bastante relevante. Na área das expressões literárias, de forma geral, podemos observar um grande percentual de interpenetrações de gêneros. As abordagens teóricas que compõem esta pesquisa buscam, como fundamento, o diálogo entre estudos da crítica e da teoria literária, como os de Aristóteles (1973) e Staiger (1977); os do hibridismo, como os de Ramalho e Silva (2007); os do gênero épico, como os de Bowra (1950), Gancedo (2009), Silva (2007) e Ramalho (2007, 2013); e os do gênero lírico, como os de Frye (1957), Friedrich (1978), Paz (1982); dentre outros.
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ELILIANE SANTOS FERREIRA
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OS CORPOS DA VIA CRUCIS: O Efeito Cômico em Clarice Lispector
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Orientador : FERNANDO DE MENDONCA
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Data: 26/02/2021
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Dissertação
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O objetivo desta pesquisa é abordar o corpo feminino e o efeito cômico na obra A via crucis do corpo (1974), compilação de contos de Clarice Lispector que carrega uma temática diferente de suas outras obras, e que por isso não teve a mesma aceitação crítica. Composto por treze contos, nos fala sobre temas como sexualidade na melhor idade, masturbação e traição. As classificações que recebeu, encobriram seu verdadeiro e real potencial, no entanto, o cenário diante dessa obra vem sendo mudado a partir das perspectivas críticas feministas e dos estudos de gênero. Abordaremos dois vieses presentes nesse texto lispectoriano, que serão o corpo das personagens femininas e o efeito cômico. Para a construção e argumentação do primeiro ponto, utilizamos autores como David Le Breton (2010) e Elódia Xavier (2007), enquanto para a construção do cômico partimos das concepções de Henri Bergson (2007) e Sigmund Freud (1905), alertando que tantos outros de tamanha importância ainda são acrescentados no decorrer da pesquisa, como Benjamin Moser (2009), Vilma Arêas (2005), Gérard Genette (2009) e outros. Esta pesquisa se vale de um método qualitativo, apoiando-se em fichamentos de cunho teórico para a leitura e análise dos treze contos. O intuito é mostrar que a relação corpo/cômico se dá no decorrer de todas as narrativas, buscando dar ênfase nos estudos dessa relação e da obra em questão, uma vez que notamos não haver reflexões prévias que aprofundem tais aspectos na referida obra.
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JOÃO PAULO LIMA CUNHA
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KD O PAI DESSA CRIANÇA?!: UMA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E COMUNICACIONAL DO DISCURSO DE ATORES SOCIAIS PAIS DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN.
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Orientador : CLEIDE EMILIA FAYE PEDROSA
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Data: 25/02/2021
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Tese
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As pesquisas fundamentadas nos pressupostos dos Estudos Críticos do Discurso centram suas análises sobre uma problemática social que contenha a linguagem como fator determinante. Não basta ser um problema, é necessário que a linguagem esteja no cerne dele para que seja objeto de estudo. Sendo assim, a partir do acompanhamento de vídeos na plataforma do YouTube sobre o que é a síndrome de down (SD), verificamos que diversos comentários questionavam o exercício da paternidade. Diante disso, já que sou pai de uma menina com SD, refletimos sobre os diversos papéis sociais que são exercidos pelos pais. Ainda nos indagamos sobre como os discursos legitimam relações de abuso de poder, afetando o bem-estar social das crianças com SD. Isso nos motivou a buscar compreender como os pais estavam sendo representados no discurso. Por conseguinte, construímos um empreendimento crítico, transdisciplinar, de base qualitativo-interpretativista, fundamentado na Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso (PEDROSA, 2014, 2016), que associou os Estudos sobre Identidades de Bajoit (2006, 2008, 2009) aos estudos sobre o Sistema de Transitividade de Halliday (2004). Construímos assim o objetivo de compreender as múltiplas representações dos atores sociais pais de crianças com SD, operacionalizadas pelo sistema de avaliação ideológica, concretizadas no espaço midiático dos comentários de vídeos no YouTube, por meio da associação teórica entre as esferas identitárias e os processos verbais. Nessa perspectiva, defendemos a tese de que o ator social é constituído pela esfera identitária (atribuída, desejada e comprometida) e representado linguístico-discursivamente por processos verbais: fazer, ser, sentir, dizer, existir e comportar-se. Além disso, ser ator é ser resposta das diferentes tensões estruturais e das relações estabelecidas nas práticas sociais; é ter a capacidade também de questionar suas tensões (BAJOIT, 2006, 2008, 2009; PEDROSA, 2014, 2016). Para desenvolvermos essa tese, observamos 1.163 comentários, presentes em oito vídeos, postados no YouTube, que tratavam da SD. Assim sendo, selecionamos 150 comentários que utilizaram menções semânticas à paternidade para compor o corpus de análise. Como resultados, verificamos três categorias de atores (atores de identidade atribuída, de identidade desejada e de identidade comprometida) que se representam linguístico-discursivamente pelo fazer, sentir, ser, existir, dizer e comportar-se. Essas representações são operacionalizados pelo sistema de avaliação ideológica, instanciados sociocognitivamente pelas relações de abuso de poder (VAN DIJK, 1997; 2008; 2012), exprimindo discursos machistas, estereotipados (DESCHAMPS; MOLINER, 2009), naturalizados (FAIRCLOUGH, 2008; VIEIRA, 2017) e com relações assimétricas de poder (THOMPSON, 2002; DIJK, 2008). Ainda encontramos discursos comodificados (FAIRCLOUGH, 2008), colonizados (RESENDE, 2019) e glamourizados (SIFUENTES, 2017; 2018), tanto em relação ao pai quanto em relação às pessoas com SD. A pesquisa nos permite indicar a necessidade de mudança social acerca da problemática. Para tal, propomos práticas de letramentos, “aquisição discursiva”, influenciando ações futuras dos atores – por meio de peças publicitárias, leis, cursos de capacitação e ‘domínio’ das redes sociais, a fim de propor o controle discursivo, em uma contribuição efetiva para a conscientização e reflexividade crítica (GIDDENS, 1991; BAJOIT, 2006) dos envolvidos com o contexto das pessoas com SD. Por fim, nossa tese contribui com a evolução teórica e metodológica da Abordagem Sociológica e Comunicacional do Discurso, enquanto proposta dos Estudos Críticos do Discurso.
