Banca de DEFESA: RENATA SIBERIA DE OLIVEIRA
09/02/2018 18:21
Esse estudo analisa o uso que se faz da pobreza, no quadro atual das relações capitalistas, como categoria fundante e legitimadora de políticas de investimentos bancários, garantidores de lucros na esfera financeira. Estas políticas são implementadas sob exigências do mercado e ancoradas em fundamentos teórico-práticos que fortalecem uma visão de pobreza como produto de decisões individuais e que por isso é responsabilidade do indivíduo, que deve encontrar meios próprios de superação. No cenário da ampliação da atividade financeira um significativo volume de recurso tem sido destinado para atrair a maior parcela possível da classe que vive do trabalho para o empreendedorismo individual. São ações que fizeram do microcrédito uma alternativa para um seguimento da população, que diante do crescimento exponencial do desemprego, após os anos de 1990, foi absorvida pela ideologia empresarial como saída para sua reprodução. Para uma melhor compreensão dos rebatimentos sócioespaciais das políticas de microcrédito produtivo orientado, analisamos o Programa Crediamigo do Banco do Nordeste, maior expressão desta política na América Latina e no Brasil, a partir de pesquisa com trabalhadores dos mais vaiados seguimentos de atividades produtivas, na região que compreende a atuação da Unidade de Petrolina, no estado de Pernambuco. Para tanto, o método dialético nos permitiu desvendar as contradições das complexas relações que se estabelecem no movimento de produção do espaço mediado pelo capitalismo financeiro. Os esforços empreendidos pelo governo brasileiro para o fortalecimento do empreendedorismo como política social, ampliou a circulação desta forma de capital beneficiando sua expansão e reprodução no país, neste sentido, atividades antes descartadas e desinteressantes, se tornaram essenciais a sua reprodução. O aumento de agências públicas e privadas de crédito, nas duas primeiras décadas do século XXI, comprova o fôlego do Estado na reprodução desta modalidade de capital no país. A focalização no pobre se constitui a metodologia de ação para fazer chegar o endividamento à superpopulação relativa por meio do pagamento de juros e da relação de dependência que se estabelece com este tipo de política. Ao incorporar a pobreza à política de crédito informando-a como única possibilidade de sua superação, o Estado, expõe sua condição de superestrutura de comando do capital e agente de articulação global do lucro especulativo. Por sua vez, nega que o processo que transformou o homem em força de trabalho, separando-o dos meios de produção, através de variados mecanismos de expropriação intensificados no desenvolvimento do capitalismo, é em primeira instância, o responsável pela produção da riqueza e da pobreza. Em tempo, individualiza a superação da pobreza no pobre/indivíduo. É uma estratégia mercadológica de individualização das causas da pobreza que obscurece o seu sentido como produto da Lei geral da acumulação.
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