Banca de DEFESA: INGRIT MACHADO JEAMPIETRI DE PAIVA
23/01/2018 10:19
Nas últimas décadas cresceu o engajamento por Políticas de Ação Afirmativa a níveis nacionais e internacionais. Diversas especificidades foram aclamadas ampliando o leque de reivindicações, possibilitando o emergir de políticas com enfoques de gênero. O sistema educacional brasileiro como Política Pública passa a ser repensado de modo a possibilitar que estereótipos não marginalizem mulheres, homossexuais, transgêneros etc. Em 2014 em vista da aprovação do PNE (2014-2024) houve no Brasil grande discórdia. De um lado aqueles que movidos por pesquisas de gênero, movimentos feministas e LGBTs, desejavam que a educação tivesse como meta a “superação de desigualdades educacionais, com ênfase na promoção da igualdade racial, regional, de gênero e de orientação sexual”; do outro, coletivos religiosos que denominavam a inclusão desta meta como “Ideologia de Gênero”, que teria como objetivo homoerotizar as crianças, incentivar a sexualidade infantil e destruir a família natural. As pressões dos grupos religiosos conservadores surtiram efeito e ocasionaram a supressão das especificidades a serem superadas. Desde então, vários levantes conservadores contra gênero têm sido observado em nosso País. Esse processo tem sido encabeçado por especialistas do Campo Católico Conservador que usando o discurso do pânico e sob o manto de uma falseada univocidade buscam mediar as mudanças sociais, culturais e políticas, principalmente aquelas ligadas às mulheres e a minorias LGBTs. Compreender como os agentes do Campo Religioso operam as relações de forças concorrenciais e correlacionais na luta política é caminho relevante dentro das Ciências da Religião por permitir que vislumbremos seu papel nas mudanças e constâncias do mundo. Como fruto de pesquisa, essa dissertação tem como objetivo apresentar o histórico da construção do inimigo imaginário comum a ser combatido - a “ideologia de gênero” - pelo Campo Católico Conservador proporcionando um olhar crítico de como se deram as relações de forças entre o Campo Católico Conservador e avanços nos estudos e políticas que contemplam a categoria gênero. Buscando compreender este processo, utilizamos como ferramenta o método histórico-crítico e a análise sociológica do francês Pierre Bourdieu. Os levantamentos históricos estão apresentados como movimento de cruzada contra gênero que busca recuperar o território ideário tensionado pelos estudos de gênero. O primeiro capítulo traz o enfoque teórico que sustenta a dissertação, ou seja, quais foram os critérios para as demarcações das lutas e cumplicidades, e, como a luta da Igreja Católica Romana contra gênero tem sido compreendida nos estudos que contemplam gênero e religião no Brasil. O capítulo dois faz um histórico que vai das lutas feministas, a criação e desenvolvimento da categoria analítica gênero, a articulação das Políticas de Ação Afirmativa que contemplam gênero e sua repercussão nas políticas brasileiras. No terceiro capítulo o histórico se concentra nas contrarreações da ala conservadora da Igreja desde as lutas políticas, passando pela alcunha da “ideologia de gênero”, a cruzada transnacional empreendida pelo setor conservador da Igreja Católica Romana e sua reprodução discursiva no Brasil. Na análise das movimentações apresentamos como a ação prática dissimulativa e o hibridismo do habitus sociorreligioso possibilita a naturalização de esquemas de percepção e ação que escamoteiam a origem da luta e permitem cumplicidades em torno da proteção à família natural. Essa situação nos leva a compreender que os especialistas do Campo Católico Conservador buscam mediar as lutas correlacionais e concorrenciais – progresso na medida certa - a fim de manterem-se nas estruturas hegemônicas.
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