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JOSEFA FELIX DO NASCIMENTO
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OS COSTUMES COMO FONTES DAS POLÍTICAS E DOS DIREITOS LINGUÍSTICOS EM UMA COMUNIDADE CIGANA DE ITABAIANINHA-SE
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Orientador : RICARDO NASCIMENTO ABREU
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Data: 25/02/2021
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Dissertação
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Abordando especificidades quanto aos costumes e à língua cigana no seio de uma comunidade de tradição oral, essa pesquisa tem por finalidade a análise dos modos por meio dos quais os planejamentos e os usos linguísticos adotados por esta fazem emergir políticas linguísticas praticadas e percebidas, amparadas em regras consuetudinárias, as quais se configuram como verdadeiras estratégias de resistência cultural e identitária da comunidade cigana para sobreviver a um entorno social que, em geral, os estigmatiza. Para tanto, a presente pesquisa de cunho linguístico-antropológico foi desenvolvida dentro da área de Estudos Linguísticos, numa perspectiva da Política Linguística (PL), ancorada nos estudos de Spolsky (2004), e dos Direitos Linguísticos (DL), com fundamentação nas conjecturas de Arzoz (2009), Abreu (2019) e Sousa Santos (2011), em torno dos usos sociais de uma língua cigana em território sergipano, em especial, no município de Itabaianinha. À vista disso, este estudo tem como objetivo geral investigar os usos e planejamentos linguísticos da língua dos ciganos em/de Itabaianinha, e, nessa conjuntura, toma-se como horizonte a necessidade de entender e debater as políticas linguísticas propostas pelo líder da comunidade como forma de resistência da cultura cigana e meio de defesa na convivência com os falantes da língua oficial e majoritária. Para tanto, a abordagem adotada para esse trabalho é predominantemente descritivo-etnográfica e no que diz respeito aos meios para obtenção das informações, a pesquisa classifica-se como bibliográfica e de campo (etnográfica). Assim, inicialmente, foi feito um desdobramento exploratório do referencial teórico, depois, pesquisa de campo e averiguação do que foi observado. E para isso, não foi ignorada a estratégia do estudo de caso que contribuiu para o entendimento dos pontos positivos e negativos para o não uso da língua cigana em meio a sociedade brasileira majoritária. Este trabalho de campo se baseou em relatos, entrevistas gravadas, observação e participação nas rotinas da comunidade, que, não obstante, reafirmou o olhar da antropologia e permitiu uma compreensão de como a comunidade estudada organiza suas práticas sociais e culturais em torno de uma língua própria, gerida através de políticas linguísticas internas à comunidade. Tendo como metodologia uma abordagem etnográfica, que requer uma investigação direta da pesquisadora junto à comunidade cigana. Foi necessário realizar o cadastro da pesquisa na Plataforma Brasil, para sua apresentação e para apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Sergipe. À guisa de conclusão, a presente pesquisa já é capaz de revelar, preliminarmente, alguns resultados que apontam na direção de que na comunidade cigana de Itabaianinha SE existem políticas linguísticas alicerçadas em normas consuetudinárias que regulam a vida da e na comunidade, tais quais: a. interdição do ensino da língua cigana aos falantes da língua portuguesa; b. uso do português para interação com os não ciganos em situações que extrapolam as rotinas internas da comunidade; c. uso alternado das línguas (português/cigana) nas situações envolvendo a intimidade familiar; d. uso da língua cigana em ambientes/situações restritas aos ciganos, tais quais cerimônias, reuniões comunitárias e ritos de passagem.
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LIA NARA FIGUERÊDO DA SILVA
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DIREITOS LINGUÍSTICOS E SUA PERMEABILIDADE NO SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: UM ESTUDO NO ÂMBITO DA CIDH
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Orientador : RICARDO NASCIMENTO ABREU
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Data: 25/02/2021
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Dissertação
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Após a Segunda Guerra Mundial, o tema das conquistas das minorias assumiu, ao redor do mundo, uma marcante posição nos debates sobre o reconhecimento e a legitimação da diversidade cultural, sobretudo no que se refere às minorias linguísticas. Nessa perspectiva, propomos a análise das denúncias de violações de direitos linguísticos admitidas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos – CIDH, ao longo dos seus 50 anos de existência, com o objetivo central de identificar a noção de “direito linguístico” com a qual opera a CIDH no processamento das denúncias contra Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). Entendemos que o estudo dos direitos linguísticos demanda uma abordagem transdisciplinar, pela natureza desse campo, que se situa na interseção entre o Direito e a Linguística. Portanto, recorre-se, nesta pesquisa, a uma gama de referenciais teóricos que se coadunam para elaborar uma compreensão sobre os direitos linguísticos como direitos humanos. Dessa forma, julgamos ser fundamental para a análise empreendida a contextualização jurídica em termos de direito internacional público; para tanto, recorremos aos estudos de Piovesan (2013) e Ramos (2014). Quanto à metodologia, nesta pesquisa documental, consideramos que muitos conflitos linguísticos geradores das denúncias levadas à CIDH se explicam pela ação e/ou omissão deliberada dos Estados, em desfavor, principalmente, de comunidades indígenas, de imigração, de refugiados e demais grupos cujos idiomas, não raro, sequer são reconhecidos pelo Estado, tampouco gozam de estatuto jurídico no ordenamento daqueles países em que se encontram. Assim, compreendemos que, através das políticas linguísticas implementadas pelos Estados, criam-se ou resolvem-se conflitos linguísticos. Com vistas a desenvolver uma reflexão teórica sobre direitos linguísticos, recorremos às concepções de Abreu (2018, 2019, 2020), Skutnabb-Kangas e Phillipson (1995) e Arzoz (2009). Neste estudo, também nos interessam as teorias que versam sobre minorias linguísticas, de Varennes (2001), e sobre conflito linguístico, de Dubinsky e Davies (2018), além das relações entre língua e poder estabelecidas em Bourdieu (2008); em relação aos aspectos metodológicos dos estudos em Política Linguística, recorremos aos estudos de Ricento (2006). Esta pesquisa será composta pela análise realizada no conjunto de 54 (cinquenta e quatro) informes de admissibilidade que tratam de questões linguísticas, extraídos de um banco de dados com um total de 2891 (dois mil e oitocentos e noventa e um) casos admitidos pela CIDH, no período compreendido entre os anos de 1970 e 2019. Os resultados preliminares desta pesquisa são apresentados através do quantitativo de denúncias por violação de direito humano linguístico por Estado-membro da OEA; do quantitativo de denúncias de violação de direito humano linguístico a partir da posição do objeto da demanda – se principal ou incidental; como também através da classificação tipológica dos conflitos linguísticos e da exposição das normas de direito internacional de direitos humanos invocadas para admissibilidade da denúncia.
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FABIANA DOS SANTOS
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LOUISE MAY ALCOTT E ALINA PAIM: UMA LEITURA COMPARADA DA FORMAÇÃO DAS PROTAGONISTAS EM MULHERZINHAS (1868) E
A SOMBRA DO PATRIARCA (1950)
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Orientador : ANA MARIA LEAL CARDOSO
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Data: 25/02/2021
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Tese
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Esta pesquisa tem como objetivo analisar os romances Mulherzinhas(1868) de Louise May Alcott e A Sombra do Patriarca (1950) de Alina Paim. Partindo dos estudos de literatura comparada e do romance de formação, procurou-se estabelecer um diálogo entre as autoras, com a finalidade de refletir sobre como a inserção feminina na produção literária influencia na construção da figura da mulher na sociedade e suas representações. Esta análise se inicia pelos traços sociais e culturais que repercutem na produção escrita e leitura das obras. Neste processo de construção da escrita feminina, a mulher demonstra seus conflitos e desejos, frutos de suas experiências, oportunizando a representação de si mesma e a tomada de ciência de sua voz. Desta forma, construimos a hipótese de que a escrita feminina ilustra as condições sociais e culturais nas quais a mulher esteve e está inserida, possibilitando-nos uma comparação que construa um panorama da escrita do gênero e contribua para a conquista de um lugar de destaque. Sendo assim, a representação da mulher na Literatura tornou-se uma emergência e um objeto de análise significativo. Estes estudos resultam do reconhecimento da mulher como força de produção cultural na sociedade contemporânea. Além disso, os romances de Alcott e Paim apresentam características que se coadunam com a proposta do romance de formação (Bildungsroman), capaz de nos permitir uma leitura acerca dos dramas vivenciados pelas mulheres no que tange às relações socioculturais, independente de lugar e tempo. Ao enveredarmos na pesquisa sobre a formação dessas mulheres, demonstramos o processo de transformação que se opera nas protagonistas, tendo como base a educação e os elementos que estão relacionados a ela (leituras, escola, instituições religiosas, família, entre outros), propiciando uma reflexão sobre representação da figura feminina no texto e fora dele. Os discursos das autoras elencadas são a expressão literária do desejo de mudança real e, sendo elas mulheres instruídas, reivindicam transformações no plano social dominante. Entre as obras consultadas para a elaboração desta tese, destacam-se aquelas que tratam da crítica feminista defendida por Besse (1999), Xavier (1991;1998), Del Priore (2000), Dalcastagnè (2012), entre outras, que versam sobre a luta da mulher pelo direito à educação e por um espaço democrático, inclusivo. Esta perspectiva é reforçada pelos estudos sobre o Bildungsroman realizados por Pinto (1990) e Maas (2000), entre outros. Neste entendimento, procuramos demonstrar a inserção dos textos de Alcott e Paim na tradição dos romances de produção feminina, e de como as protagonistas se tornam exemplos do Bildung(formação) tanto social quanto cultural da mulher.
