Banca de QUALIFICAÇÃO: DIEGO ARAUJO PEREIRA
21/11/2017 10:23
odos nós nos defrontamos com a experiência da dor em algum momento de nossas vidas, mais do que um “fato fisiológico” a dor é um “fato da existência”. Quando essa dor se torna ininterrupta, desestrutura nosso cotidiano, compromete nossas relações sociais, é endereçada e assim afeta os outros, ela deixa de ser uma experiência privada e torna-se pública. Na tentativa de solucionar esse problema, milhares de pessoas recorrem diariamente à ajuda médica e levam aos consultórios não somente suas queixas físicas, mas toda repercussão afetiva, social e subjetiva que um estado de adoecimento provoca, e que compõem seu estado de saúde. No Brasil, 2,5% dessas pessoas são diagnosticadas com uma patologia chamada fibromialgia. Do ponto de vista biomédico (disease), a fibromialgia é caracterizada como uma síndrome que envolve dor crônica em musculatura esquelética, que acomete diferentes regiões do corpo, estando associada à fadiga, distúrbios do sono, e sintomas psicopatológicos, como ansiedade e depressão. No entanto, os sintomas assim entendidos não produzem lesões verificáveis, nem algum substrato anatomopatológico que evidencie a doença, e dessa forma não apresentam parâmetros laboratoriais que orientem tanto o diagnóstico quantos as intervenções, obrigando os médicos a se reportarem aos parâmetros clínicos fornecidos pelo discurso dos pacientes. O que os faz depararem-se com a singularidade do sofrimento humano, e não mais com um padrão universal de funcionamento humano. Por conta dessa característica, o diagnóstico da fibromialgia tem sido considerado controverso, e seu tratamento de difícil manejo. De outro ponto de vista, daqueles que buscam uma solução aos seus mal-estares e perturbações e são diagnosticados com fibromialgia, além de conviverem com um sofrimento dilacerante, e muitas vezes incapacitante, lidam diariamente com a descrença da maioria das pessoas diante dos seus relatos de sofrimento.
É crescente a literatura que aborda o estudo desta doença. Os debates e produções envolvendo a fibromialgia do ponto de vista biomédico têm-se centrando no estabelecimento de consensos em termos de etiologia, protocolos de diagnóstico e de tratamento, e eficácia das terapias. As teorias e práticas do campo psicológico têm investigado não somente aspectos voltados às manifestações clínicas, mas à reconstituição histórica, cronológica e à integração entre acontecimentos e eclosões somáticas, com vistas à ressignificação da doença. Trabalhos importantes têm sido desenvolvidos do ponto de vista psicanalítico, procurando pensar a fibromialgia em termos de singularidade e posição subjetiva frente ao sintoma. No entanto, existe uma escassez de investigações que deem relevo à perspectiva daqueles que vivenciam em seu cotidiano esta forma de adoecimento. No presente trabalho buscamos compreender a fibromialgia, ou melhor aquilo que é designado enquanto tal pelo saber biomédico (disease), na perspectiva dos sujeitos que são diagnosticados (illness). Buscando compreender quais são os sentidos construídos a partir da experiência de adoecimento, e quais práticas de cuidado à saúde desenvolvem esses sujeitos. Será nesse sentido que se faz pertinente a abordagem socioantropológica na investigação sobre os fenômenos saúde e doença, na medida em que esse discurso dá relevo às dimensões socioculturais na construção das formas singulares de pensar e agir perante à saúde e à doença. Dessa maneira, privilegiando o diálogo com a vertente interpretativa da antropologia médica, que considera o complexo saúde-doença-cuidado como culturalmente construídos e interpretados, o presente trabalho configura-se numa pesquisa de abordagem qualitativa, que utilizando a entrevista narrativa individual como técnica de produção de dados, busca analisar as experiências de enfermidade de pessoas diagnosticadas com fibromialgia, acompanhadas em um ambulatório da cidade de Aracaju, Sergipe.
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