Banca de DEFESA: ROBERTO DOS SANTOS LACERDA
06/10/2017 16:40
As comunidades quilombolas, muito mais que espaços de agrupamento de escravizados fugitivos, se constituíram, ao longo do tempo, como territórios de resistência e preservação dos valores, saberes e práticas da cultura afro-brasileira. A partir de uma cosmovisão includente, holística e integral, o cuidado com as pessoas e o meio ambiente foi determinante para a sobrevivência física e cultural das populações afrodescendentes frente ao sistema escravocrata, e ao racismo, estruturante da sociedade brasileira, e persistente até os dias atuais. Quando pretendemos discutir territórios quilombolas e saúde aparecem, intimamente imbricados, a percepção que a construção do território produz identidades e as identidades produzem territórios, sendo este processo produto de ações coletivas e recíprocas de sujeitos sociais. A abordagem ecossistêmica em saúde humana apresenta-se como possibilidade de construção teórico-prática das relações saúde e ambiente a partir, entre outros fatores, do estilo de vida de grupos populacionais específicos. Esse estudo tem o objetivo de analisar como os saberes e práticas tradicionais de cuidado em saúde constroem territorialidades que contribuem para conservação ambiental em comunidades quilombolas. A partir do método Interacionismo Simbólico, numa abordagem qualitativa e com técnicas da Etnografia, foi realizada uma pesquisa de campo nas comunidades quilombolas Mocambo em Porto da Folha e Sítio Alto em Simão Dias. Entre os saberes e práticas que articulam saúde e meio ambiente, destacamos a utilização de plantas medicinais, as práticas de reza e benzedura, a conservação de sementes crioulas e as danças circulares samba de côco e dança de roda. Identificamos a territorialidade da resistência, a territorialidade do cuidado e a territorialidade da esperança como traços comuns às duas comunidades na conexão de saberes e práticas que articulam saúde e ambiente. Conclui-se que os princípios da abordagem ecossistêmica em saúde estão presentes nas comunidades quilombolas numa dinâmica vital integradora e complexa das relações saúde e ambiente, a qual tem contribuído para conservação ambiental e cultural dessas comunidades. As estratégias, valores e práticas encontradas que integram território, saúde e meio ambiente, apontam caminhos para a superação de problemas sanitários e ambientais que vivenciamos na atualidade. Para tanto, faz-se necessário reconhecer e valorizar a diversidade de concepções e a hierarquização de saberes promovendo a união e respeitando as diferenças, numa nova ordem, onde o cuidado é o princípio norteador das relações humanas com o meio ambiente.
SIGAA | Superintendência de Tecnologia da Informação/UFS | Telefonista/UFS (79)3194-6600 | Copyright © 2009-2024 - UFRN v3.5.16 -r19110-7eaa891a10