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LIVIANE NASCIMENTO DOS SANTOS
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As identidades e representatividades latino-americanas nos livros didáticos de língua espanhola do PNLD 2018
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Orientador : DORIS CRISTINA VICENTE DA SILVA MATOS
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Data: 24/02/2021
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Dissertação
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Este trabalho tem como objetivo analisar como se constituem as identidades e representatividades latino-americanas nos projetos sugeridos pelos nove livros didáticos das três coleções do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) 2018 (Cercanía Joven, Sentidos en lengua española e Confluencia). O edital do PNLD (2018) assinala que os livros aprovados para compor a educação linguística na escola devem favorecer o contato dos alunos com as diversas variedades do idioma estrangeiro, as quais refletem a diversidade das comunidades de fala desse idioma, valorizando não somente a variedade padrão e a cultura peninsular. No entanto, algumas pesquisas (LESSA 2013, LIMA e VILHENA 2013) realizadas nesse contexto apontam para a predominância da hegemonia espanhola e a desvalorização das culturas latino-americanas na maioria dos livros. Dentro dessa conjuntura, torna-se relevante discutir se essa realidade ainda é recorrente nos materiais mais recentes a partir da análise das três coleções já citadas. Assim sendo, esse trabalho poderá contribuir para a valorização das culturas latino-americanas pelos livros didáticos e para que se construam identidades culturais não marginalizadas e inferiorizadas nas práticas de educação linguística de língua espanhola. A pesquisa está inserida no campo teórico da Linguística Aplicada, partindo das categorias epistemológicas de decolonialidade, interculturalidade, diversidade, identidade, cultura, pertencimento, hegemonia, silenciamento e estereótipo, segundo estudos de Canclini (2006); Castro-Gomes (2007); Escobar (2003); Fabricio (2006; 2017); Hall (2003; 2006); Laraia (2009); Lima, (2013); Matos, (2014); Mendes, (2012); Paraquett (2009; 2018); Pizarro (2005); Silva Júnior e Matos (2019); Siqueira, (2012); Walsh (2009); Zolin-Vesz, (2013), dentre outros, para descrever o modo como ocorre a representação das culturas latino-americanas nos projetos sugeridos pelos livros didáticos de espanhol das coleções aprovadas no PNLD 2018. A metodologia seguida é de natureza qualitativa, quantitativa (PRODANOV; FREITAS, 2013) e documental (GIL, 2002; CELLARD, 2008) por método descritivo e interpretativista (CELANI, 2005 e MOITA LOPES 1994). Os resultados finais revelam que as coleções analisadas contribuem positivamente para com a construção de identidades latino-americanas não marginalizadas, bem como há uma verificação de diversos aspectos culturais latino-americanos, frente à cultura peninsular, configurando-se em um comportamento não hegemônico por parte das coleções, que por sua vez assumem uma postura decolonial e suleada.
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GARDÊNIA DIAS SANTOS
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UM PALIMPSESTO DE VIOLÊNCIAS CONTRA A MULHER EM ELVIRA VIGNA
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Orientador : CARLOS MAGNO SANTOS GOMES
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Data: 23/02/2021
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Dissertação
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Esta dissertação analisa como a violência contra as mulheres está representada no romance Como se estivéssemos em palimpsesto de putas (2016), de Elvira Vigna. Para tanto, buscamos destrinchar como as violências são constituídas na obra, considerando que, elas se manifestam a partir do aniquilamento simbólico, físico e sexual das mulheres. Nosso foco consiste, assim, em identificar como a autora, no transcorrer do texto, desvela a economia simbólico-patriarcal que sustenta a violência imposta pela identidade masculina opressora de João à narradora, às garotas de programa e à esposa, Lola. Diante desta perspectiva, partimos de uma abordagem baseada nas concepções desenvolvidas pela Crítica Feminista, visto que esta nos proporciona a efetivação do diálogo entre Literatura e sociedade, em especial, na medida em que rompe com o caráter discriminatório das ideologias que limitam o masculino e o feminino e propõe uma identidade de gênero híbrida e flexível como estratégia de sobrevivência. Tal quebra de parâmetros tradicionais é enfatizada pelos estudos feministas de H. B. de Hollanda (2018, 2019, 2020); L. Zolin (2009); E. Xavier e C. Gomes (2016-2018) e de L. Hutcheon (1991-1993), ao traçarem uma leitura crítica, política e estética acerca das desigualdades pautadas no gênero, decorrentes de um legado sócio-histórico que perdura. Diante do exposto, nosso subsídio teórico-metodológico explora conceitos como de “violência de gênero”, conforme R Segato (2003); “excesso de masculinidade”, trabalhado por L. Machado (1998-2010); “regulações e performances de gênero”, segundo J. Butler (2003-2014); “decolonização da violência de gênero”, proposto por M. Lugones (2014-2020); e de “lugar de fala”, de acordo com D. Ribeiro (2017); formulações estas que nos permitem questionar as normas regulatórias e as intersecções da violência de gênero contra a mulher. A fim de alcançarmos os objetivos suscitados, apresentamos, no primeiro capítulo, como as pautas do movimento feminista estão incorporadas na literatura de autoria feminina e de que modo são usadas como ferramentas de questionamento às ideologias de poder da sociedade patriarcal. No segundo, passamos a identificar o meio pelo qual se constroem os palimpsestos de violências e de identidades de gênero das personagens e, simultaneamente, como estes desenvolvem suas performances. Já no último capítulo, apontamos as estratégias de descolonização destes palimpsestos e das estruturas histórico-patriarcais abarcadas pela escritora no romance. Com esse intuito, defendemos a hipótese de que, ao trazer para o texto ficcional o olhar decolonizador de gênero, Elvira Vigna desconstrói os paradigmas machistas e desnuda as diversas formas de violência contra a mulher, principalmente, por meio de uma narradora astuta e sagaz que não perde de vista os medos, os limites e as inseguranças que circundam o universo competitivo masculino.
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ANNA GABRIELLA CAVALCANTE MAMEDE DE ALMEIDA
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Anna Gabriella e a autoetnografia: narrativas sobre a influência de Harry Potter e omovimento feminista no processo de construção identitária
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Orientador : MARLENE DE ALMEIDA AUGUSTO DE SOUZA
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Data: 22/02/2021
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Dissertação
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Observar minha construção de significados perante padrões que regulam o comportamento de
mulheres despertou o interesse para esta pesquisa. Para isso, três itens da lista “Aprenda 10
dicas para conquistar um homem” foram selecionados para me aprofundar no tema. A
metodologia utilizada nesta pesquisa foi a autoetnografia (ONO, 2017) (ADAM; JONES;
ELLIS, 2015), e objetivou propor uma reflexividade (ADAM; JONES; ELLIS, 2015) sobre
como minha construção identitária influencia os três itens selecionados. Por buscar a
aproximação entre pesquisadores, experiências culturais e leitores, a autoetnografia permite
compartilhar narrativas pessoais para compreender como minhas relações sociais conduziram
minha construção identitária. Assim, foram escolhidas duas perspectivas que foram
importantes para minha identidade: a saga Harry Potter e o movimento feminista. Ao
observar o papel de ambas as percepções na minha formação identitária, foi possível
compreender de que forma as produções de significado sobre os três itens da lista “Aprenda
10 dicas para conquistar um homem” são construídas por mim. Para observar o papel de
Harry Potter na minha construção identitária, questões como a maneira que a experiência do
leitor é capaz de desenvolver imaginação cívica (JENKINS, LAZARO, SHRESTHOVA,
2020) a partir do consumo de mídias da cultura pop foram abordadas. Além disso, considerar
a minha construção identitária feminista a partir dos movimentos desenvolvidos por mulheres
no Brasil (TELLES, 1993) (PINTO, 2003) permitiu compreender que a busca por
desestabilizar padrões comportamentais para mulheres surgiu porque os três itens da lista
despertam emoções em mim. As reflexões finais demonstram que, apesar de tentar
racionalizar os sentimentos despertados pelos três itens da lista selecionada, a questão
emocional é muito latente perante situações de injustiça social.
