Banca de QUALIFICAÇÃO: MARCELA PRADO MENDONÇA
26/09/2015 14:50
Este estudo tem como objetivo analisar a experiência de “subversão” do jornalismo proposta e empreendida pelo coletivo Mídia Ninja, durante as manifestações de protesto realizadas no Brasil, em 2013, conhecidas como “jornadas de junho”. Segundo seus idealizadores, o Mídia Ninja surge em resposta à “crise existencial” do jornalismo brasileiro, com a proposta de subverter o modelo comercial e vertical dominante nessa prática profissional. Nessa direção, realiza cobertura telejornalística das manifestações utilizando câmeras de celulares, ipads, tablets e notebooks pessoais conectados à Internet. Todo o conteúdo produzido foi transmitido ao vivo por sites de redes sociais, sobretudo o Twitcasting e o Youtube, com apoio de moradores dos locais onde aconteciam as manifestações, que eram solicitados a compartilhar o sinal de internet com os integrantes do coletivo. Os dados até agora obtidos por meio de documentos e vídeos disponíveis indicam que o Mídia Ninja realizou uma contracomunicação em rede, que despertou intenso debate na mídia comercial. A análise tem como base conceitual a noção de “estratégias de subversão”, de Pierre Bourdieu, aplicada ao jornalismo como campo profissional e como um campo de disputas discursivas, com função estratégica no desenvolvimento do capitalismo. Entende-se essa “subversão” ao mesmo tempo como um fim e como processo operacionalizado pelos “repertórios de ação” do coletivo Mídia Ninja, que incluem apropriações das tecnologias digitais, novas formas de recrutamento e de organização do trabalho jornalístico, bem como inovação nas formas de financiamento da equipe e suas operações. Ao romper com as “rotinas produtivas”, os referenciais de objetividade e de verdade, as técnicas de edição, as relações funcionais hierarquizadas, a comunicação unidirecional e a lógica comercial do jornalismo, o Mídia Ninja busca subverter o próprio ethos do campo. Além da revisão de literatura sobre os conceitos-chave para a compreensão deste complexo e controverso objeto, a pesquisa adotará procedimentos metodológicos da análise documental (com base em registros sobre a trajetória do Mídia Ninja até 2014), da análise de conteúdo (nos vídeos remanescentes das transmissões em streaming durante as “jornadas de junho”) e da etnografia (entrevistas em profundidade com as lideranças e praticantes do coletivo).
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