Banca de DEFESA: MARCELO FIGUEIREDO SILVA
11/12/2020 11:10
Este trabalho discute o papel do Estado brasileiro na introdução e legitimação do modelo de subcontratação da força de trabalho conhecido como terceirização. Amparado na constatação empírica do seu crescimento vigoroso nas últimas décadas, a análise desse fenômeno no setor público brasileiro parte do pressuposto de que as motivações meramente econômicas envolvidas no processo não asseguram uma satisfatória explicação sociológica. Se, no setor privado, a eficiência produtiva envolvida na alocação de serviço de terceiros, enquanto mecanismo de redução de custos, é uma justificativa plausível à luz do ciclo de negócios, no setor público, o ganho de eficiência intencionado assume significados históricos distintos por força do componente político que o atravessa. Num sentido mais amplo, são os limites do Estado de Bem Estar, como desenvolvido no segundo pós-guerra, que são postos em questão com ascensão do modelo de terceirização no setor público. Em sentido estrito, o estudo dos mecanismos de incorporação e legitimação da terceirização pelo Estado brasileiro deve buscar os componentes políticos envolvidos em nossa formação social. Assim, e uma vez que sua adoção por governos distantes ideologicamente aponta para um mesmo padrão de incorporação com viés de crescimento – constituindo uma verdadeira política de Estado –, deve-se aliar a análise das demandas políticas que acomodam a terceirização na máquina estatal com a descrição dos elementos históricos envolvidos na reprodução social e capazes de influenciar o mercado de trabalho brasileiro. Para tanto, lança-se a hipótese de que a terceirização no setor público brasileiro deve ser compreendida à luz da ascensão de uma classe média constituída à sombra do Estado. Ou seja, na ausência de uma sociedade economicamente complexa, coube ao Estado brasileiro a absorção dos elementos profissionais formados por um sistema educacional de privilégio, o que, no limite, garantia a manutenção da ordem pela construção de certa homogeneidade ideológica. Este traço de nossa história está fortemente associado aos resquícios do sistema escravista tardio que desqualificava as atividades manuais e pouco especializadas, ao tempo que contraditoriamente travava o desenvolvimento das forças de um livre mercado. As consequências sociais desse modelo de incorporação da terceirização pelo Estado brasileiro são mais representativas quando observada a dificuldade de constituição de um sentido público da ação política dado o nível de desmobilização classista e alheamento do espaço público em que é atirada essa parcela da força de trabalho.
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