Observar minha construção de significados perante padrões que regulam o comportamento de
mulheres despertou o interesse para esta pesquisa. Para isso, três itens da lista “Aprenda 10
dicas para conquistar um homem” foram selecionados para me aprofundar no tema. A
metodologia utilizada nesta pesquisa foi a autoetnografia (ONO, 2017) (ADAM; JONES;
ELLIS, 2015), e objetivou propor uma reflexividade (ADAM; JONES; ELLIS, 2015) sobre
como minha construção identitária influencia os três itens selecionados. Por buscar a
aproximação entre pesquisadores, experiências culturais e leitores, a autoetnografia permite
compartilhar narrativas pessoais para compreender como minhas relações sociais conduziram
minha construção identitária. Assim, foram escolhidas duas perspectivas que foram
importantes para minha identidade: a saga Harry Potter e o movimento feminista. Ao
observar o papel de ambas as percepções na minha formação identitária, foi possível
compreender de que forma as produções de significado sobre os três itens da lista “Aprenda
10 dicas para conquistar um homem” são construídas por mim. Para observar o papel de
Harry Potter na minha construção identitária, questões como a maneira que a experiência do
leitor é capaz de desenvolver imaginação cívica (JENKINS, LAZARO, SHRESTHOVA,
2020) a partir do consumo de mídias da cultura pop foram abordadas. Além disso, considerar
a minha construção identitária feminista a partir dos movimentos desenvolvidos por mulheres
no Brasil (TELLES, 1993) (PINTO, 2003) permitiu compreender que a busca por
desestabilizar padrões comportamentais para mulheres surgiu porque os três itens da lista
despertam emoções em mim. As reflexões finais demonstram que, apesar de tentar
racionalizar os sentimentos despertados pelos três itens da lista selecionada, a questão
emocional é muito latente perante situações de injustiça social.
Observar minha construção de significados perante padrões que regulam o comportamento de
mulheres despertou o interesse para esta pesquisa. Para isso, três itens da lista “Aprenda 10
dicas para conquistar um homem” foram selecionados para me aprofundar no tema. A
metodologia utilizada nesta pesquisa foi a autoetnografia (ONO, 2017) (ADAM; JONES;
ELLIS, 2015), e objetivou propor uma reflexividade (ADAM; JONES; ELLIS, 2015) sobre
como minha construção identitária influencia os três itens selecionados. Por buscar a
aproximação entre pesquisadores, experiências culturais e leitores, a autoetnografia permite
compartilhar narrativas pessoais para compreender como minhas relações sociais conduziram
minha construção identitária. Assim, foram escolhidas duas perspectivas que foram
importantes para minha identidade: a saga Harry Potter e o movimento feminista. Ao
observar o papel de ambas as percepções na minha formação identitária, foi possível
compreender de que forma as produções de significado sobre os três itens da lista “Aprenda
10 dicas para conquistar um homem” são construídas por mim. Para observar o papel de
Harry Potter na minha construção identitária, questões como a maneira que a experiência do
leitor é capaz de desenvolver imaginação cívica (JENKINS, LAZARO, SHRESTHOVA,
2020) a partir do consumo de mídias da cultura pop foram abordadas. Além disso, considerar
a minha construção identitária feminista a partir dos movimentos desenvolvidos por mulheres
no Brasil (TELLES, 1993) (PINTO, 2003) permitiu compreender que a busca por
desestabilizar padrões comportamentais para mulheres surgiu porque os três itens da lista
despertam emoções em mim. As reflexões finais demonstram que, apesar de tentar
racionalizar os sentimentos despertados pelos três itens da lista selecionada, a questão
emocional é muito latente perante situações de injustiça social.
Observar minha construção de significados perante padrões que regulam o comportamento de mulheres despertou o interesse para esta pesquisa. Para isso, três itens da lista “Aprenda 10 dicas para conquistar um homem” foram selecionados para me aprofundar no tema. A metodologia utilizada nesta pesquisa foi a autoetnografia (ONO, 2017) (ADAM; JONES; ELLIS, 2015), e objetivou propor uma reflexividade (ADAM; JONES; ELLIS, 2015) sobre como minha construção identitária influencia os três itens selecionados. Por buscar a aproximação entre pesquisadores, experiências culturais e leitores, a autoetnografia permite compartilhar narrativas pessoais para compreender como minhas relações sociais conduziram minha construção identitária. Assim, foram escolhidas duas perspectivas que foram importantes para minha identidade: a saga Harry Potter e o movimento feminista. Ao observar o papel de ambas as percepções na minha formação identitária, foi possível compreender de que forma as produções de significado sobre os três itens da lista “Aprenda 10 dicas para conquistar um homem” são construídas por mim. Para observar o papel de Harry Potter na minha construção identitária, questões como a maneira que a experiência do leitor é capaz de desenvolver imaginação cívica (JENKINS, LAZARO, SHRESTHOVA, 2020) a partir do consumo de mídias da cultura pop foram abordadas. Além disso, considerar a minha construção identitária feminista a partir dos movimentos desenvolvidos por mulheres no Brasil (TELLES, 1993) (PINTO, 2003) permitiu compreender que a busca por desestabilizar padrões comportamentais para mulheres surgiu porque os três itens da lista despertam emoções em mim. As reflexões finais demonstram que, apesar de tentar racionalizar os sentimentos despertados pelos três itens da lista selecionada, a questão emocional é muito latente perante situações de injustiça social.
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VIVIANE SILVA DE NOVAIS
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Variação na concordância verbal de terceira pessoa do plural na fala de universitários sergipanos
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Orientador : RAQUEL MEISTER KO FREITAG
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Data: 19/02/2021
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Dissertação
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A concordância verbal de 3ª pessoa do plural (3PP) é um fenômeno em variação no português brasileiro (PB), cujas realizações, como os meninos brincam e os menino brinca, tendem a receber diferentes avaliações sociais: a primeira, chamada de concordância redundante por indicar pluralidade tanto no sujeito quanto no verbo, tende a receber avaliação mais positiva; a segunda, chamada de concordância dominante por haver indicação de plural somente no primeiro elemento, tende a receber avaliação mais negativa, como pode ser observado em diferentes fontes societais (como os instrumentos normativos, matérias e reportagens jornalísticas e memes compartilhados nas redes sociais). Contribuindo com essas evidências, resultados de pesquisas sociolinguísticas sobre a concordância verbal com dados orais no PB observam mais realizações da forma redundante na fala de pessoas com mais anos de escolarização (ANJOS, 1999; MONGUILHOTT, 2001; SCHERRE; NARO, 2007; ARAÚJO, 2014) e com certo status social, cuja variedade de língua adquiriu prestígio e se alinha ao que se convencionou chamar “norma culta”. Em um ambiente universitário, por exemplo, a norma culta, por hipótese, tende a ser mais recorrente (FREITAG, 2017a). Considerando a Universidade Federal de Sergipe (UFS), Campus Prof. José Aloísio de Campos, em São Cristóvão/SE, que propicia a integração do universitário ao ambiente acadêmico por meio de atividades de extensão, projetos e diversos espaços de ocupação, os estudantes têm ainda mais contato com essa norma de prestígio. O objetivo deste trabalho é descrever as realizações da concordância verbal de 3PP na fala dos estudantes da UFS, com base no aporte teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008[1972]), questionando se há associação entre o tempo de inserção e a integração dos estudantes com o uso da concordância verbal redundante. Nossa hipótese é a de que, embora a frequência dessa forma seja alta nos dados gerais por se tratar da fala de estudantes universitários, a concordância redundante será maior ao final do curso, como resultado de dois possíveis efeitos: maior integração desses estudantes à UFS e por ser uma variante de prestígio social. Temos como corpus a amostra Deslocamentos (2020), composta por 60 entrevistas sociolinguísticas com dados orais de estudantes da UFS. Foram considerados 2.364 contextos de realização, com predomínio da concordância redundante (97%). Apesar da baixa recorrência, o condicionamento do fenômeno variável é afetado pelos fatores estruturais posição do sujeito, tipo de verbo, animacidade do sujeito e saliência fônica, cujos efeitos já são consolidados na literatura. Os resultados apontam para o efeito da consciência de norma associada ao papel da universidade, já identificado em outros estudos na mesma amostra, decorrente de uma fala formal em ambiente altamente escolarizado.
