Banca de QUALIFICAÇÃO: ELINE ALMEIDA SANTOS
18/11/2015 08:23
As populações tradicionais de Sergipe enfrentam problemas socioeconômicos, ambientais e culturais, reflexo da intensa exploração dos recursos naturais, monocultura, especulação imobiliária, desmatamento de campos nativos e cercamento de terras. Envoltas nesse cenário, as mulheres extrativistas testemunham o esfacelamento da atividade e do seu modo de vida. Em Indiaroba, recorte espacial da pesquisa, o extrativismo da mangaba (Hancornia speciosa Gomes), praticado predominantemente por mulher, e a pesca constituem como atividades relevantes para as famílias, uma vez que manifestam-se como principais fontes de renda. O estudo em tela apresenta como objetivo central a analisar da apropriação biogeográfica dos recursos ambientais a partir do trabalho feminino, destacando o processo de organização das mulheres, formas de resistências e representatividade nas decisões em defesa dos direitos e fortalecimento do grupo social. Território, paisagem, gênero e trabalho aparecem como categorias norteadoras e fundantes da investigação, em razão de propiciar a compreensão do espaço a partir das relações de poder estabelecidas na apropriação dos recursos ambientais na área de estudo. A abordagem sistêmica e complexa entrelaçam a base científica do estudo em evidência, estando tecida a partir da Geoecologia das paisagens com a aplicação dos Indicadores de Resiliência em SEPLS e do estudo das interseccionalidades através da metodologia dos Mapas de Relieves de la Experiencia. Os procedimentos metodológicos englobam observação, registro fotográfico, entrevistas e oficinas. A relevância do estudo da espacialidade de gênero numa perspectiva geográfica está na análise e compreensão da estruturação do trabalho de homens e mulheres nas atividades de base artesanal; da organização social, política e econômica das mulheres; das resistências e dos conflitos diante da concepção de que os recursos ambientais estão se tornando escassos. Além de ressaltar grupos que são excluídos do discurso geográfico. Como resultados parciais, têm-se que juntamente com o extrativismo, as mulheres desempenham outras atividades (e prestam serviços domésticos nas casas dos veranistas, desenvolvem trabalhos temporários voltados ao turismo, vendem doces nas proximidades do cais) que podem ser definidas como estratégias para a manutenção do provimento familiar no período de entressafra. O acesso a mangabeiras ocorre em áreas livres (terras devolutas ou estatais), em área privadas de forma restrita e em áreas privadas livres (sítios abandonados). Mas, também é realizado em áreas proibidas, sofrendo ameaças por parte dos proprietários e caseiros. As mulheres extrativistas enfrentam uma dupla invisibilidade: face ao ambiente (ser tradicional) e face ao gênero (ser mulher). Porém, essa mulher se faz rebelde ao construir uma identidade específica na sua territorialidade; ao se afirmar no território se fortalece e disputa o poder que lhes é negado.
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