Banca de DEFESA: LUIZ PAULO SANTOS BEZERRA
28/07/2017 11:33
Em 1946, entre os municípios de Riachuelo e Laranjeiras, em Sergipe, mais precisamente no quilômetro 458 da BR 101, ocorre um grave acidente de trem, que entra para a história como o maior desastre ferroviário do Brasil. Nele, conhecido pelas vítimas como “o trem suburbano”, várias pessoas de diferentes ocupações (comerciante, feirante, pedreiro, pescador entre outras) e de várias regiões do interior sergipano viajavam para fins comerciais. Dezenas de mortos e vários feridos foram encontrados no local do desastre, e os sobreviventes relataram o acontecimento num processo-crime de aproximadamente 400 laudas. O estudo que pretendemos apresentar neste trabalho torna-se importante, pois ainda não existem relatos históricos de pesquisadores que analisaram o desastre ferroviário. O que transforma o nosso trabalho numa pesquisa inédita, tendo como parâmetro a inexistência de materiais completos no âmbito nacional e regional/local, restando-nos referências incompletas. O nosso principal objetivo, portanto, permeia reconstituir uma trama judiciária que envolveu o pavoroso acidente. Buscaremos analisar e perseguir todos os personagens que estavam envolvidos direta e indiretamente no episódio. Tentaremos dar visibilidade a sujeitos esquecidos, as teorias raciais que cercaram o período, a memórias e cenas cotidianas de um Sergipe pós-guerra. Utilizamos para a escrita, fontes judiciárias, como o processo crime ao qual se passa toda a trama e de onde retiramos os personagens que serão citados no decorrer dos capítulos. Já os jornais se tornarão uma fonte muito preciosa, pois saberemos se a notícia do desastre percorreu o Brasil e o mundo. Como forte meio de comunicação, as notas de jornais nos dará, até certa medida, uma visão de como as matérias foram divulgadas e de que forma os círculos jornalísticos vislumbraram a tragédia. As memórias e crônicas, não muito menos importante, contribuirão como um material revelador do cotidiano e cenário ao qual estamos analisando. E, por fim, a vox populi, o cordel do alagoano Rodolfo Coelho Cavalcante que retratou a tragédia em verso e prosa. O método que utilizamos para a catalogação dos dados foi o mesmo revelado por Carlo Ginzburg em diversas de suas obras, o paradigma indiciário, tendo em vista a nossa busca por pistas que revelem a culpabilidade concreta da tragédia e da realidade ideológica complexa das décadas de 1930 e 1940, em que ideias raciais solidificadas estavam em circulação no mundo e no Brasil.
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