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VANESCA CARVALHO LEAL
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Análise do gênero infográfico no Jornal Digital Folha de São Paulo com base nos pressupostos da retórica visual
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Orientador : ISABEL CRISTINA MICHELAN DE AZEVEDO
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Data: 19/02/2021
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Dissertação
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A pesquisa apresenta uma análise linguística, associada aos estudos retóricos, em torno dos usos dos processos argumentativos na inter-relação estratégica entre os recursos verbais e visuais no contexto midiático, sob uma perspectiva ainda incipiente na área de descrição linguística. O estudo desenvolve-se a partir do seguinte problema: Como recursos visuais e verbais desempenham papéis e valores argumentativos nos infográficos no jornal digital Folha de São Paulo? Diante disso, objetiva descrever, à luz da Retórica Visual, os recursos verbais e não-verbais que contribuem para a construção argumentativa do gênero infográfico. O corpus de análise são 38 infográficos estáticos do jornal digital de maior circulação no país, Folha de São Paulo, especificamente, no período de agosto a outubro de 2018, período que compreende as eleições para presidência da república. Essa escolha se justifica pelo fato de remontar o nascimento da retórica, surgida a partir de aspectos políticos e da busca pelo poder, e são descritos a partir de análises da linguagem empregada nos textos, reguladas pelos princípios retóricos e argumentativos visuais. Dessa forma, a proposta de análise está baseada no estudo da Nova Retórica, de Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014). Este estudo apresenta-se como uma pesquisa quanti-qualitativa que reúne pressupostos teóricos a respeito da argumentação considerando os trabalhos de Alexandre Júnior (2005); Perelman (1977), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014). Com relação à literatura específica sobre retórica e argumentação visual, Kjeldsen (2012, 2013, 2015), Mateus (2016) e Roque (2009, 2012, 2016). E para abordar as pesquisas existentes sobre o infográfico foram adotados, como centrais, Colle (2004), Fogolari (2009), Lima (2015), Moraes (2013), Nascimento (2013) e Teixeira (2007, 2009). A pesquisa evidencia três resultados principais. O primeiro deles é que os infográficos estudados organizam-se, em sua maioria, em categorias gerais – exposição de dados estatísticos e, de modo mais específico – diagramáticos e de descrição por comparação. Os dados mostram, em segundo lugar, que não é o número de critérios técnicos composicionais que define o fator primordial para a promoção de efeitos retóricos no gênero, mas a articulação entre os elementos verbo-visuais. Por fim, os resultados apontam que os infográficos analisados depreendem em maior relevância de (1) o acordo prévio; (2) o argumento pragmático; (3) o julgamento de valor, reforçado por ligações de coexistência; (4) o efeito de presença, por meio das figuras de repetição e amplificação; e (5) toda argumentação propõe uma escolha seletiva dos recursos verbo-visuais que serão utilizados. Isso significa que, apesar de se tratar de um gênero tipicamente informativo, possui um viés argumentativo não esperado pelo auditório. Logo, o estudo servirá de referência para a consolidação de um corpo de pesquisas sobre argumentação visual, mais especificamente, verbo-imagética, bem como uma possível aplicação ao ensino para a leitura crítica do gênero. Ainda pode ser desenvolvido um trabalho sobre processamento cognitivo da leitura e compreensão no gênero infográfico.
    
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PALOMA BATISTA CARDOSO
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Efeitos linguísticos e paralinguísticos na inferência dos sentidos indicados por (eu) acho que em entrevistas sociolinguísticas
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Orientador : RAQUEL MEISTER KO FREITAG
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Data: 18/02/2021
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Dissertação
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(Eu) acho que é uma construção gramaticalizada no português brasileiro como um modalizador epistêmico polissêmico, que pode indicar sentidos de certeza, dúvida e incerteza (GALVÃO, 1999; FREITAG, 2003; GONÇALVES, 2003). Estes sentidos são inferidos pelos falantes no contexto de interação, e os estudos descritivos apontam que existem pistas linguísticas associadas a cada um destes sentidos, como o tipo de complemento introduzido por (eu) acho que, tópico discursivo e o envolvimento do falante (direto, indireto) com o que se fala. No entanto, pistas paralinguísticas também podem auxiliar na inferência destes sentidos, como as pistas acústicas e de expressões faciais. Do ponto de vista acústico, dúvida e incerteza são caracterizados por uma alta média de frequência fundamental, maiores valores de intensidade, duração e presença de pausas silenciosas e preenchidas, ao contrário de certeza (SILVA, 2008; OLIVEIRA, 2011; ANTUNES; AUBERGÉ; SASA, 2014; ANTUNES; AUBERGÉ, 2015; FERNANDES; ANTUNES, 2017). Há também diferenças gestuais: Swerts (2003) sugeriu que certeza é caracterizado pela expressão facial neutra enquanto incerteza, pela contração da linha das sobrancelhas e boca. Ao contrair os músculos da face, os falantes demonstram expressões que segundo Ekman (2000) são importantes para a manutenção da interação. O objetivo deste trabalho é investigar o efeito de variáveis linguísticas, acústicas e expressões faciais para a inferência dos sentidos de (eu) acho que na amostra Deslocamentos 2020, composta por 30 entrevistas sociolinguísticas gravadas em áudio e vídeo, realizadas com estudantes de graduação na Universidade Federal de Sergipe. Identificamos 1038 ocorrências de (eu) acho que, que foram codificadas quanto ao sentido e analisadas quanto a variáveis linguísticas (ocorrência de acho que ou eu acho que, escopo, presença de modalizador, tópico discursivo, experiência do falante e polaridade), prosódicas (médias da frequência fundamental, intensidade e duração de (eu) acho que, duração de pausas silenciosas e preenchidas) e expressões faciais (considerando os movimentos dos músculos que indicam raiva, deboche, nojo, medo, felicidade, neutra, tristeza e surpresa, captados por um script em linguagem Python). Os sentidos de (eu) acho que têm associação com o escopo, presença de outros modalizadores, tópico discursivo e experiência do falante, corroborando os resultados de outros estudos descritivos. Para as pistas acústicas, análises de variância entre o sentido de (eu) acho que e as variáveis prosódicas sugeriram efeito somente da intensidade e da duração. Os sentidos foram diferenciados pela força do som e pelo prolongamento de (eu) acho que: ocorrências dessa construção mais fracas e mais longas foram caracterizadas como dúvida e incerteza. A análise das expressões faciais evidencia movimentos de contração da linha das sobrancelhas e da boca quando os sentidos inferidos para (eu) acho que eram dúvida e incerteza, diferente de quando o sentido inferido era certeza. Os resultados das análises sugerem que além de variáveis linguísticas, recursos paralinguísticos também são relevantes para a inferência dos sentidos de (eu) acho que, corroborando perspectivas a sistemaciticdade da língua para além do nível linguístico.
