Banca de DEFESA: CLÉBERTON LUIZ GOMES BARBOZA
18/02/2021 15:39
O presente trabalho tem por objetivo investigar a afirmação da vida pela arte na primeira obra de Nietzsche, O Nascimento da Tragédia (1872). Tomamos por pressuposto que a afirmação da vida já se encontra na referida obra, assim, buscamos responder o seguinte problema: por que a arte afirma a vida? Para atender esta finalidade, a estrutura do trabalho será composta em três partes. Na primeira parte, procedemos com o exame do fenômeno vida enquanto fenômeno estético, oriundo do devir, isto é, o apolíneo e o dionisíaco como impulsos artísticos da natureza; num segundo momento, analisamos a arte trágica dos gregos como afirmação da vida ante o terror do devir; por fim, pomo-nos a perscrutar o fim da arte trágica através do socratismo, como um declínio da vida. Para o desenvolvimento da pesquisa, adotamos o método estrutural, tendo em vista também que Nietzsche não é um autor sistemático, observando assim nuances e aberturas para linhas interpretativas em seus escritos. Sustentamos que vida, como fenômeno estético, é expressa por Nietzsche como impulsos artísticos da natureza, nos quais Apolo e Dionísio emergem como forças que constituem o movimento interno do devir, numa simultaneidade entre o criar e o destruir; a plasmação apolínea e o aniquilamento dionisíaco, constituindo o instante de gênese e eterna fertilidade e prazer do vir-a-ser, que constitui o fenômeno vida. O devir, no entanto, aparece ao homem como terrível e desesperador, dada a instabilidade e o sem sentido da existência, marcada pela violência e crueldade da natureza, produzindo-se e diluindo-se a cada instante. É apenas com a arte que o homem se salva dos horrores da existência, imitando os poderes artísticos da própria natureza, expressos em Apolo e Dionísio: a bela aparência apolínea do sonho transfigurada nas artes plásticas, e a embriaguez dionisíaca num misto de terror e êxtase expressos na música. O coro trágico dos gregos produzia a afirmação da vida em todas as suas vicissitudes, mesmo as mais cruéis. Uma tal afirmação da vida, no entanto, é posta em declínio pelo socratismo, cuja marca se dá pela substituição do estético pelo lógico, suprimindo o dionisíaco, e, em consequência, o apolíneo, também mortificado, uma vez que não a arte, mas a ciência passa a ser o horizonte do pensamento ocidental, petrificando-se neste modo de ser da razão. Sob um tal diagnóstico do Ocidente, Nietzsche reivindica uma existência artística, que, contra a negação do querer, pode enfim e tragicamente, dizer sim..
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