Banca de DEFESA: JOSEFA LUSITÂNIA DE JESUS BORGES
24/02/2014 15:15
O mundo do trabalho, assim como o mundo da formação, tem especificidades diferenciadas que são tanto paradoxais como complementares e influenciam o processo de socialização. Em vista disso, este estudo objetivou analisar as representações e experiências de médicos que atuam nas equipes de Saúde da Família no Brasil/Aracaju e em Portugal. Especial destaque foi atribuído à construção de suas trajetórias e identidades diante dos novos requisitos de qualificação e de demandas por novas competências. Dada à natureza do objeto, adotou-se a abordagem qualitativa com inspiração histórico-dialética, considerando-se a relação macro-micro, coletivo-individual, com seus conflitos e contradições no estudo de multicasos. Compreende-se que as formas de sociabilidades diferenciam-se e são marcadas por especificidade e contradições; nessa direção, os sujeitos, como atores individuais e coletivos inseridos em determinados contextos organizacionais e institucionais, tanto criam relações sociais como também são produto destas. Para tanto utilizaram-se diferentes fontes de informação. A investigação bibliográfica discutiu os aportes metodológicos, conceituais da política de qualificação e do trabalho; na análise documental foram eleitos e codificados os discursos referentes ao contexto de trabalho dos médicos da ESF e da USF, a sua estrutura organizacional e a relação com os requisitos de qualificação presentes nos documentos nas duas realidades estudadas. A observação sistemática foi realizada no desenvolvimento dos cursos de qualificação ofertados para os profissionais médicos que exercem suas atividades na ESF, no Brasil/Aracaju, e na USF/Portugal, através do Centro de Educação Permanente em Saúde (CEPS) e da Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN). Foi privilegiada a entrevista semiestruturada para captar as representações sociais de 24 médicos participantes da pesquisa. Os resultados demonstram o distanciamento e a fragilidade do modelo da formação inicial dos médicos, baseado na racionalidade técnica, descontextualizada para atender as demandas de trabalho dos profissionais que atuam sob o prisma da Atenção Primária à Saúde. A passagem de uma representação tecnicista do Médico de Família para uma representação mais interdisciplinar, com forte ênfase no social, é uma tendência observada nas duas realidades. Nos dois contextos estudados, tal dimensão mostra-se marcada por conflitos, processo de negação-afirmação frente ao saber-poder do médico. Esse profissional constrói-se enquanto um sujeito social e singular, na relação com os colegas e com os usuários. Portanto, não se pode falar da identidade médica, sem considerar sentido e o significado que o seu contexto de ação imprime na sua conformação. Para os sujeitos da pesquisa, o trabalho significa um locus privilegiado de produção social de identidades. Ao mesmo tempo, no caso do Brasil/Sergipe/Aracaju, observa-se a necessidade de uma aproximação mais efetiva dos processos de qualificação ofertados pelos organismos oficiais. Percebeu-se a necessidade de espaço de negociação efetiva entre gestores e profissionais das equipes da ESF. A política de educação permanente desenvolvida em nível local mostra-se fragmentada, direcionada para adequação ou consecução de uma nova demanda no interior do processo de trabalho, ou seja, para o trabalho prescrito. Todavia, conclui-se que, mesmo diante das dificuldades, tal política vem produzindo mudanças parciais nas práticas, nas relações sociais, nos processos de socialização desses sujeitos ainda que esses não tenham consciência disso.
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