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BRUNO FELIPE MARQUES PINHEIRO
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Pistas linguísticas e paralinguísticas para os sentidos dos diminutivos
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Orientador : RAQUEL MEISTER KO FREITAG
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Data: 18/02/2021
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Dissertação
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Nos termos da gramática normativa, convencionou-se que o diminutivo é o processo gramatical que se refere aos nomes derivados que, por meio de sufixos, denotam a noção de dimensão pequena em relação às suas palavras primitivas (OLIVEIRA, 1536; BARBOSA, 1822; SOARES BARBOSA; 1845, dentre outros). Entretanto, o processo de derivação nos diminutivos resulta não somente em ideia de pequenez: (i) os diminutivos expressam ideias associadas à emotividade (CUNHA; CINTRA, 1985; BECHARA, 2009, dentre outros), diminuindo situações de forma apreciativa ou depreciativa; (ii) como também existem diminutivos que caminham ou já estão em um processo de lexicalização (ROCHA LIMA, 1992; ROCHA; VICENTE, 2016). No português brasileiro, o comportamento do diminutivo vem sendo observado a partir de [x-inho] e [x-zinho] como variantes de uma variável linguística para compreensão do significado do diminutivo, destacando o efeito de variáveis estruturais relacionadas à expressão do sufixo. No entanto, ainda há poucas evidências da sistematicidade de padrões para a distinção entre diminutivos lexicalizados e afetivos, e entre a apreciação positiva e negativa; os valores são decorrentes da intuição e subjetividade do analista para avaliar, por meio de pistas contextuais (linguísticas e paralinguísticas), a valoração do diminutivo. A fim de ampliar o escopo de análise sobre o significado do diminutivo, consideramos o tipo de classificação do diminutivo (se é afetivo ou lexicalizado) + o tipo de apreciação (positiva ou negativa) para analisar o comportamento do fenômeno em 30 entrevistas sociolinguísticas documentadas em áudio e vídeo com estudantes universitários da Universidade Federal de Sergipe. A partir de 241 ocorrências, identificamos a associação dos fatores estruturais (base morfológica, sufixo, extensão silábica, classe), fatores estilísticos (tópico discursivo e envolvimento do falante), fatores suprassegmentais (recursos prosódicos) e fatores paralinguísticos (expressões faciais), ampliando o poder de explicação sobre o significado dos diminutivos. Foram realizadas duas análises independentes entre si: (i) variáveis estruturais e variáveis prosódicas (regressão generalizada de efeitos mistos); (ii) e uma análise com as variáveis semânticas e variáveis emocionais (com reconhecimento facial a partir do protocolo Action Coding Systems - FACs). Observamos que existe uma convergência entre os resultados de análises que tomam o sufixo como variável dependente. As variáveis base morfológica, sufixo, tonicidade, extensão e classe tem associação estatisticamente significativa com a distinção entre diminutivo lexicalizado e afetivo. No modelo de efeito misto, participante e item lexical como efeitos aleatórios apresentam forte interferência na classificação dos diminutivos em lexicalizados e afetivos. Esse resultado sugere uma espécie de parsing morfológico pleno: o falante realiza um processamento da palavra como o todo na interpretação semântica do diminutivo. Os efeitos das variáveis prosódicas não foram estatisticamente significativos na amostra, talvez pelo fato da restrição da amostra. Na análise do reconhecimento facial dos falantes, os resultados sugerem relação entre a expressão facial do participante e o tipo de apreciação associado ao diminutivo. Os resultados apontam que existem pistas linguísticas e paralinguísticas que atuam na diferenciação dos diminutivos, seja entre lexicalizados e afetivos, e entre apreciação positiva e negativa, contribuindo com evidências para análises intuitivas, como as apresentadas nas gramáticas. Destacamos a limitação da amostra, e uma testagem em larga escala pode ampliar o poder explanatório dos resultados.
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IGOR GONÇALVES MIRANDA
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A Ensaística Especular e Fantasmática de Italo Calvino
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Orientador : FERNANDO DE MENDONCA
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Data: 18/02/2021
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Dissertação
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O texto que ora se apresenta é resultado da pesquisa cujo objetivo geral é revelar as imagens especulares e fantasmáticas do escritor Italo Calvino. Essas imagens são reveladas a partir de uma seleção de ensaios textuais e paratextuais que refletem, no passado e no futuro, o sentido de sua experiência literária. Um jogo de imagens é construído a partir da fragmentação de conjuntos de textos mais homogêneos, publicados entre as décadas de 1950 e 1980, são eles: as coletâneas de ensaios Assunto encerrado (2006), Seis propostas para o próximo milênio (1990) e Mundo escrito e mundo não escrito (2015), os prefácios da segunda edição de A trilha dos ninhos de aranha (2004) e da reunião de romances fantásticos Os nossos antepassados (2014), além dos posfácios de O castelo dos destinos cruzados (1991) e de Se um viajante numa noite de inverno (1999), doravante considerados pequenos ensaios. O recorte rastreia no discurso a especularidade e a fantasmagoria, aspectos que reúnem a heterogeneidade dos textos sob a mesma perspectiva. Para alcançar tal objetivo, cumpre-se e se apresenta um estudo teórico do gênero ensaio como poética das imagens da subjetividade. Os autores da teoria do ensaio são Montaigne (2016), Lukács (2018), Bense (2018), Adorno (2003), Starobinski (2018) e Aira (2018). Para o estudo da paratextualidade e do movimento editorial calviniano, considera-se Genette (2009), Barenghi (2010), Klein (2013) e Troiano (2015). Os autores que explanam a teoria das escritas de si (autorretrato, autoficção e autobiografia) e da especularidade (imagem do espelho e mise en abyme) são: Hall (2014), Beaujour (1980), Lejeune (2014), Colonna (2014), Gide (2013), Anker e Dällenbach (1975), Eco (1989), Hutcheon (1980) e Waugh (1984). A teoria do fantasma foi dividida em dois momentos: o primeiro envolve os aspectos da khorologia da memória e da hantologia fantasmática, a partir da filosofia da memória de Henri Bergson (1988; 2006a; 2006b) e de seus intérpretes Paiva (2005) e Fujita (2009); o segundo trata da dimensão coletiva e literária do fantasma, cujos autores são: Derrida (1994) e Guerreiro (2011). Na experiência literária de Calvino, ensaio e ficção andam inseparáveis e, portanto, sua autoimagem especular resplandece tanto em um como no outro. Os diferentes perfis do “Calvino escritor” se espelham nos ensaios ao modo do texto, e o movimento editorial, ou seja, o “Calvino editor”, produz as imagens fantasmáticas que perseguem e comprimem o passado e o futuro: trata-se de imagens da subjetividade dinamizadas no tempo. É nesse jogo autorreflexivo que reside o interesse desta pesquisa. A relação que o escritor mantém com as imagens de si é fantasmática, ou seja, não é conciliatória, no entanto, sempre o impele para a criação e recepção de novos textos que o desafiam, fato que permitiu demonstrar o processo de seu amadurecimento literário.
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GABRIELA RODRIGUES BOTELHO
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Os itens de língua espanhola no Exame Nacional do Ensino Médio a partir da perspectiva afrogênica
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Orientador : DORIS CRISTINA VICENTE DA SILVA MATOS
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Data: 09/02/2021
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Dissertação
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Esta dissertação é resultado da pesquisa de mestrado que teve como objetivo geral analisar como as relações étnico-raciais são apresentadas nos itens de espanhol do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) em relação as aplicações feitas entre 2010 e 2019. Essa discussão se insere no campo teórico da Linguística Aplicada voltada para pesquisas que atendam às demandas sociais e pensem os sujeitos e a linguagem como heterogêneos (MOITA LOPES, 2006). Assim, a análise se centra em nove itens que permitem debater a afrodescendência no mundo hispânico no âmbito das relações étnico-raciais, a partir de três catgorias: o texto base, o enunciado e as alternativas que compõem cada item. Trata-se de uma pesquisa qualitativa (FLICK, 2009), descritivo-interpretativista (MOITA LOPES, 1994) e de técnica documental (BARDIN, 1977). Dentre as justificativas para essa pesquisa pretendo colaborar com as discussões sobre as relações étnico-raciais no contexto da educação linguística em espanhol no Brasil e, sobretudo, no ENEM. A fundamentação teórica se divide entre as diretrizes da educação como: a Lei de Diretrizes e Bases da educação de 1996, as Orientações Curriculares para o Ensino Médio de 2006, a Base Nacional Comum Curricular de 2017 e as Diretrizes da Educação para as Relações Étnico-Raciais de 2013, além da Lei 11.465/2008, da Matriz de Referência (BRASIL, 2013) e Guia Para Elaboração dos itens do ENEM (BRASIL, 2010); os estudos decoloniais através de autores como: Lander (2005), Quijano (2005), Castro-Gómez e Grosfoguel (2007), Maldonado-Torres (2007), Mignolo (2007) e Walsh (2009); e os estudos étnico-raciais a partir de autores como: Bento (2002), Souza (2016), Almeida (2018), Gomes (2018), Bernardino-Costa (2018) e Walker (2018). Com base nos resltados foi possível constatar que dos nove itens analizados, em apenas três deles os textos apresentam uma perspectiva afrogênica e dois itens problematizam as relações étnico-raciais a partir do enunciado e das alternativas, desmonstrando a escassez de debate sobre da afrodescendência no mundo hispânico no contexto do ENEM.
