Banca de DEFESA: MARIA JOSE GUIMARAES VIEIRA
02/05/2017 10:03
O corpo tem sido objeto de investigação de diversas áreas do conhecimento, que vêm considerando a diversidade de abordagens e matrizes científicas sobre as ações concretas humanas manifestas em sua corporeidade. Se o fundamento da existência está nas interações corpóreas entre os homens, busca-se compreender as origens das percepções sobre o corpo do indivíduo e do outro enquanto alteridade. Na Educação Básica, todavia, o corpo humano é apresentado como um conjunto de sistemas e órgãos que se relacionam de maneira anatomofisiológica, principalmente no Ensino de Ciências, disciplina que enfaticamente estuda o corpo humano, mas não trabalha a dimensão corporal como essência de um ser/estar no mundo. Em comunidades e escolas indígenas, os professores deparam-se com a dificuldade de articular os conhecimentos científicos com os tradicionais da comunidade, que compõem a cultura e fortalecem a identidade daquele povo. Diante desses condicionantes, justifica-se portanto esse estudo que objetiva analisar as concepções sobre corpo manifestadas pelos alunos do 8º ano do Ensino Fundamental da escola indígena Xokó estabelecendo relações com o Ensino de Ciências. Trata-se de um estudo de abordagem qualitativa, utilizando-se da pesquisa documental e do estudo de caso. Como procedimentos de coleta de dados recorreu-se à entrevista semiestruturada, ao questionário e à evocação livre através de desenho e da expressão textual. Para análise dos dados obtidos será utilizada a análise textual discursiva, na perspectiva de Moraes e Galiazzi (2011). Na busca por compreender o contexto, utilizou-se como aporte teórico Hall (2005); Le Breton (2007); Grando (2009); Fleuri (2012); Silva (2000), entre outros. Os resultados apontam que nos desenhos e discursos dos alunos o corpo é percebido em sua dimensão vivida, como extensão de si mesmos para o mundo, principalmente quanto à vivência de práticas corporais próprias da comunidade indígena ainda reveladoras da coletividade tribal (correr, nadar, brincar, dançar), porém com significados já distintos dos pressupostos originais e antepassados. Ainda que os alunos não possuam uma compreensão holística do corpo, percebendo-o em toda a sua complexidade concreta, histórico-cultural e social, as suas falas demonstram que reconhecem o corpo como o instrumento vivencial de socialização e experimentação do mundo. Em contrapartida, dada a influência do currículo escolar, notadamente no Ensino de Ciências, na formação dos alunos, o conteúdo ‘corpo’ é apresentado a partir de uma visão centrada apenas nos aspectos anatomofisiológico, colaborando para que os alunos indígenas, sujeitos desse estudo, construíssem uma concepção híbrida que mescla esse corpo vivido a uma concepção fragmentada e reducionista marcando, por conseguinte, os modos de ser/estar dos adolescentes Xokó.
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