Banca de QUALIFICAÇÃO: WANUBYA MARIA MENEZES DA SILVA
26/08/2022 15:06
A partir da teoria do valor e da reprodução ampliada do capital em Marx, pretendemos neste trabalho ascender um debate acerca do processo de apropriação privada da natureza, buscando compreender na territorialização e monopolização do capital o momento da alienação humana e da espoliação da biodiversidade. A abstração de tal processo é realizada a partir do estudo dos usos das águas do Canal do Sertão em Alagoas, um canal artificial de transposição das águas do rio São Francisco que foi idealizado em meio à crise da década de 1980 e executado dentro do Estado neoliberal que emerge no Brasil na década de 1990. A hipótese que levantamos dentro deste contexto é de que a transposição das águas do rio São Francisco no semiárido alagoano é resultado da reestruturação produtiva emergente do capital-imperialista dos anos 1970, etapa que germinou novas relações sociais de produção no capitalismo, provocando a financeirização da produção, com o crescimento de mercados financeiros especulativos vocacionados à concentração e a acumulação de capitais em escala mundial. Nesse sentido, o Consenso de Washington deu capilaridade a inserção da América Latina à dinâmica mundializada de capitais, anunciando a era do mais-valor universal alçado na reprodução ampliada do capital e na produção e reprodução continuada do espaço, arranjados na derrubada das barreiras fiscais e naturais dos territórios nacionais. Este artifício lançou espaços até então ociosos dos investimentos externos diretos na dinâmica mundializada de capitais. Partindo deste argumento, compreendemos que o semiárido nordestino passou a compor o campo de mobilidade do capital internacional, o que orquestrou a apropriação privada do solo e da água com o aparato do Estado, subvertendo a natureza do Sertão seco de bem comum em valor de troca. Neste aspecto, com base no levantamento de dados oficiais e da observação direta em campo, a leitura realizada neste trabalho permite compreender a espacialização dos canais de transposição como instrumento para a reprodução ampliada e monopolização do capital. A apreciação de todo esse contexto procedeu na abordagem do Canal do Sertão como resultado da reestruturação produtiva do capital da década de 1970. Com 250 km de extensão, cortando todo o semiárido alagoano, chegando até o agreste, o Canal do Sertão, idealizado em 1989 e executado seguindo diretrizes da ECO 92, tem intensificado o processo de monopolização do território sertanejo, conjugando o semiárido alagoano à lógica mundializada de capitais.
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