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JOILDA ALVES DE OLIVEIRA
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"DA CONJURAÇÃO DOS VERSOS": A EXPRESSÃO POÉTICA FEMININA AFRO-BRASILEIRA DE CONCEIÇÃO EVARISTO
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Orientador : ALEXANDRE DE MELO ANDRADE
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Data: 09/02/2021
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Dissertação
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A produção literária de Conceição Evaristo a cada dia se torna mais comentada nos ambientes acadêmicos, seja nas dissertações, teses, ou artigos científicos. Suas obras vêm tornando-se mais conhecidas e são recorrentes objetos de pesquisa no campo dos Estudos Literários. A expansão do alcance de suas criações constitui um avanço para a consolidação do lugar de existência e de fala das obras de autoria feminina na literatura brasileira contemporânea. Este trabalho utiliza como objeto de pesquisa Poemas da recordação e outros movimentos, com o objetivo de analisar a figura feminina afro-brasileira expressa através da poesia brasileira contemporânea de autoria feminina. Intentamos estabelecer diálogo entre as questões estéticas e sociais que permeiam a poética de Conceição Evaristo. Na obra em questão serão identificadas as marcas da poesia contemporânea. Além de observar a imagem feminina da mulher negra que é constituída através da poética da autora. A análise de poemas atentará para a leitura dos procedimentos de linguagem, metaforização, ritmo e, em alguns casos, o prosaísmo; pois tais recursos se entrecruzam com temas ligados à memória, ao engajamento e à figurativização feminina. Serão destacados aspectos como: a correlação entre a obra de Evaristo e as poéticas contemporâneas; a singularização do “feminino” em Evaristo; e a abordagem de aspectos de relevância para a compreensão do lirismo e da memória, além dos procedimentos intertextuais e o diálogo possível entre lirismo e contexto social. Ao longo da obra, estão presentes poemas que dialogam com temas de destaque dentro do universo feminino afro-brasileiro como a opressão, o aborto, o papel social da mulher, a discriminação, a presença da mulher na literatura, entre outros. É notável o engajamento da mulher negra que coloca em debate as opressões sofridas por sua classe nos mais diversos âmbitos. Para o trabalho de pesquisa serão destacados alguns poemas da coletânea, que possui sessenta e seis poemas. As abordagens teóricas que compõem a pesquisa buscam o diálogo entre os estudos da crítica e da teoria literária, teorias sobre o gênero textual poema, a poesia brasileira contemporânea e algumas concepções dos Estudos Culturais. Entre os teóricos utilizados estão: Staiger (1997), com um estudo sobre o gênero lírico; Rezende (2014), que traz concepções sobre a poesia brasileira contemporânea; Duarte e Lopes (2020), estudiosos das obra de C. Evaristo; Álos (2011), com crítica referente à obra de Evaristo; e Bordini (2009), que tece reflexões sobre os Estudos Culturais. Com relação à análise da imagem da mulher negra nos poemas serão utilizados os estudos de Ribeiro (2017), que apresenta reflexões relativas ao lugar de fala direcionado à mulher afro-brasileira, e Evaristo (2009) com sua visão analítica sobre a literatura negra. A análise do corpus literário buscará refletir, à luz das teorias pertinentes, sobre a imagem da mulher afro-brasileira expressa através de poemas. Logo, busca-se analisar as questões estéticas presentes nos textos e sua relação com a figura feminina afro-brasileira, um processo de análise que suscita indagações de cunho sociocultural.
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ÉVERTON DE JESUS SANTOS
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CANTO GENERAL E LATINOMÉRICA: DA GEOGRAFIA À HISTÓRIA, DAS PÁTRIAS À TRANSNAÇÃO
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Orientador : CHRISTINA BIELINSKI RAMALHO
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Data: 09/02/2021
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Tese
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“Amor América (1400)”, primeiro poema de Canto general (1950), epopeia escrita pelo chileno Pablo Neruda, vincula simbolicamente o ser americano com o amor; já “PátriAmérica”, poema em meados da epopeia Latinomérica (2001), do brasileiro Marcus Accioly, é uma declaração de integração do continente americano como pátria una. As duas obras centralizam o relato na América Latina, tratando-a como comunidade e estabelecendo diálogos entre seus países; assim, partindo dessa percepção, esta tese objetiva estudar a constituição do plano histórico das obras corpora quanto a seu conteúdo geográfico e histórico, por meio de categorias, elementos e quantidade de ocorrências, de modo a chegar a traços identitários indicativos da existência de uma transnação latino-americana, na qual a perspectiva de abertura e alargamento, bem como de união e partilha, se dirige para além das fronteiras nacionais. Para tanto, estabeleceu-se como campo teórico-crítico a Literatura Comparada, pois as relações culturais na América Latina têm se ampliado a partir do comparativismo, e promover o diálogo entre os poemas épicos faz parte do escopo deste estudo; ademais, como procedimentos metodológicos nesta pesquisa, que pode ser caracterizada como básica pura, com enfoque qualitativo e quantitativo e objetivo exploratório, foram adotados os seguintes: buscas de materiais – livros e textos acadêmicos – na internet sobre os poemas, os poetas e temas relacionados ao épico; leituras das epopeias, mapeamento e cálculo de quantidade de referentes, com a posterior divisão em categorias e a produção de quadros; além do estudo dos recortes – versos e estrofes – a partir de referencial levantado. Quanto à elaboração das análises, isso demandou a utilização de referenciais de diferentes vertentes teórico-críticas e áreas do conhecimento, como Geografia, História, Ciências Sociais, com foco em estudiosos/as e intelectuais latino-americanos/as, privilegiando um lócus de enunciação literariamente construído na região; além disso, fez-se uso de histórias da América Latina e do Brasil, de textos sobre a conquista, a colonização, a invenção do continente, a mestiçagem, as ditaduras, o subdesenvolvimento, a integração, além, claro, da Literatura e outros temas. Foi possível, por meio da operacionalização de conceitos como identidade, transnação, epos, heroísmo e anti-heroísmo, Pátria Grande, raça cósmica, povo, criar uma representação da latino-americanidade como sistema simbólico que, em Canto general e Latinomérica, é mobilizado para estabelecer a identificação entre os países a partir do compartilhamento de realidades históricas comuns (como a conquista, o sistema colonial e os regimes militares) e da contiguidade geográfica, como também se nota a inversão entre a posição dos vencidos e vencedores da História oficial, num revisionismo que coloca aqueles em evidência, especialmente heróis individualizados e o povo, o sujeito/herói coletivo, a quem os poetas, transfigurados nos eus líricos/narradores, ouvem e por quem falam. Com isso, sobressai o caráter de luta, resistência e esperança, que leva a pensar a América Latina, a partir de Neruda e Accioly, como uma união de nações, mas, sobretudo, como uma só pátria, uma transnação, que, para além dos projetos de integração, é expressa pelo signo da unidade geoistórica nas duas epopeias, daí nossa contribuição no sentido de valorizar tanto o gênero épico quanto as relações interamericanas pela Literatura.
