Banca de DEFESA: JULIANA NASCIMENTO DE ALCANTARA
18/01/2019 08:24
Este trabalho analisa o processo de constituição subjetiva da criança com deficiência intelectual no ensino infantil. Sustenta-se no diálogo com os preceitos psicanalíticos circunscritos no âmbito freudo-lacaniano e da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Pensar o lugar da criança com deficiência na escola é emergencial, tendo em vista as dificuldades encontradas em se conceber uma ética do sujeito, tomá-lo como ser de linguagem, irremediavelmente inacabado. Os rótulos diagnósticos crescem como tentativas adoecidas de tamponar a falta. Entende-se que os diagnósticos recebidos ao longo da infância podem esvaziar o sujeito, pois lhe imbricam a história genérica da categoria à qual pertencem. Em se tratando de uma criança denominada como deficiente intelectual há uma ligação ao sintoma do “não aprender”. O estigma do déficit intelectual afasta os educadores da suposição de um sujeito. Supor um sujeito é conceber que essa criança é capaz de desejar. Essa não suposição poderia condenar a criança a um estatuto de objeto. Pelo olhar da Psicanálise, o sujeito do inconsciente se funda na fantasmática parental e a escola entra nesse jogo através na inserção na cultura. Para tanto, o caminho desse trabalho foi discutir sobre a deficiência intelectual por diferentes modelos epistemológicos, com ênfase em Lacan, que discorre sobre o processo de constituição humana. Metodologicamente as bases foram os pressupostos do estudo de caso aliado à pesquisa-intervenção, com uso da técnica de análise dos dados qualitativos da Análise Textual Discursiva (ATD). A pesquisa de campo ocorreu durante o período de maio de 2017 a agosto de 2018 numa escola pública regular do município de Aracaju-Sergipe, acompanhando uma criança de cinco anos do ensino infantil. Os recursos utilizados foram observação, entrevistas abertas e semiestruturadas, intervenção em sala e demais espaços com os alunos e momentos de diálogo com a professora. O diálogo entre as questões teóricas e os dados empíricos possibilitou a análise dos efeitos das práticas e discursos escolares sobre a constituição da criança com deficiência intelectual, desde o âmbito da relação entre os pares até a relação transferencial professor-aluno. Após as análises podem-se fazer os seguintes apontamentos: há uma centralidade do desejo pelo fio transferencial como movimentador do ato pedagógico; o desejo é fundamental na proposição de um espaço simbólico articulado ao real e ao imaginário; desejar o desejo do Outro implica o desabrochar de um espaço para construção das aprendizagens; a estruturação da singularidade da criança com deficiência intelectual só poderá acontecer a partir da suposição de um sujeito para além do diagnóstico estabelecido, compreendendo a impossibilidade da transmissão sem falta, pela necessidade de instauração do complexo de castração. Conclui-se que as inscrições primordiais parentais poderão ser reeditadas na escola pelo laço da transferência que se produz quando o desejo de saber do aluno se liga à pessoa do professor, tendo na castração não uma operação edípica, mas antes disso, uma operação de inscrição na linguagem.
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