Banca de DEFESA: AGUIMARIO PIMENTEL SILVA
27/05/2016 14:08
O trabalho consiste numa abordagem discursiva do periódico O Jornal das Senhoras, que circulou, na cidade do Rio de Janeiro, entre os anos de 1852 e 1855, tendo sido o primeiro fundado na Corte por uma mulher, a argentina Joanna Paula Manso de Noronha. O periódico, semanal, tinha a pretensão declarada de contribuir para a emancipação moral da mulher e sua educação/ilustração. Nosso objetivo é identificar, no discurso veiculado pelo jornal, pistas de ruptura e de continuidade de sentidos em relação à temática da educação feminina. Tal trabalho analítico, de cunho qualitativo, é realizado a partir do arcabouço teórico-metodológico da Análise de Discurso (AD) de linha francesa, com algumas contribuições das teorias de Michel Foucault e de Mikhail Bakhtin acerca do discurso, tendo em vista a sua pertinência para a consecução do objetivo da pesquisa. Assim, empreendemos primeiramente uma mirada sobre os construtos teóricos da AD que são fundamentais para o trabalho. Destacamos os processos de constituição de sentidos, através da exploração dos conceitos centrais de paráfrase e de polissemia. Além disso, realizamos uma investigação acerca da situação da mulher, no Brasil patriarcal oitocentista, atribuindo ênfase à questão da sua educação: nesta etapa, a proposta é possibilitar uma compreensão precisa das condições de produção nas quais se deu a formulação/circulação dos discursos do Jornal das Senhoras. Evidenciamos, também, as quatro principais representações que estavam ligadas à figura da mulher, no período: filha, esposa, mãe e dona de casa. Partindo do contexto exposto, fazemos então uma investigação em torno do Jornal das Senhoras, procurando caracterizá-lo enquanto periódico e situando-o no âmbito da imprensa feminina brasileira do século XIX. Dentre as 209 edições do periódico, foram localizados apenas 20 textos que versam sobre a educação feminina, no que se refere à sua relação com as quatro representações supracitadas. Desses textos, foram selecionados os segmentos discursivos para as análises. Os resultados alcançados na investigação são discutidos a partir de uma aproximação com as considerações em torno da noção de gênero (que perpassa todo o trabalho), como forma de se compreender o processo discursivo subjacente aos textos do Jornal das Senhoras. Como conclusão, indicamos que, embora os textos do periódico declarem contribuir para a mudança de sentidos em torno da educação feminina, retomam, de maneira significativa, discursos institucionais (especialmente o da religião) que, no período, ratificavam a ideia de superioridade do elemento masculino sobre o feminino. Apesar da tensão entre novos e velhos sentidos, o discurso perpassado pelo Jornal das Senhoras tende a uma configuração muito mais parafrástica, de retomada e reformulação de sentidos preexistentes, do que polissêmica. São discursos que tendem para o mesmo, para a reprodução e manutenção das condições e relações sociais existentes, o que quebra o suposto caráter progressista muitas vezes atribuído ao periódico.
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