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JEANE CAROZO ROCHA
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REPRESENTAÇÕES VERBO-VISUAIS DA CIDADE DE ARACAJU EM FOLHETOS DE CORDEL
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Orientador : ALBERTO ROIPHE BRUNO
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Data: 08/02/2021
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Dissertação
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Este trabalho tem como objetivo discorrer acerca de representações da cidade de Aracaju na Literatura de cordel, por meio de análises das linguagens verbo-visuais de seus folhetos, valorizando aspectos como: espaços, memórias, símbolos, personagens populares e personalidades. Para isso, foram escolhidos os folhetos de cordel História de Aracaju (2006), Aracaju ontem e hoje! (2014) e Aracaju como eu vejo (2014). A fim de alcançar tal objetivo, tomou-se como referencial teórico, na investigação e nas análises realizadas, quanto aos aspectos cultura, culturas erudita, de massa e popular, Lopes (1983), Laraia (1986), Burke (1989), Lara (2004), Arantes (2006), Correa, Correa e Anjos (2011); quanto à Literatura de cordel, por sua vez, Diégues Jr. (1975), Tavares (1998), Assaré (2000), Andrade (2005), Fortaleza, Viana e Viana (2005), Silva (2012), Morais (2013), Bento e Diniz (2014), Filho (2015), Melo (2016), Freitas, Nascimento e Freire (2017), Nascimento (2018) e Mendonça (2018); quanto ao elemento espaço, Dimas (1985); quanto à cidade de Aracaju, Cabral (1948), Alves (2003) e Alves e Schomacker (2013); quanto ao aspecto linguagens verbo-visuais na Literatura de cordel, Roiphe (2011, 2013); quanto à memória, Moisés (1974), e, por fim, quanto aos aspectos personalidades e símbolos, Silva (2014). No que se refere aos procedimentos metodológicos, trata-se de uma pesquisa qualitativa que recorreu às mais variadas fontes, tais como: artigos científicos, dissertações, folhetos de cordel, livros e teses, bem como visitas a bibliotecas, museus, pontos de venda de folhetos, caminhadas culturais em variados pontos da cidade de Aracaju que foram percorridos, além da participação em diversos cursos, minicursos e oficinas, tudo isso com o intuito de coletar informações acerca do objeto de pesquisa. Por fim, como resultados deste trabalho, fruto das análises dos elementos culturais, históricos, religiosos, turísticos e simbólicos dos folhetos, constatou-se a existência de uma representação da cidade de Aracaju no primeiro folheto de forma linear, ou seja, desde seu surgimento, passando por uma época de desenvolvimento, chegando aos dias atuais; segundo, da leitura simultânea das linguagens verbal e visual, do uso de figuras de linguagem como anáforas, gírias, metáforas e prosopopeia ou personificação e dos elementos relacionados acima, foi possível obter como resultado a montagem de uma representação de Aracaju partindo de folhetos de cordel considerados documentos autênticos e não por meio de livros didáticos como normalmente é feito; para terminar, trata-se de mais um estudo que teve a preocupação de contribuir com a permanência da Literatura de cordel no meio acadêmico, ratificando o valor dela a partir da demonstração dos seus principais aspectos, sobretudo no que tange à simultaneidade das leituras verbo-visuais que compõem os folhetos ainda não firmados e difundidos nos estudos da Literatura de cordel demonstrados nas análises das representações da cidade de Aracaju, como feito nesta pesquisa, fruto da criatividade dos poetas populares.
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ANDRÉA MENDONÇA CUNHA
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SAPATÃO, LÉSBICA, CAMINHONEIRA, LADY, BUTCH: O QUE VOCÊ QUEER? UMA ANÁLISE DA (DES)CONSTRUÇÃO DO ETHOS DA MULHER LÉSBICA EM CANAIS DO YOUTUBE
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Orientador : MARCIA REGINA CURADO PEREIRA MARIANO
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Data: 05/02/2021
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Dissertação
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Esta pesquisa tem o objetivo de analisar a construção de ethé lesbianos a partir do discurso da própria comunidade lésbica. Interessam-nos as relações de poder que atravessam a construção da lesbianidade e as estratégias que são mobilizadas pela sociedade para reafirmar a lógica binária de gênero, os padrões de feminilidade e a hetero-cis-normatividade que impõem uma corporeidade prévia e esperada da sapatão. Sendo assim, analisar os discursos da própria comunidade apresentou-se como um caminho para verificarmos se essa lógica hetero-cis, em alguma medida, é reproduzida ou questionada entre as lésbicas. Para tanto, selecionamos como corpora discursos em vídeos e em comentários veiculados por mulheres lésbicas no YouTube, visto que a plataforma mantém sua popularidade e influência, ainda que depois de mais de 10 anos de sua criação, e, portanto, atua na negociação de identidades, inclusive, daquelas descritas como subalternas. À luz dos estudos retóricos, neo-retóricos e discursivos, elencamos o conceito de ethos, definido, de forma geral, como a construção da imagem de si pelo orador/enunciador em seu próprio discurso, como elemento principal desta pesquisa, assim, consideramos Maingueneau (2001; 2008), Amossy (2013), Perelman e Olbrechts-Tyteca (2014) e Aristóteles (2011) como os principais estudiosos para esta teorização. Por tocarmos em questões de gênero e sexualidade, recorremos a Louro (1997; 2018), Butler (2007; 2019) Halberstam (2008) e Foucault (2017), a fim de tratarmos de aspectos ligados à hetero-cis-normatividade e às suas relações de poder. Por meio da análise dos corpora, os resultados apontam para a recorrência de valores, lugares do preferível, lugares da quantidade e da qualidade, hierarquias e lugares-comuns na construção de um ethos estereotipado a respeito da lésbica. Vimos que essas estratégias persuasivas foram mobilizadas pelas youtubers, no vídeo 1, para confrontar a discriminação pautada na masculinidade ou feminilidade dos corpos lesbianos dentro da própria comunidade lésbica. Já no vídeo 2, deparamo-nos com o reforço, principalmente por meio dos lugares da quantidade e da qualidade, de uma performance e corporeidade lesbianas discriminadas em níveis de masculinidade ou feminilidade, sendo que elas assumem uma relação de hierarquia e aceitabilidade dentro de um padrão hétero-cis.
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ELTON JÔNATHAS GOMES DE ARAÚJO
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O QUE A PENUMBRA PERMITE VER: Uma leitura da coletânea de contos João Urso, de Breno Accioly
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Orientador : VALTER CESAR PINHEIRO
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Data: 27/01/2021
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Dissertação
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Breno Accioly (Santana do Ipanema/AL,1921 — Rio de Janeiro/RJ, 1966) estreou no cenário literário brasileiro no final de 1944 com a coletânea de contos João Urso. A obra, muito bem acolhida pela crítica, recebeu diversos elogios em periódicos da época. Nomes como Mário de Andrade, José Lins do Rego, Lúcio Cardoso, Sérgio Milliet e Roger Bastide comentaram sobre a escrita do contista. Além disso, o volume foi laureado com os prêmios Graça Aranha, da Fundação Graça Aranha, e Afonso Arinos, da Academia Brasileira de Letras. O alagoano, que se cercara de amigos renomados, como Graciliano Ramos, Lêdo Ivo, Mauro Mota e Gilberto Freyre, caiu no esquecimento com o passar das décadas. Ele lançou ainda mais quatro livros, Cogumelos (1949, contos), Maria Pudim (1955, contos), Dunas (1955, romance) e Os Cata-ventos (1962, contos), mas nenhum deles obteve tanto sucesso quanto a obra de estreia. É sobre João Urso (1944) que se debruça esta pesquisa. Compreendendo a importância da obra e de seu escritor na literatura nacional, investigam-se neste estudo as dez narrativas que compõem o volume. Faz-se necessário, no entanto, apresentar preliminarmente o perfil biobibliográfico do escritor, cuja notoriedade escapa ao leitor atual, e examinar, apoiando-se na tipologia estabelecida por Genette (2018), as quatro edições — e todo o aparato paratextual (capas, prefácio, dedicatórias e epígrafes) — que a obra ganhou até o presente. Para a análise das vozes narrativas, trabalho que constitui o segundo capítulo desta dissertação, recorre-se aos estudos de Friedman (2002), Leite (1987), Carvalho (2012) e Dal Farra (1978). Intenta-se, por fim, investigar, no conto “João Urso”, a focalização do espaço a partir do qual o narrador vê e apresenta o protagonista da narrativa. Esta leitura ampara-se nos estudos de Brandão (2013), Lins (1976), Blanchot (2011) e Gomes (2008).
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